O chef Rodrigo de Oliveira, do Mocotó. (Ricardo D'Angelo/Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 11 de abril de 2023 às 09h50.
Última atualização em 12 de abril de 2023 às 08h02.
O Mocotó tem um mérito inquestionável: ter colocado, há pouco mais de 20 anos, a comida sertaneja brasileira em destaque na gastronomia internacional. O restaurante da Vila Medeiros ficou famoso pelas filas na porta. O chef Rodrigo de Oliveira agora leva o nome de sua casa da zona norte para a zona oeste paulistana.
O segundo restaurante de rua com o nome Mocotó será inaugurado nesta quarta-feira, 11 de abril. Vai funcionar na Vila Leopoldina, bairro hype de São Paulo que concentra agências de produção audiovisual e de publicidade. A WPP já anunciou por lá a construção de um campus para as 26 agências do grupo.
O novo Mocotó vai funcionar no complexo da O2 Filmes. Será um marco para o grupo, depois da casa pioneira na Vila Medeiros, do Mocotó Café no Mercado de Pinheiros, do Balaio IMS no Instituto Moreira Salles (que está na lista dos 100 Melhores Restaurantes do Brasil da Casual EXAME) e do Mocotó Shopping D. E só não há mais casas com o selo por causa do criterioso Rodrigo, porque convites não faltam.
“Quando nasce um filho é preciso cuidar dele, amamentar, até ele ter forças pra andar sozinho”, disse Oliveira à Casual EXAME em evento inaugural da casa, na segunda-feira 10. “Virei aqui todos os dias nos próximos meses.”
A decoração é simples, com móveis de fórmica, um recado do que será servido: boa gastronomia com inspiração da cozinha brasileira sertaneja. Apenas isso, tudo isso. Há um pequeno empório de produtos e panelas e um grande aviso da boa parceria com a cerveja Estrella Galicia.
Os fãs do Mocotó não vão reclamar. Pouca gente sabe, mas a receita original do dadinho de tapioca com queijo coalho, um clássico já da baixa gastronomia, é de autoria do Rodrigo. Também está no menu a carne-de-sol preparada com coxão mole de Angus salgado e curado na casa, assado na brasa e finalizado com manteiga de garrafa, pimenta biquinho e alho confitado.
Os torresmos, o baião-de-dois, a moqueca sertaneja, o pudim de tapioca feito em conjunto com dona Lourdes, mãe do chef seguem no cardápio, assim como o clássico Mocofava, que combina caldo de mocotó, favas cozidas com linguiça defumada, carne seca e bacon.
A casa na Vila Leopoldina também traz pratos exclusivos, como a língua de boi braseada com vinho do Vale do São Francisco servida com um pãozinho fofo de mandioca com alho. Nem pense em deixar de provar o mouckshouka com ovo, molho de tomate condimentado, pimentão vermelho, iogurte, ovos orgânico e torresmo.
Outra novidade é a versão própria da torta basca, batizada de Romeo e Juliete, feita com de requeijão-do-norte, goiabada da casa e um toque de vinho. Uma boa opção de sobremesa é também o mocolé, um picolé de manga, chocolate branco com matchê e creme de limão siciliano com cachaça.
Segundo Rodrigo, tanto a Vila Leopoldina quanto a Vila Medeiros têm uma coisa em comum: não são escolhas óbvias. “A gente se apaixonou pelo bairro e pelo projeto”, diz o chef. “Tem um monte de iniciativas legais chegando, arte, pessoas talentosas, criativas. A gente queria estar perto dessa turma.”
O projeto do restaurante é de Marino Barros e Rodrigo Leopoldi, da LAB Arquitetos, autores também da reforma da casa da Vila Medeiros. Boa parte da equipe da primeira casa estará no novo endereço.
“A cozinha nordestina sertaneja sempre foi muito estigmatizada, ainda mais num restaurante da zona norte”, diz Rodrigo. “Nossa grande obra, mais do que conquistar o reconhecimento, foi ter criado essa linguagem muito autoral e universal da comida sertaneja.”
Seu Zé de Almeida, pai de Rodrigo, saiu de Mulungu, no interior do sertão pernambucano, para São Paulo aos 25 anos. Um ano depois, montou a Casa Irmãos Almeida na casa da zona norte em sociedade com dois de seus irmãos.
Alguns anos depois, seu Zé assumiu o negócio, transformou o restaurante em bar e passou a servir alguns pratos de sua terra natal. O carro-chefe era o caldo de mocotó, que a turma degustava no balcão ou nas dez mesinhas do estabelecimento. E foi assim que Mocotó virou nome próprio do restaurante.
O chef Rodrigo de Oliveira, filho de seu Zé com dona Lourdes, encabeçou a casa em 2001, depois de desistir da faculdade de engenharia e gestão ambiental para ingressar de cabeça no curso de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi.
Com o tempo Rodrigo deu ao Mocotó uma nova identidade - um restaurante de comida farta, bem-feita e saborosa, com filas na calçada da outrora longínqua Vila Medeiros.
De lá para cá o Mocotó coleciona prêmios nacionais e internacionais da crítica especializada, como o 23º lugar na lista dos melhores restaurantes da América Latina pela revista britânica Restaurant em 2021, o selo de Bib Gourmand pelo Guia Michelin e o prêmio de melhor restaurante do mundo na categoria “no reservation required” pelo World Restaurant Awards em 2019.
Agora o sucesso deve se replicar na zona oeste paulistana. “Eu já frequentava a região por causa do Ceagesp”, diz, em referência à feira de frutas e legumes. “Agora será meu bairro do coração”, brinca.