Kevin Spacey (Stephen Chernin/File Photo/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de novembro de 2017 às 15h01.
Última atualização em 12 de março de 2019 às 16h36.
Projetos que terminam na gaveta, estreias de filmes suspensas, estúdios ameaçados e campanha para o Oscar sob incerteza: os casos de abuso sexual envolvendo Harvey Weinstein, Kevin Spacey, Brett Ratner e outros provocaram o caos em Hollywood.
Um mês depois do início do escândalo, revelado pelo jornal The New York Times e a revista The New Yorker, a respeito do produtor Harvey Weinstein, acusado por mais de 100 atrizes e ex-funcionários de assédio, agressão sexual e até estupro, muitas pessoas tomaram coragem para denunciar outros pesos pesados da indústria sobre condutas similares.
Desta maneira aconteceram as denúncias contra Spacey, vencedor de dois Oscar, e o diretor Ratner, entre outros atores, agentes, executivos. São tantas revelações que o jornal Los Angeles Times perguntou em um editorial: "Quem será o próximo?".
"Espero que todo este caos pavimente um caminho para uma punição na indústria", afirmou a atriz Jessica Chastain em uma entrevista à AFP.
Tim Gray, um dos principais editores da revista Variety, disse que "há escândalos em Hollywood desde a era do cinema mudo, mas era uma pessoa, um incidente".
"Estou na Variety há 30 anos e nunca vi algo assim", afirmou.
Qualquer projeto com a marca de The Weinstein Company, fundada por Harvey Weinstein e seu irmão Bob, se tornou tóxico, mas há apenas alguns meses isto era um sinal de prestígio.
O diretor Oliver Stone, que em um primeiro momento defendeu o produtor, decidiu pouco depois retirar do estúdio seu projeto sobre a série "Guantánamo".
O filme mais recente do estúdio, "Amityville: O Despertar", arrecadou apenas 742 dólares em mais de uma semana em cartaz nos Estados Unidos, segundo o site especializado Boxofficemojo.Com.
E a empresa está à beira da falência.
Outros estúdios também foram abalados por escândalos sexuais, como a gigante da internet Amazon, que demitiu o diretor Roy Price após denúncias de assédio.
A crise na Amazon provocou um dano colateral: a muito aguardada série de televisão do diretor David O'Russell ("O Lado Bom da Vida") foi "abatida", explicou a atriz Julianne Moore no programa "Live with Andy Cohen".
"Com a derrocada de Weinstein e a questão na Amazon, todo mundo saiu do projeto", afirmou a atriz vencedora do Oscar, que trabalharia com Robert de Niro na série.
Um roteirista que trabalhou por meses em um projeto de série para a Amazon afirmou à AFP que agora é uma incógnita se o projeto será concretizado.
A gigante do "streaming" Netflix também enfrenta uma crise com as acusações contra Kevin Spacey, protagonista da aclamada série "House of Cards".
A produção da sexta temporada - que seria a última - foi suspensa de modo abrupto e o lançamento do filme "Gore" (sobre o escritor Gore Vidal), também protagonizado por Spacey, foi suspenso.
A Warner Bros rompeu uma parceria de centenas de milhões de dólares com a produtora RatPac de Brett Ratner, que trabalhava em uma adaptação do livro "O Pintassilgo".
"Esta é uma lição para todos em Hollywood", afirma Gray.
"Todo mundo é substituível. Kevin Spacey era a grande estrela de 'House of Cards', que continuará sem ele".
Os escândalos também afetam a corrida pelo Oscar.
A Sony Pictures apostava no filme mais recente de Ridley Scott, "All the Money in the World", mas com Spacey como principal, o panorama mudou completamente.
E a apenas quatro meses da cerimônia, "quem sabe que histórias vamos descobrir sobre outros na disputa", completa Gray.
A Academia expulsou Weinstein no mês passado, mas os outros acusados ainda são membros da organização.
Também existe o escândalo nos bastidores: os agentes Tyler Grasham e David Guillod foram demitidos por denúncias de assédio sexual, enquanto o ator Danny Masterson é acusado de estupros e foi criada uma petição para que o Netflix cancele sua série "(The Ranch").
Para Gray, é evidente "que existe algo errado com a indústria", destacando os problemas de diversidade, denúncias de discriminação contra minorias e mulheres e, agora, de abuso sexual.
"E, embora Hollywood adore um grande retorno, os casos de Weinstein, Spacey e Ratner não podem ser perdoados", conclui.