Vista do saguão vazio do Hotel Alpino, em Buenos Aires, em 15 de junho de 2021. (Nina Negron/AFP Photo)
AFP
Publicado em 1 de julho de 2021 às 08h30.
Última atualização em 1 de julho de 2021 às 11h31.
Quando a quarentena devido à covid-19 começou em Buenos Aires, Daniel Tenenbaum se instalou em seu hotel vazio para protegê-lo de qualquer possível invasão. Outros hoteleiros fecharam janelas e portas com tijolos. Quinze meses depois, com as fronteiras ainda fechadas, todos sofrem com a falta de hóspedes.
Apesar da reabertura entre outubro e dezembro, os proprietários de hotéis em Buenos Aires não percebem grandes mudanças em sua nova realidade de quartos vazios, corredores com luzes apagadas e silêncio no saguão.
“A situação da hotelaria na Argentina, e principalmente em Buenos Aires, é desastrosa. São 15 meses sem funcionar, com as empresas totalmente fechadas”, disse Gabriela Akrabian, presidente da Câmara de Hotéis e proprietária do Wilton Hotel, com 97 quartos, no tradicional bairro da Recoleta.
O setor aparece como o mais atingido na Argentina. No primeiro trimestre de 2021 a economia cresceu 2,5%, mas os hotéis e restaurantes registram queda de 35,5%.
Em Buenos Aires, cidade de três milhões de habitantes conhecida mundialmente por sua intensa vida noturna e atividade cultural, existem cerca de 900 estabelecimentos hoteleiros, dos quais 70% estão fechados, segundo a Associação Hoteleira, que estima que sua atividade dependa fundamentalmente de turistas estrangeiros e eventos.
“Buenos Aires era o maior centro de convenções da América Latina”, diz Akrabian, lembrando os múltiplos congressos médicos que a cidade sediou, assim como grandes eventos culturais como a Feira do Livro, cancelada por dois anos consecutivos, ou o festival de música Lollapalooza.
Os hotéis em operação têm ocupação média de 10% e grande parte do quadro de funcionários está suspenso com pagamento parcial dos salários.
Proprietário do Hotel Alpino, inaugurado por seu pai em 1979 no bairro de Palermo, Tenenbaum está com apenas um funcionário. Dos 35 quartos, apenas um está ocupado.
Devido aos protocolos sanitários, "o papel do carregador deixou de fazer sentido, pois os hóspedes não podem ser acompanhados com as malas. Quando alguém está hospedado, ninguém pode entrar no quarto, então o trabalho das camareiras diminuiu incrivelmente", refere Tenenbaum.
Ainda mais desolado está San Telmo, o antigo bairro colonial da cidade, onde desde 2012 a família Pellegrino mantém o Kenton Palace Hotel, com 82 quartos.
“Nos arredores há muitos negócios fechados. Isso tem sido muito difícil porque não só nós, mas também os empregos indiretos tem tido dificuldades: o do verdureiro, o de produtos de limpeza, o do quiosque de jornal, o motorista ...”, lista Mabel Carolina Vega, vice-presidente do Kenton Palace.
Mas apesar de tudo, muitos decidiram manter seus hotéis abertos. Para isso contaram com o apoio do Estado, com ajuda no pagamento de salários e isenções de impostos, e com disposição para superar o momento adverso.
Antes da pandemia, que na Argentina já causou mais de 90.000 mortes, os donos do Kenton Palace planejavam construir outro hotel em Bariloche.
“Foi isso que nos ajudou, porque o dinheiro economizado (para o novo hotel) foi usado para sustentar nosso pessoal”, disse Vega. Eles também receberam apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento e agora um empréstimo do Banco Nación, estatal.
“Os hoteleiros pensam a longo prazo e nós temos a fantasia, não sei se é real ou não, de que vamos sair dessa”, diz Tenenbaum.
Akrabian também pensa assim. “A hotelaria era uma atividade que estava crescendo, que crescia, que funcionava bem. Fazia muitas contribuições, pagava muitos impostos e quando acabar vai voltar, vai renascer”, diz.
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