Fairmont, em Copacabana: promoção para cariocas (Divulgação/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 9 de setembro de 2020 às 06h20.
Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 18h22.
Em boa parte dos hotéis de luxo do Brasil, está tudo pronto para a retomada desde o início do mês. Fechados durante quase cinco meses por razões óbvias, muitos adotaram protocolos de higiene e limpeza ainda mais rígidos que os observados antes da quarentena. À maioria das novas exigências até quem nunca pisou no Copacabana Palace já está acostumado — máscaras são obrigatórias para todos, ninguém entra sem ter a temperatura medida, sentar perto de outros hóspedes nos restaurantes e bares é proibido e por aí vai. O fim dos festejados bufês de café da manhã, via de regra substituídos por menus acanhados, entregues nos quartos, talvez seja o golpe maior. Nada que impeça os hóspedes de regalarem-se com as piscinas, os spas, os lençóis de 300 fios e as demais mordomias de todo cinco-estrelas.
Só faltou combinar com os turistas estrangeiros. Mas estes, o público alvo de inúmeros hotéis, tão cedo não voltam — pelo menos enquanto a pandemia não for domada no Brasil. Para piorar diversas companhias estão decididas, até segunda ordem, a não mais custear viagens a trabalho, a razão de ser de muitos hotéis localizados em metrópoles como São Paulo — o sucesso das chamadas de vídeo e a economia de gastos com viagens são argumentos difíceis de rebater. A solução? Tentar cair nas graças da clientela local.
“Muitos hotéis sobreviveram à quarentena graças à procura dos turistas que moram no entorno, cansados de ficar trancados em casa e ainda impossibilitados de viajar para os destinos de sempre”, diz Priscila Bentes, CEO do Circuito Elegante, associação que reúne hospedagens de luxo. Em outras palavras, a pandemia pôs em voga as férias sem mudar de cidade. É o chamado “staycation”, brincadeira com as palavras “stay” (ficar) e “vacation” (férias).
Dividido entre São Paulo e o Rio de Janeiro, o Emiliano deve muito à tendência. A unidade paulistana, por sinal, não fechou sequer um dia desde que a covid-19 desembarcou no Brasil. Foi uma exceção entre todos os membros latino-americanos da incensada associação The Leading Hotels of the World, da qual o Emiliano faz parte. “Foi uma decisão acertada”, diz o Gustavo Filgueiras, CEO do hotel. “Decidimos virar a melhor opção para quem quer se hospedar sem riscos de contágio”. Ele não revela qual tem sido a taxa de ocupação, mas diz que a unidade paulistana já opera com 100% da capacidade e que a suíte mais cara, cujas diárias rondam os 6.400 reais, tem sido reservada quase todo fim de semana. “Antes a maioria dos hóspedes vinha de fora e isso se inverteu”, emenda o CEO. Outra mudança, também registrada por concorrentes como o Unique, no Ibirapuera: agora a ocupação é maior nos finais de semanas, quando os hotéis da cidade ficavam às moscas.
Fechado desde abril, o Emiliano do Rio reabre no dia 1º de outubro de braços ainda mais abertos aos cariocas. Reformado, o bar do rooftop passará a atender também os não-hóspedes, sob reserva. A estratégia de concorrentes é atrair os turistas locais pelo bolso. O Fairmont, em Copacabana, agora oferece descontos de até 30% para quem apresentar comprovante de residência na cidade. Já o Fasano, em Ipanema, retomou as atividades com 50% de desconto na segunda diária para moradores do estado. Ser local agora é um luxo.