Desfile da Ferragamo em Milão: couro fetichista (Ferragamo/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 27 de setembro de 2022 às 10h29.
Última atualização em 27 de setembro de 2022 às 11h22.
São muitas novidades para uma marca em apenas uma temporada. Em sua estreia na Ferragamo, na Semana de Moda de Milão, Maximilian Davis revelou um novo amanhecer para a marca: um renascimento de sua história em Hollywood. "Eu queria prestar homenagem ao início de Salvatore trazendo a cultura de Hollywood, mas a nova Hollywood", explica Davis. "Sua facilidade e sensualidade, o pôr-do-sol e o nascer do sol".
Essa nova linguagem de luxo mistura a clareza contemporânea com a pureza do drapeado florentino, uma homenagem ao lar da casa. A elegância se traduziu em malhas, seda líquida e camadas de organza, fundamentada por sandálias de camurça tiradas da realidade renascentista.
O glamour lânguido e à beira-mar da nova Hollywood é quebrado por referências fetichistas, como couros brilhantes, ajustes de segunda pele e micro shorts. As peças básicas do dia-a-dia, como tops, golas polo e leggings, parecem quase perversos em sua simplicidade.
Malhas amplas e translúcidas revelam a pele por baixo. Mesmo roupas de noite vêm com um ar de despreocupação. Com base nos brilhantes sapatos vermelhos que Ferragamo fez para Marilyn Monroe em 1959, a coleção aparece repleta de cristais.
A alfaiataria buscou referências nos clássicos executivos dos anos 1980, mas agora em um guarda-roupa moderno de proporções mais ajustadas e refinamento formado a partir de tecidos muitas vezes reservados para roupas femininas. O smoking vem agora com camisa cortada em organza de seda e popelina de algodão, colarinhos ou mangas retiradas.
Os acessórios também surgiram repaginados. A bolsa Wanda, introduzida em 1988 e com o nome da esposa de Salvatore, é reinterpretada em novas proporções, enquanto a bolsa de ombro prismática tenta aparentar uma modernidade minimalista.
Uma paleta extraída da Sunset Series da artista americana Rachel Harrison coloriu estampas em degradê e malhas tingidas à mão, com tons que vão do índigo profundo ao amarelo-manteiga suave. Um novo Pantone vermelho reinventa a tonalidade icônica da marca, visível em todo o espaço do desfile, colorindo até a areia que cobria o piso no desfile.
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O desfile aconteceu no palácio do ex-seminário do Arcebispo de Milão, que foi encomendado por São Carlos Borromeo no século 17 e permanece considerado um modelo histórico da arquitetura barroca e neoclássica. O local em breve receberá o hotel Portrait Milano e um novo destino no coração de Milão com butiques, restaurantes e um espaço de jardim.
A marca italiana apresentou outra novidade, mais profunda. O nome Salvatore saiu. Agora, é apenas Ferragamo. E um novo logotipo foi apresentado. A caligrafia do fundador é traduzida em uma fonte serifa que busca refinamento, em um equilíbrio entre o classicismo e a modernidade.
A Ferragamo encarregou Peter Saville, renomado designer gráfico, para criar o novo logotipo, concebido em uma versão modernista com uma fonte clássica, lembrando as inscrições que inspiraram os artistas renascentistas.
"O patrimônio de Florença está na cultura da empresa, e isso me levou à escolha de uma fonte clássica”, disse o designer. “A visão é precisa e moderna. A partir daí, a fonte é reduzida e torna-se modernista. Depois há o trabalho artesanal, que é quintessencialmente Ferragamo, condensado na ideia de uma inscrição gravada em pedra.”