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Filme "Divino Amor"é retrato de um Brasil futurista e evangélico

Apresentado no Festival de Berlim, narra história de uma mulher religiosa que, ao tentar reconciliar casais, vive dilema sobre o corpo e a religião

Dira Paes e Julio Machado em "Divino Amor" (2019): filme narra dilemas de mulher religiosa (Sundance Institute/Divulgação)

Dira Paes e Julio Machado em "Divino Amor" (2019): filme narra dilemas de mulher religiosa (Sundance Institute/Divulgação)

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EFE

Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 15h14.

Última atualização em 13 de fevereiro de 2019 às 15h17.

Berlim- O cineasta brasileiro Gabriel Mascaro apresentou nesta quarta-feira no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale) seu filme "Divino Amor", um filme sobre uma mulher que experimenta a ambivalência entre corpo e a religião em um contexto de burocracia e controle biopolítico.

Segundo explicou Mascaro em entrevista coletiva, o Brasil está vivendo atualmente mudanças radicais na sociedade e a religião, sobretudo a evangélica, em suas distintas variantes, está tendo cada vez mais influência.

"Devemos refletir urgentemente sobre o que isso quer dizer", afirmou, ao mesmo tempo que chamou de "conservador, populista e nacionalista" o projeto liderado pelo novo presidente, Jair Bolsonaro, que tem como lema "o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos".

O filme, que foi projetado dentro da seção Panorama, a segunda em importância do festival, pretende dar resposta a estas perguntas do ponto de vista de uma mulher, precisou o diretor.

No Brasil de 2027, Joana, funcionária e membro da seita evangélica Divino Amor, oferece tratamento aos casais à beira do divórcio mediante rituais sexuais nos quais ela participa com seu marido.

No entanto, a relação e a fé de Joana, interpretada por Dira Paes, sofrem diante do desejo de ser mãe.

Para a personagem de Joana, Mascaro se inspirou nas tradições bíblicas e nos tantos casos de mulheres que foram mártires cristãs e levaram vidas em pecado e sexualidade nos quais o erotismo definia-se de maneira religiosa.

Há mulheres na história que conciliaram êxtase e religião, algo que a princípio parece ser contraditório, ressaltou.

Joana assume seu corpo "como forma de se comunicar com Deus", é uma "postura radical" que adota "em nome de Deus", como tantas outras coisas que são feitas "em nome de Deus", afirmou a atriz.

"A sua fé a cega", se entrega a Deus para que realize o sonho de ser mãe, e ao mesmo tempo Joana representa esta "ambivalência entre corpo e religião", acrescentou.

Neste filme, Mascaro tentou, além de apresentar imagens contrárias ao homem alfa, porque na Bíblia, afirmou, "a infertilidade sempre está associada à mulher".

O filme aborda, além disso, o tema do controle "biopolítico do corpo" que Mascaro não vê distante, e que na sua história situa em uma sociedade na qual a família continua sendo o centro.

Assim, no filme, passar por um scanner equivale a revelar por exemplo o estado civil ou uma gravidez, e todos os dados pessoais das pessoas se resumem em um código de barras.

Ao mesmo tempo, no filme o diretor tentou "unir burocracia e religião em uma unidade indivisível", ou seja, acercar polos opostos, afirmou.

Segundo Mascaro, "a burocracia pode ser uma alternativa à religião através da igualdade e da transparência", algo que na realidade caberia esperar precisamente da religião, acrescentou.

Para Paes, filmes como "Divino Amor" são necessários na atual situação política no Brasil, porque além de fornecer muitos elementos artísticos fortes, é "valente".

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