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Federer, o senhor perfeição e rei do tênis

Exigente, Roger Federer aliou o perfeccionismo à técnica refinada para se tornar o Rei do tênis


	Roger Federer: filho de pai suíço e mãe sul-africana, Federer começou a jogar tênis aos 8 anos de idade
 (Getty Images)

Roger Federer: filho de pai suíço e mãe sul-africana, Federer começou a jogar tênis aos 8 anos de idade (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2013 às 19h27.

São Paulo - Antes de estabelecer o recorde de títulos em Grand Slam, com 17 campeonatos, e passar 302 semanas como líder do ranking da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), Roger Federer não era mais que um talentoso e temperamental jovem tenista suíço. A diferença é que, duro consigo mesmo, ele já sabia desde a adolescência o que almejava. Aos 15 anos, para explicar as explosões e os gritos de “idiota!” que soltava após cometer erros em quadra, disse: “Alguém deveria ser capaz de jogar um jogo perfeito”. E foi. Nos dezesseis anos seguintes à declaração, a busca incessante por concretizar esta obsessão transformou o próprio garoto nesse alguém. E, de bate-pronto, no maior tenista de todos os tempos.

Filho de pai suíço e mãe sul-africana, Federer começou a jogar tênis aos 8 anos de idade em Basel, sua cidade natal. Mas, antes de se sagrar heptacampeão de Wimbledon, o atleta precisou suar a camisa e trabalhar a mente que mais tarde o condicionaria a só se satisfazer com a excelência. Com pouco gosto pelos exercícios e pavio curto o suficiente para arremessar e estragar raquetes com alguma frequência, Federer passou a ser reconhecido pela técnica incomum para a idade e também pela fama de indisciplinado. Certa vez, Paul Dorochenko, seu ex-preparador físico, o puniu com a missão de limpar, às seis da manhã, todas as marcas de bola deixadas em uma quadra.

A mudança de mentalidade só viria mais tarde, com a compreensão dos dividendos que uma boa imagem poderia representar. Acostumado a jogar em quadras de saibro no verão e em quadras de grama ou cimento no inverno, o suíço conquistou a atenção do circuito internacional de tênis em 1998, aos 17 anos, quando conquistou a primeira posição no ranking juvenil do esporte após ser semifinalista do Australian Open, finalista do U.S. Open e vencer o Orange Bowl e Wimbledon.

A primeira partida profissional aconteceu no mesmo ano: uma derrota por 2 sets a 0 para o argentino Lucas Arnold no ATP de Gstaad, nos Alpes Suíços. “Houve altos e baixos. Um processo de aprendizado, de cometer erros e aprender com eles. Ouvir meus treinadores, minha família, fazer ajustes e melhorar”, diz Federer, que também precisou lidar com a morte do técnico, Peter Carter, em um acidente de carro.


Apesar de alguns bons resultados – como as vitórias sobre o ídolo Pete Sampras, em 2001, e o brasileiro Gustavo Kuerten, em 2002, a primeira vitória de Roger Federer em um Grand Slam como adulto viria apenas cinco anos depois, na edição de 2003 de Wimbledon. Com a vitória de 3 a 0 sobre o australiano Mark Philippoussis e o título de campeão da Masters Cup, em Houston, o tenista saltou para a segunda posição do ranking mundial da ATP.

Dono de uma excelente visão de jogo e de uma aparente capacidade de se antecipar aos movimentos do adversário, Federer exibe um dos maiores poderios ofensivos da história do tênis. Defensivamente, apesar do bom posicionamento e do ótimo jogo de pés, o suíço não é tão brilhante assim. Talvez por isso, ao escolher a primeira de suas partidas que beirou a perfeição, ele se lembre da disputa contra o também australiano Lleyton Hewitt, na final do U.S. Open de 2004.

Apontado pelo próprio Federer como um de seus principais adversários na carreira, ao lado do espanhol Rafael Nadal, Hewitt era um atleta incansável na defesa, mas, daquela vez, não foi páreo para o suíço. Federer venceu a partida por 3 a 0, com direito a dois pneus (6-0, 7-6 e 6-0) no primeiro e no último set. “O jogo perfeito não pode ser na primeira rodada. Precisa ser na final, contra um bom oponente, com a maior das pressões e o máximo de pessoas assistindo. Você só recebe essa oportunidade algumas vezes na vida. Tive alguns desses momentos, e em algumas partidas pensei: “meu Deus! Não posso acreditar que estou jogando tão bem”.

Acostumado a restringir as opções de contra-ataque dos adversários com seu forehand de direita, Federer nem sempre foi tão eficiente quanto seu retrospecto leva a crer. No início da carreira, a obsessão por se testar fazia com que deixasse a objetividade de lado e insistisse em tentar superar os melhores golpes dos outros tenistas. “Quando era mais novo, tentava quebrar a tática do oponente jogando contra sua principal força. É uma maneira de fazer as coisas, nem sempre a mais certa. Já bati de frente com uma parede de tijolos ao tentar fazer isso e, obviamente, acabei perdendo os jogos”, diz.

“No tênis e na vida, em geral, você sempre pode ficar melhor”

Com o tempo, o suíço aprendeu que o importante era se concentrar em sua própria variação de jogadas. “Para escolher a tática correta, preciso me focar mais nas minhas forças do que nas fraquezas do oponente. Preciso acreditar que posso ganhar, ainda que pense que o adversário é mais forte. Você tem sua chance e, como todo dia é um novo dia nos esportes, tudo é possível.”


Um bom exemplo dessa filosofia vencedora foi a volta de Federer ao topo do ranking dos tenistas profissionais. Superado por Nadal e pelo sérvio Novak Djokovic, Federer interrompeu, em 2011, uma sequência de oito anos de grandes resultados ao não conquistar sequer um título de Grand Slam. Considerado velho aos 31 anos, o suíço, detentor de recordes como as quatro temporadas de vitórias simultâneas nos torneios de Wimbledon e U.S. Open, permanecia respeitado, mas já era visto por alguns cronistas especializados como um profissional em decadência. A virada veio em 2012, com o heptacampeonato de Wimbledon. Federer alcançou seu 17º título de Grand Slam, igualou-se a Sampras como o maior vencedor do torneio e ultrapassou o americano como o atleta que mais tempo ficou no topo da lista dos tenistas profissionais – 302 semanas, o equivalente a quase seis dos seus 14 anos como profissional.

Assim como um meio-campista habilidoso que vê a idade avançar, Federer passou a ter a necessidade de controlar a velocidade do jogo como lhe convém. Capaz de variar entre curtinhas, slices e voleios com desenvoltura, passou a decidir os pontos com mais rapidez, para aliviar o desgaste. Comparado aos expoentes de outras modalidades, Federer se envaidece, mas também procura se resguardar de um possível sentimento de arrogância. “Pelé e Michael Jordan já se aposentaram e são bem mais velhos do que eu, que ainda estou jogando. As pessoas te julgam de maneiras diferentes, mas é ótimo ser comparado a alguns dos maiores de todos os tempos. Atingi muito mais do que pensava que conseguiria, e procuro permanecer humilde”, diz. “Tento ser a melhor pessoa que posso ser e corresponder às expectativas. Coloco muita pressão em mim mesmo, mas, no fim do dia, tenho de relaxar. Tênis é só um esporte. O importante é a família, os amigos, e aproveitar minha vida”, diz.

Casado com a ex-tenista profissional Miroslava Vavrinec, que conheceu durante as Olimpíadas de Sydney, em 2000, Federer é pai das gêmeas Charlene Riva e Myla Rose, de 3 anos. “Quando viajo, ligo para elas duas vezes ao dia. Elas começaram suas primeiras lições de tênis – mas por enquanto é mais brincar com as bolas, correr em volta da quadra e fazer exercícios”, diz ele, que garante não se importar caso elas não se tornem jogadoras. Consciente do papel de modelo que exerce para as filhas e outras crianças espalhadas pelo mundo, Federer passou a buscar a perfeição também fora das quadras. “Tento ser um bom exemplo para as crianças, e esse é um dos privilégios de ser um grande atleta. Tento fazer com que os pais digam a seus filhos: se o Federer pode fazer, você consegue fazer também. Se ele fez desse jeito, é porque é possível fazê-lo.”

“Não usei nenhum truque de mágica para me tornar a pessoa que sou hoje. Foi trabalho duro, uma boa educação, um bom treinamento e o fato de que acreditei fortemente que poderia fazê-lo”, afirma. “Não tem sido sempre fácil. O caminho para a perfeição é difícil e provavelmente nunca a alcançarei, mas o importante é continuar tentando, me esforçando ao máximo e melhorando sempre, porque, no tênis e na vida, em geral, você sempre pode ficar melhor, e é por isso que eu me empenho todos os dias.”

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