Nadav Lapid, diretor de Synonymes (Anadolu Agency / Colaborador/Getty Images)
AFP
Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 13h36.
A Berlinale coroou, neste sábado, com seu Urso de Ouro o filme "Synonymes", do israelense Nadav Lapid, sobre um expatriado em Paris que deixou Israel devido à situação política, em uma cerimônia que também reconheceu o longa francês "Grâce à Dieu", de François Ozon, baseado em um escândalo real de pedofilia na Igreja Católica.
Inspirado na história do próprio cineasta, que se instalou na capital francesa no começo dos anos 2000, "Synonymes" era um dos favoritos da crítica, convencida por seu tom original, sua reflexão sobre identidade e a interpretação do protagonista, Tom Mercier.
"Este filme poderia ser definido como um escândalo em Israel. Mas na França algumas pessoas também poderiam se escandalizar. Mas, para mim, esse filme é uma grande celebração", disse, emocionado, Lapid ao receber o troféu na cerimônia de premiação do Festival de Berlim.
O filme "fala de ser israelense em um momento em que não é possível sê-lo. Acho que Israel é um país que exige de você um amor absoluto, total, sem concessões (...). E quando alguém rejeita esse amor, vai parar no outro extremo, no ódio total", disse Lapid à AFP durante o festival.
O israelense também dirigiu "O polícia" (2011) e"A Professora do Jardim de Infância" (2014).
Outro grande favorito, "So long, my son", do chinês Wang Xiaoshuai, recebeu dois prêmios importantes: os Ursos de Prata de melhor atriz, para Yong Mei, e melhor ator, para Wang Jinchun.
O filme, com três horas de duração, é um drama alegórico sobre duas famílias cujos destinos se cruzam durante 30 anos de mudanças radicais em seu país.
O grande prêmio do júri foi parar com "Grâce à Dieu", do francês François Ozon, sobre um escândalo real de pedofilia no seio da Igreja Católica da França.
"Este filme tenta romper o silêncio das instituições poderosas", disse Ozon, ironicamente agradecendo a Deus pelo prêmio e dedicando-o às "vítimas de abusos sexuais".
"Grâce à Dieu" narra a criação da associação francesa de vítimas "La parole libérée" (A palavra liberada), fundada em 2015 por antigos coroinhas que sofreram abusos de um sacerdote pedófilo, Bernard Preynant.
O longa é alvo de polêmica: os advogados de Preynant, que está segundo julgado atualmente, querem adiar sua estreia na França, prevista para 20 de fevereiro.
Esta foi a edição com maior participação feminina da Berlinale, com sete de 16 filmes dirigidos por mulheres.
O Urso de Prata de melhor curta-metragem foi para "Blue boy", do argentino Manuel Abramovich, atualmente vivendo em Berlim.
Ao receber o prêmio pelo curta que mostra entrevistas com vários homens em um bar na capital alemã, Abramovich fez uma defesa do aborto "legal, seguro e gratuito" na Argentina.
"Lemebel", da chilena Joanna Reposi, exibido na seleção paralela Panorama, recebeu o Teddy Award de melhor documentário de temática LGBTQ+, anunciado paralelamente à Berlinale.
Reposi, amiga pessoal do falecido artista chileno Pedro Lembel, reconstituiu sua vida com base em arquivos, depoimentos e uma longa em entrevista nos seus últimos anos de vida. O reconhecido escritor e artista plástico foi uma referência na luta pelos direitos dos homossexuais no Chile.
A cerimônia da 69ª edição do festival foi marcada também pela homenagem ao ator suíço Bruno Ganz, famoso por seus papéis como anjo em "Asas do desejo" e Adolf Hitler em "A queda: As últimas horas de Hitler", que faleceu na madrugada deste sábado em Zurique, aos 77 anos.
O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, de 70 anos, também foi ovacionado. Ele deixa o cargo após 18 anos à frente do festival.