O escritor François Cavanna em sua residência, em 2005: Cavanna tinha sido internado para se submenter a uma operação por uma fratura de fêmur (Francois Guillot/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2014 às 12h47.
Paris - François Cavanna, escritor, jornalista e fundador das revistas satíricas francesas Hara Kiri e Charlie Hebdo, morreu na noite de quarta-feira nos arredores de Paris aos 90 anos, informaram nesta quinta-feira pessoas próximas.
A morte aconteceu no hospital Henri-Mondor de Créteil, onde Cavanna tinha sido internado para se submenter a uma operação por uma fratura de fêmur, que se agravou com complicações pulmonares.
O jornalista e escritor, nasceu em Paris em 1923, filho de um italiano e uma francesa e chegou a se transformar em uma das maiores referências da imprensa mais mordaz.
Estudante aplicado e amante da língua francesa, com 20 anos foi recrutado à força pelas tropas alemãs nazistas que tinham invadido a França e enviado a Berlim, onde permaneceu durante dois anos e meio.
Aquele episódio de sua vida ficou refletido em seu romance "Les Russkoffs", agraciado com o Prêmio Interallié em 1979 e um de seus títulos mais aclamados, como "Les Ritals" e "Lune de miel".
Apesar de ter sido um popular escritor com dezenas de títulos publicados, sua contribuição mais aplaudida no universo das letras foi a fundação das publicações satíricas de referência: Hara Kiri e Charlie Hebdo.
Em 1960, junto a Georges Bernier "Choron", criou a primeira, uma revista mensal satírica que contava com desenhistas como Topor, Cabu e Wolinski e que atacava o Exército, a Polícia e as religiões.
A revista com espírito dadaísta e humor obscuro, recebeu esse título porque Cavanna considerava que fazer a "Hara Kiri" era "o cúmulo da estupidez", supôs uma revolução na paisagem francesa dos meios de comunicação.
Após o desaparecimento em 1981 de sua revista, à qual não faltaram processos judiciais por ser "perigosa para a juventude", por exemplo, Cavanna voltou à ativa.
Em 1992, o escritor fundou a revista "Charlie Hebdo", que ainda hoje mantém o espírito direto, ousado e irreverente de sua predecessora.
Essa revista, que nos últimos anos foi objeto de ataques islamitas por fazer caricatura do profeta Maomé, é dirigida atualmente pelo desenhista Charb, discípulo de Cavanna, que lembrou hoje uma das principais frases de seu fundador. "Nada prova que sou mortal até que eu morra".
Cavanna, que passou seus últimos anos lutando contra o Parkinson, era também um fervente adversário das drogas desde que perdeu uma filha por overdose aos 18 anos.
A morte de uma das referências da caricatura francesa coincide com o desenvolvimento na França da 41ª edição do Festival Internacional de História em Quadrinhos de Angoulême, a reunião mais importante do universo da história em quadrinhos na Europa.