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Financiamento coletivo vira opção para live de artistas independentes

Enquanto Ana Cañas realiza crowdfunding de show no YouTube, Érika Martins faz apresentação no Zoom com venda de ingressos

Ana Cañas: live no Youtube em homenagem a Belchior (Divulgação/Divulgação)

Ana Cañas: live no Youtube em homenagem a Belchior (Divulgação/Divulgação)

Publicado em 9 de julho de 2020 às 10h05.

Última atualização em 23 de julho de 2024 às 08h50.

Hoje (9), a cantora Ana Cañas realiza uma live musical no YouTube, com um show especial no qual prestará uma homenagem ao repertório do cantor e compositor cearense Belchior. Entretanto, o grande ineditismo desta apresentação, é que ela está sendo viabilizada pelos próprios fãs da artista, através de uma campanha de financiamento coletivo.

A ideia do crowdfunding surgiu quando Ana Cañas tinha programado uma live para acontecer no dia 12 de junho, mas cancelou por falta de patrocínio: “Nós montamos um projeto e não obtivemos nenhuma resposta positiva das empresas que procuramos”, diz a cantora em entrevista a EXAME.

Na ocasião, Ana fez uma postagem nas redes sociais, no dia 10 de junho, na qual desabafava pelo fato de grandes marcas patrocinarem projetos de artistas já renomados, enquanto esnobavam artistas independentes e sem o apoio mídiatico, como ela própria: “A verdade é que marcas grandes seguem apoiando artistas com milhões de seguidores. Mas parece que nenhuma marca grande quer apoiar uma artista menor, com menos visibilidade e que está, nesse momento, totalmente desassistida financeiramente”.

Antes de optar pelo financiamento coletivo, para realização da live, Ana Cañas até tentou apresentar um projeto para conseguir patrocínio de grandes marcas, mas não obteve nenhum tipo de retorno: “Procuramos diversas marcas grandes, marcas que podem apoiar projetos culturais nesse momento. Algumas responderam dizendo que não poderiam, enquanto outras falaram que fariam mais pra frente, quando o mercado retomasse suas vendas”.

Além de Ana Cañas, outras cantoras como Elza Soares, Angela Ro Ro e Fafá de Belém, também não conseguiram apoio para realização de suas apresentações ao vivo pela internet: “É difícil imaginar que nenhuma marca entenda a responsabilidade social num momento tão difícil como esse, onde toda uma cadeia produtiva está paralisada, desassistida e sem perspectivas.

A busca pela visibilidade, views e likes, apenas patrocinando artistas mainstream, é uma prova da falta de pensamento coletivo e suporte para quem ajudou a construir a história da música brasileira”, desabafa, mais uma vez, Ana Cañas.

A realização de lives musicais se tornou corriqueira durante o período da quarentena, inclusive colocando o Brasil no mapa como o país que lidera o ranking mundial de shows ao vivo pelo YouTube. Dos 10 shows mais assistidos na plataforma, oito são de artistas brasileiros. Quem lidera o ranking é a cantora sertaneja Marília Mendonça que na sua live realizada no dia 8 de abril, alcançou o pico de 3,31 milhões de visualizações, seguida pela dupla Jorge e Mateus, com 3,24 milhões de visualizações.

Sandra Jimenez, diretora de parcerias musicais do YouTube para América Latina

Sandra Jimenez, diretora de parcerias musicais do YouTube para América Latina (Divulgação)

Ainda aparecem na lista, em quarto lugar, o cantor Gusttavo Lima (2,77 milhões), na sequência, os irmãos Sandy & Júnior (2,55 milhões), e na décima posição a dupla sertaneja Bruno e Marrone (2,05 milhões). Todas essas lives tiveram patrocínio de grandes empresas, entre elas, cervejarias e redes de varejo de móveis e eletrodomésticos. Segundo a diretora de parcerias musicais do YouTube para América Latina, Sandra Jimenez, as lives patrocinadas são combinadas entre o artista e a marca apoiadora: “As regras da plataforma permitem que um criador, artista e/ou sua gravadora fechem patrocínios diretos com marcas para serem exibidas dentro do conteúdo, como endossos e colocações pagas, sem qualquer participação do YouTube nessa receita. Isso vale para lives e vídeos”.

Considerando o aumento de lives musicais realizadas durante a quarentena, Sandra Jimenez informou que o YouTube tem se preocupado em transmitir para os artistas, as principais diretrizes da plataforma, principalmente do que se diz a respeito do cuidado com os direitos autorais: “Temos feito um trabalho com gravadoras e escritórios de artistas para treiná-los em melhores práticas, com forte ênfase nas lives, e também ajudá-los a entender nossas diretrizes da comunidade, assim como os diversos recursos de gerenciamento que temos, que incluem, entre outros, uma tecnologia sofisticada para identificar conteúdo com direito autoral, chamada Content ID. Durante esse período, inclusive, conseguimos habilitar a ferramenta automática em diversos canais para proteger esses conteúdos de retransmissões não autorizadas”.

No caso de artistas independentes, como a cantora Ana Cañas, Sandra diz que a plataforma oferece recursos para monetização de vídeos, inclusive de lives: “O YouTube possui uma série de ferramentas de monetização alternativa que foram habilitadas para canais de artistas, como Super Chat e Super Stickers, estante de merchandising, que permite que os criadores de conteúdo exibam mercadorias da própria marca no YouTube”.

Em sua live, Ana Cañas contará com uma estrutura profissional, mas atendendo todas recomendações de distanciamento social: “Teremos, ao todo, 12 profissionais. Entre eles, técnicos de som e vídeo, produção e dois músicos. Faremos tudo com muito amor e atendendo todas as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), referente à distanciamento e o uso de máscaras e luvas”.

A ideia de apresentar o repertório de Belchior, segundo a cantora, é uma forma de presentear os fãs que colaboraram com a realização desta live: “Pensei em fazer algo especial e diferente para devolver ao público e aos fãs esse carinho tão grande. Eu amo Belchior e sempre quis homenageá-lo num show. Sua obra é atemporal e genial. Sinto que ela reflete como nenhuma outra o que vivemos hoje”.

Até o fechamento desta matéria, a campanha financeira havia arrecadado R$ 27.345,86. Segundo a artista, uma parte desse dinheiro será usada para pagar todos os profissionais envolvidos na live, enquanto o outro montante será encaminhado para caridade: “A outra parte será destinada à projetos sociais que distribuem cestas básicas na periferia em São Paulo e lanches para as pessoas em situação de rua”.

Érika Martins

Érika Martins (Red Produção)

Zoom como alternativa

A cantora Érika Martins, muito conhecida pelo seu trabalho à frente da banda Penélope, nos anos 1990, e hoje também integrante da banda Autoramas, anunciou para o dia 13 de Julho, conhecido como o Dia do Rock, uma live musical, na qual irá revisitar todos os sucessos de sua carreira solo e também das suas bandas.

Mas ao invés de utilizar o YouTube, a artista preferiu realizar o seu show na plataforma Zoom e com venda de ingressos limitados: “Eu tenho visto alguns artistas, principalmente fora do Brasil, fazendo esse tipo de apresentação pelo Zoom, como, por exemplo a KT Tunstall, que é uma artista que eu acho muito legal”. Citada por Érika Martins, a cantora escocesa KT Tunstall realizou no dia 4 de junho um show na plataforma, com ingressos limitados, que esgotaram dias antes da apresentação virtual.

Desde que o novo coronavírus foi decretado como pandemia mundial pela OMS, em março deste ano, o número de usuários da plataforma norte-americana Zoom cresceu 354% referente ao ano passado, considerando que muitas pessoas têm trabalhado de casa e utilizado o aplicativo para reuniões em videoconferência. Mas agora o Zoom deixa de ser apenas uma ferramenta para uso comercial e invade o mercado musical, ganhando a aprovação de artistas como a própria Érika Martins: “Acredito que vai ser muito bacana revisitar toda a minha história, fazendo uma live especial no Dia do Rock. Portanto tive essa ideia de fazer pelo Zoom, em uma sala especial para o show, com um número limitadíssimo de ingressos”.

Os ingressos para o show especial da Érika Martins custam R$ 45,00 e podem ser adquiridos em serviços de pagamentos eletrônicos, como paypal e mercado pago, além de transferência bancária. No dia do show, o comprador receberá um link que dará acesso a sala onde será realizada apresentação. A limitação dos lugares virtuais, segundo a própria artista, é para uma melhor adequação da tela: “O legal do Zoom é que as pessoas participam realmente como público, elas podem escolher se elas vão aparecer na telinha ou não. Então por isso que o número também é limitado, justamente para as pessoas aparecerem ali. Pra mim é muito legal porque dá essa sensação de realmente estar fazendo um show”.

No dia 1º de julho, na companhia do marido, guitarrista e vocalista Gabriel Thomaz, Érika Martins fez um show na sala do seu apartamento, cantando os principais sucessos do Autoramas - o grupo do casal - em um show beneficente para arrecadar fundos para a equipe técnica da banda: “A nossa equipe está parada, como todo mundo nesse momento, e a gente fez essa live e foi muito bacana, deu uma audiência maravilhosa e arrecadamos bastante. Deu uma alegria imensa ter feito isso”.

A live, que foi transmitida na página oficial da banda no Facebook, foi completamente minimalista, em contrapartida das lives super produzidas realizadas no YouTube: “O que a gente tem feito é em casa, na nossa sala, usando o equipamento que a gente tem aqui. Amplificador de guitarra quando é o caso, ou então a gente faz uma coisa acústica. E tudo isso sem microfone para voz. É a hora da verdade mesmo! A gente canta, a gente toca e é bem interessante, porque o pessoal tem sentido a nossa vibe e a gente tem recebido bastante elogio em relação a isso”, finaliza.

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