Estátua de Cervantes em Valladolid, Espanha: se o projeto avançar no caminho esperado, os resultados da investigação são esperados para o fim do ano (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2014 às 16h12.
Madri - A busca por Miguel de Cervantes está em marcha. As primeiras equipes de investigação entraram nesta segunda-feira na pequena igreja onde acredita-se que tenha sido enterrado o autor espanhol em 1616 para iniciar o rastreamento de seus restos mortais.
A capela do convento das Trinitárias Descalças, no coração histórico de Madri, reuniu um enxame de jornalistas que acompanharam os primeiros passos da operação.
Na fase inicial, especialistas no gerenciamento do georradar, uma ferramenta comum para a exploração não destrutiva do subsolo, começaram a varredura de cerca de 200 metros quadrados para localizar ossos em cavidades e criptas.
Cervantes, autor de "Dom Quixote" e considerado o mais universal dos escritores espanhóis, foi sepultado na igreja das Trinitárias.
Mas seus ossos foram perdidos em uma ampliação do templo no final do século XVII. Segundo Fernando Prado, historiador que lidera a investigação, apenas cinco pessoas, incluindo Cervantes, foram sepultadas nessa igreja.
A expectativa é de que o relatório do georradar esteja pronto em um mês. A partir daí, começarão as escavações para exumar os ossos.
O antropólogo espanhol Francisco Etxeberria, que participou da autópsia que confirmou o suicídio do ex-presidente chileno Salvador Allende, ficará encarregado da análise forense.
Etxeberria não poderá executar testes de DNA por não haver descendentes vivos de Cervantes.
Ele tomará como referência os retratos do autor e suas próprias histórias, nas quais reconheceu, por exemplo, que tinha apenas seis dentes pouco antes de sua morte. Mas as marcas mais evidentes serão os seus ferimentos de guerra.
Em 1571, ele foi ferido na batalha de Lepanto, que opôs os turcos otomanos e a chamada Liga Santa, liderada pela Espanha.
A bordo do navio La Marquesa, Cervantes recebeu três tiros de fuzil mosquete, dois no peito e um na mão esquerda, que ficou inutilizada.
"Algum tipo de sinal é fornecido. As feridas do peito e essa mão seca, paralisada e atrofiada durante tanto tempo", disse Etxeberria. "Se encontrarmos um osso, aí poderemos começar a sonhar que é ele."
Se o projeto avançar no caminho esperado, os resultados da investigação são esperados para o fim do ano. Fonte: Associated Press.