Futebol: atualmente são cerca de 450 sites de apostas de fora do país que atuam no Brasil (Henry Romero/Reuters)
Matheus Doliveira
Publicado em 18 de junho de 2021 às 13h22.
Última atualização em 18 de junho de 2021 às 16h52.
O patrocínio de sites de casas de apostas no futebol brasileiro virou uma realidade. Só nesta última semana, Athletico-PR, Palmeiras e Internacional anunciaram novas parcerias. Com isso, 17 dos 20 clubes da elite possuem parceria coma indústria deste segmento.
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“Mais um importante player do mercado se agrega ao Clube para reforçar a política de grandes patrocinadores que estarão estampados em nosso uniforme, gerando receita e benefícios aos torcedores e associados do Internacional”, afirma Jorge Avancini, Vice-Presidente de Marketing do Sport Club Internacional, que fechou hoje parceria com a Betsul para a parte traseira do calção.
"Enxergamos que se trata de uma expansão nacional e vemos um futuro promissor para esse mercado. É preciso lembrar que se trata de algo ainda novo no Brasil, e que a tendência é de consolidação e popularização a partir do momento em que as práticas estiverem reguladas", aponta Hans Schleier, diretor de marketing da Casa de Apostas, que está no máster na camisa do Vitória e do Bahia, atual campeão da Copa do Nordeste.
Um dos percursores entre os clubes de futebol com parcerias de sites de apostas, o Fortaleza entende que esse tipo de parceria é fundamental para os cofres dos clubes, mas pode ir além.
"Entraram em definitivo no futebol brasileiro e representam um setor importante na receita dos clubes quando se trata de patrocínios nas camisas. Também tem um vetor de engajamento de ações que, se bem aproveitado, pode capitalizar novas variantes", analisa o presidente Marcelo Paz.
Dafabet (América-MG, Palmeiras e Santos)
Casa de Apostas (Bahia)
Betano (Atlético-MG)
Betmotion (Atlhetico PR)
Betsul (Ceará, Chapecoense, Fortaleza, Grêmio, Internacional e São Paulo)
NetBet (Red Bull Bragantino)
Sportsbet.io (Flamengo)
Betano (Fluminense)
Galera.bet (Corinthians e Sport)
Atualmente são cerca de 450 sites de apostas de fora do país que atuam no Brasil sem nenhum tipo de tributação. Para controlar isso, em dezembro de 2018, o Governo Federal sancionou a Lei 13.756/2018, autorizando o Ministério da Fazenda a criar regras para o licenciamento da exploração de apostas esportivas de quota fixa no Brasil.
De acordo com o portal do próprio Governo, a modalidade seria um serviço público exclusivo da União, cuja exploração comercial ocorreria em todo o território nacional, em quaisquer canais de distribuição comercial, físicos e também em meios virtuais.
"Podemos esperar deste setor associações com grupos de mídia que tenham o esporte como ativo. Entramos em uma época em que a estatística virou entretenimento. Há uma geração que consome futebol através dos games e jogos e que lida intensamente com consumo de dados. Essas parcerias certamente vão gerar muito mais receitas a esses grupos de mídia”, analisa Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, e sócio da 14, agência de conteúdo estratégico. Recentemente, ele lançou o livro 'Inovação é o Novo Marketing', que aborda o tema.
Um dos pontos que os executivos deste mercado de sites de casas de apostas batem na tecla é que, quando acontecer a regulamentação, ela seja parecida com regulamentações de mercados já maduros como Dinamarca e Reino Unido, que são um equilíbrio na base do cálculo para a cobrança desses impostos e a criminalização no funcionamento das casas de apostas que não tiveram a licença.
"Acredito que a tendência é, com a regulamentação, as empresas de apostas migrarem para propriedades de uniformes com mais visibilidade e aumentarem seus aportes em patrocínios. Os números de valores de apostas já são conhecidos, é uma grande tendência que as marcas abracem o futebol e também outros esportes. Agora, o grande negócio é quem vai conseguir se diferenciar e criar ativações e ações que extrapolem a exposição de marca de forma estática", alerta Renê Salviano, ex-diretor comercial e de mkt do Cruzeiro, e que recentemente criou sua própria empresa, a Heatmap, com a missão de conectar empresas e agências publicitárias com a indústria do esporte e entretenimento.
A previsão aqui no Brasil era que essa legislação entrasse em vigor em 2019, foi postergada para 2020 e, agora, estamos com expectativa que aconteça tão logo a pandemia pelo Covid-19 seja superada.
Para o advogado de direito desportivo Eduardo Carlezzo, especialista neste nicho, essa expansão de patrocínios do mercado de apostas jáera esperado. "Ainda que seja uma expansão esperada, não deixa de surpreender, pois ainda não temos um mercado regulado para apostas esportivas no Brasil, coisa que o governo federal já deveria ter colocado em prática desde 2019, porém segue patinando. Quando finalmente o mercado brasileiro tiver lançado as regras para a concessão dos serviços de apostas, teremos os grandes operadores internacionais se instalando no país e a partir daí o montante investido em patrocínio esportivo deve aumentar consideravelmente".
Já Pedro Trengrouse, professor em gestão esportiva na FGV e também especialista neste mercado, o Brasil segue a prática que já é adotada em países como a Inglaterra.
"Sites de apostas e clubes de futebol vem se aproximando no mundo inteiro, e não é diferente no Brasil. Na Premier League, oito clubes têm sites de apostas em suas camisas e 17 têm parceiros de apostas, que anunciam em torno do campo, no kit de treinamento e nas redes sociais dos clubes".