Stan Herman, criador dos uniformes e histórico com a TWA (Isak Tiner/The New York Times)
Guilherme Dearo
Publicado em 7 de maio de 2019 às 07h00.
Última atualização em 7 de maio de 2019 às 07h00.
Será possível que o Aeroporto Internacional John F. Kennedy vai voltar a ser moda?
É difícil imaginar, dado que o Kennedy já foi muitas vezes eleito como um dos piores aeroportos dos Estados Unidos; dada a lotação de muitas companhias aéreas hoje, com as preocupações de segurança da Boeing e a falência da Wow Air; e dado o mal-estar geral em torno das viagens aéreas, vistas como uma experiência a ser suportada, de preferência com a ajuda de um ansiolítico, em vez de apreciada.
E, mesmo assim, os designers estão de olho em um terminal há muito abandonado, no coração do aeroporto, cuja transformação poderia (talvez, possivelmente, se é que uma coisa tem a ver com a outra) mudar a imagem abalada desse ponto de chegada.
O terminal em questão é o antigo TWA Flight Center, projetado pelo arquiteto finlandês Eero Saarinen em 1962, que se parece com um óvni branco no meio do asfalto. Fechado desde 2001, era uma relíquia fantasmagórica da arquitetura da era espacial. Em 2016, a Autoridade Portuária concedeu ao desenvolvedor MCR/Morse os direitos de restaurá-lo a seu período de glória.
Em maio, ele será reaberto como um hotel de 512 quartos, cheio de toques de viagem no tempo, incluindo mobiliário Knoll, um bar lounge e telefones de disco em todos os quartos, que geralmente servem como sinos pavlovianos para quem gosta de estilo.
Não admira que Louis Vuitton tenha anunciado a realização de um desfile no hotel em oito de maio. O desfile já foi realizado no Museu Miho, com design de I. M. Pei, em Quioto, no Japão, e no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, projetado por Oscar Niemeyer, em Niterói, no Brasil.
Na semana que vem, quando o hotel abrir oficialmente, os hóspedes serão recebidos por "greeters" vestindo antigos uniformes da TWA desenhados por estilistas como Valentino, Ralph Lauren e Oleg Cassini (apenas no caso de alguém precisar se lembrar de que, uma vez, até mesmo grandes estilistas viam o corredor do avião como uma passarela em potencial).
Depois dos greeters, os hóspedes estarão em meio a vários funcionários em uniformes criados por Stan Herman, o presidente mais longevo do Conselho de Designers de Moda dos EUA (de 1991 a 2006), cuja festa de 90 anos foi recentemente oferecida por Donna Karan.
No que diz respeito à aprovação, isso é como a bênção do padrinho – se esse padrinho for um homem despretensioso que ajudou a moldar o mundo da moda de Nova York.
"Eles me procuraram em 2015, 2016", contou Herman sobre seu envolvimento no projeto. Ele estava sentado a uma mesa tulipa Saarinen no Lounge TWA, no 86º andar do One World Trade Center, um espaço criado por MCR/Morse. Das janelas que vão do chão ao teto, é possível ver a mancha branca que será o hotel ao longe.
"Eles estavam todos animados porque queriam que a operação tivesse um look bem anos 60, e encontraram alguém que estava lá", disse ele.
Ou quase lá. Além de ser conhecido como o "pai da semana da moda", Herman também pode ser o mais famoso estilista prêt-à-porter a trocar a passarela pelo mundo dos uniformes. Ele disse que fez seu primeiro uniforme para a TWA em 1974, um ano depois de começar a fazer os da Avis.
Trabalhou também com, entre outros, a FedEx (onde ainda é consultor criativo), McDonald's, a cadeia hoteleira Loews, Amtrak, Eastern Airlines, US Airways e JetBlue, com a qual ainda está envolvido. Ele vestiu centenas de milhares de pessoas.
"Sou estilista de pessoas. Sempre fui. E, para isso, nada é melhor do que o uniforme, pelo menos para mim."
"O uniforme mais memorável para uma companhia aérea foi o da Pan Am. O azul Pan Am era perfeito. Eles usaram a mesma cor por anos e anos e anos. A TWA tinha uma atitude completamente diferente. Foi incrível o que eles deixaram os estilistas fazerem. Depois de mostrarem as cores, eles me deixavam fazer o que eu quisesse."
Sua primeira escolha, em 1974, foi uma espécie de YSL misturado com Danskin: uma jaqueta safári vermelha brilhante e saia combinando, camisas e camisetas azuis, e um shirtdress jeans sobre camiseta e calça cáqui. Para o hotel, porém, a ideia está mais para "Mad Men".
"Decidimos que tudo deveria ser xadrez. Colete xadrez, jaqueta xadrez, calça xadrez para os rapazes; uma jaqueta Jackie O com grandes botões e uma saia de pregas para as mulheres", disse Herman. Os trajes dos auxiliares também estão no tema: camisas de boliche em vermelho e azul para homens e camisas estilo túnica para as mulheres. "Parece ter vivacidade."
Tudo se encaixa com a viagem no tempo que é a estética do hotel. Como disse Tyler Brûlé, editor da "Monocle" e um tipo meio obcecado por viagens aéreas, elas hoje são tão desglamourizadas que, sempre que alguém tenta vê-las sob uma luz positiva, é forçado a olhar para o passado.
Mas, mesmo que os resultados tenham um apelo vintage, não são muito revolucionários.
Herman, contudo, salienta que, como os telefones Western Electric nos quartos nos anos 1950, que foram readaptados com um conversor de pulso para tom, as roupas foram modernizadas, graças à tecnologia stretch e ao fato de que vêm em tamanhos de 0 a 22.
"Isso vai abrir um novo precedente. Vai ser divertido."
O mesmo acontece com uma coleção de artigos TWA, inspirados em parte pelos uniformes, o logotipo e a estética, e criados sob os auspícios de outro poderoso do mundo da moda: Somsack Sikhounmuong, estilista de Alex Mill e ex da J. Crew e da Madewell.
Os artigos incluirão blusas de caxemira e tênis com logotipo na lateral, o que, segundo Tyler Morse, executivo-chefe da MCR/Morse, "você não acha em nenhum outro lugar". Depois do modelo Stan Smith, o da TWA? Essa é uma grande aposta.