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Herdeiros judeus processam Guggenheim por Picasso vendido para fugir dos nazistas

Os herdeiros dos Adler afirmam que são os proprietários legítimos de um óleo sobre tela de Picasso com valor entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões

Guggenheim de Nova York. (AFP/AFP)

Guggenheim de Nova York. (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 31 de janeiro de 2023 às 09h30.

Quando Karl e Rosi Adler fugiram dos nazistas, em 1938, venderam um quadro de Picasso para financiar a fuga. Agora, seus descendentes querem recuperá-lo com um processo contra o Museu Guggenheim de Nova York, onde a obra está exposta desde 1978.

Os herdeiros dos Adler, que eram judeus alemães, afirmam que são os proprietários legítimos de um óleo sobre tela de Picasso de 1904 que mostra uma mulher passando roupa, e estimam que seu valor oscile entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões. O Guggenheim chamou o processo de "infundado", e o caso parece caminhar para um julgamento civil.

A queixa, apresentada em um tribunal de Manhattan no último dia 20, alega que Karl Adler comprou o quadro em 1916 do judeu Heinrich Thannhauser, dono de uma galeria de arte em Munique. Naquela época, Karl, que dirigia um grande curtume, e Rosi levavam "uma vida próspera" em Baden-Baden, sudoeste da Alemanha.

Depois que os nazistas chegaram ao poder, em 1933, o casal foi perseguido e perdeu seu negócio e seus ativos financeiros. Eles fugiram da Alemanha em junho de 1938 e viveram na Holanda, França e Suíça, enquanto aguardavam vistos permanentes para a Argentina.

A fim de obter os vistos de curta duração para os países europeus, os Adlers venderam o quadro em outubro de 1938 para o filho de Thannhauser, Justin, que havia trocado a Alemanha por Paris. Eles receberam o equivalente hoje a US$ 32 mil pelo quadro, nove vezes menos do que o valor no qual ele havia sido avaliado seis anos antes.

O quadro reivindicado pelos herdeiros está exposto no Guggenheim de Nova York desde o fim dos anos 1970. (AFP/AFP)

Os autores do processo afirmam que isso mostra que o quadro foi vendido sob coação. "Thannhauser estava bastante ciente da situação difícil de Adler e sua família, e de que, se não fosse pela perseguição nazista, Adler nunca teria vendido a pintura por aquele preço."

Após a morte de Thannhauser, sua coleção foi doada ao Guggenheim. O museu assinala que o processo "ignora de forma surpreendente" que a instituição entrou em contato com o filho dos Adler antes de obter a propriedade. "(Ele) não mostrou nenhuma preocupação com o quadro ou com a sua venda a Justin Thannhauser", ressalta o comunicado.

Em 2014, Thomas Bennigson, neto de outro filho dos Adler, tomou conhecimento de que sua avó pode ter sido dona do quadro. Seus advogados mantiveram correspondência com o Guggenheim durante anos antes de exigirem a devolução da obra, em junho de 2021, segundo a ação.

O processo de Bennigson, no qual figuram como codemandantes parentes distantes e organizações judaicas e sem fins lucrativos, foi movido sob o amparo da Lei de Recuperação de Arte Expropriada do Holocausto, que oferece às vítimas da perseguição nazista e a seus herdeiros a oportunidade de recuperar obras de arte confiscadas pelos nazistas.

O Guggenheim ressaltou que leva as reivindicações de restituição "extremamente a sério", mas insistiu em que é "o proprietário legítimo". Segundo o museu, a venda de Adler a Thannhauser "foi uma transação justa entre partes com uma relação longa e contínua," e ocorreu quando os dois estavam "fora da Alemanha nazista".

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