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Há 50 anos, Ruth Rocha dedica-se a escrever livros para crianças

Veja a entrevista com a autora de clássicos como Marcelo, Marmelo, Martelo e O Reizinho Mandão

Ruth Rocha: com obras adotadas por escolas ao longo de décadas, escritora ajudou na formação de milhares de crianças (Facebook/Divulgação)

Ruth Rocha: com obras adotadas por escolas ao longo de décadas, escritora ajudou na formação de milhares de crianças (Facebook/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de abril de 2019 às 11h25.

Última atualização em 13 de abril de 2019 às 12h10.

Ela faz ginástica e RPG para manter a saúde; recorre a audiolivros em dias em que a visão está mais comprometida; e tem, ainda hoje, a folha em branco como seu maior desafio. Falamos de Ruth Rocha, consagrada escritora de livros infantojuvenis que, em 2019, completa 50 anos de carreira. A autora de clássicos como Marcelo, Marmelo, Martelo e O Reizinho Mandão recebeu o jornal O Estado de S. Paulo para uma entrevista exclusiva em sua casa, em São Paulo.

Socióloga de formação, Ruth Rocha trabalhou como orientadora educacional no Colégio Rio Branco, em São Paulo. Mas foi na revista Recreio que nasceu a escritora: sua amiga Sonia Robatto, que à época editava a publicação, em tom de brincadeira, a trancou em uma sala e disse que só a libertaria de lá caso Ruth escrevesse uma história. Assim surgiu, em 1969, Romeu e Julieta, um conto sobre duas borboletas de cores diferentes, que juntas enfrentam o preconceito. A partir daí, o céu virou o limite - já são 212 livros publicados e vendas na casa dos milhões de exemplares, no Brasil e no exterior.

Com obras adotadas por escolas ao longo de décadas, Ruth Rocha ajudou na formação de milhares de crianças. "Sinto a responsabilidade, é claro, mas eu acho que sempre escrevi coisas positivas e importantes. Eu falo sobre justiça, verdade, amizade, sustentabilidade, direitos humanos. Eu condeno o autoritarismo", diz a escritora, oito vezes vencedora do Prêmio Jabuti e membro da Academia Paulista de Letras. Já lançou livros na ONU e no Salão Negro do Congresso Nacional.

De fato, para ela, dedicar-se a livros infantojuvenis nunca foi impeditivo para tratar de temas sérios. Ruth Rocha escreveu sátiras à ditadura militar, em meio à censura e à perseguição a opositores dos anos de chumbo. "Fazer isso me deixava tensa, claro, eu tinha um medo danado. Mas tinha de fazer."

Uma das críticas ao regime é o livro O Reizinho Mandão, incluído na lista de honra do prêmio internacional Hans Christian Andersen. A história traz um líder que mandava todo mundo calar a boca; o povo, de tão calado, esqueceu como falar. A escritora conta um episódio que viveu em uma escola, quando comentava sobre a obra com crianças.

"Esse é o presidente?", perguntou um menino.

"É, digamos que pode ser um pai, um irmão mandão...", respondi, evasiva, pois estávamos no auge da ditadura.

"Mas esse é o presidente", insistiu a criança.

"É..."

"Você não tem medo da polícia, não?"

Hoje, Ruth ri da passagem, mas lembra-se de que tinha medo, de fato, de retaliações do governo. "Não viram o que eu estava dizendo. Na verdade, eles não olharam história infantil, só vigiavam a música popular."

Outro sucesso da autora - o maior em termos de vendas, com mais de 20 milhões de exemplares comercializados até hoje - é Marcelo, Marmelo, Martelo. Já foi adaptado para o teatro e será transformado em série pela produtora Coiote, mas não é o preferido de sua criadora. "Na verdade, não sei dizer de qual eu gosto mais. Vários fizeram época."

O que Ruth Rocha diria a pais que querem incentivar filhos a ler? "Leiam. Comprem livros, contem histórias. Criança gosta de novidade, de aprender", afirma. A escritora gosta da liberdade com a qual as crianças são criadas hoje em dia - "tudo bem que, às vezes, extrapola", diz, mas, para ela, isso ainda é melhor do que o autoritarismo de antigamente.

Ruth Rocha gosta de ler poesias de Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes e Cecília Meirelles, mas também se dedica a best-sellers, como Sapiens e Homo Deus, duas publicações de Yuval Harari. "Quem não lê, não escreve", diz. Aos 88 anos, não pensa, nem de longe, em parar de fazer o que ama: produzir literatura infantojuvenil. "É quase como parar de viver!"

Pouco afeita ao computador, está escrevendo, à mão, um novo livro, o Almanaque do Marcelo, com piadas, historinhas e curiosidades. O 'novo filho' deve ser lançado até o final do ano, para sorte das crianças - e dos adultos também.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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