Casino do Hotel Cosmopolitan, em Las Vegas: nem mesmo James Bond conseguiu passar pela porta usando seus encantos (Hotel Cosmopolitan/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 6 de setembro de 2018 às 05h00.
Última atualização em 6 de setembro de 2018 às 10h00.
Em Las Vegas, o deserto de areia que se tornou a capital do capitalismo, não há melhor sinônimo de sofisticação que o Cosmopolitan. Suas mais de 20 suítes, conhecidas como Boulevard Penthouses, são os quartos mais cobiçados da cidade, em grande parte porque são inestimáveis. A única maneira de entrar é por convite, o que significa desembolsar mais de um milhão de dólares (de preferência, dois) no Reserve, o cassino privado de três salões do hotel, localizado no 75º andar. Essa experiência de jogo é tão exclusiva que nem mesmo James Bond conseguiu passar pela porta usando seus encantos.
Quando o resort me ofereceu a oportunidade de trabalhar servindo os grandes apostadores de suas penthouses, passando de mordomo aos bares e por tudo o que há no meio, não pensei duas vezes. E, depois de ser aprovado nas verificações de segurança, fui apresentado ao reino secreto do Reserve para atender aos caprichos dos jogadores mais ricos do mundo. Mas a experiência não se resumiu a abrir garrafas e cortar charutos - também tive que limpar pilhas de frutas podres "da sorte" e encontrar hóspedes nus no hotel.
Dizem que o que acontece em Vegas não sai de Vegas. Mas não desta vez…
Há uma linha tênue entre deixar os grandes apostadores à vontade e ceder a todos os seus vícios adjacentes ao jogo. "Este é um ambiente sem julgamentos", explica Leslie Sadovia, diretora-executiva de marketing nacional do cassino do Cosmopolitan. "As pessoas podem vir e se comportar de uma maneira extrema, e nós não diremos que elas não façam isso."
Alguns grandes esbanjadores levam isso ao limite.
Um hóspede frequente prefere a suíte que tem uma rede de pele de chinchila; ele ficou famoso por deitar-se nela nu, esperando que algum mordomo o surpreenda. Outro, um jogador de basquete muito conhecido, gosta de fazer sexo na manhã de sua partida enquanto mordomos incomodados fazem as malas dele. E uma das hóspedes mais antigas do cassino - que também é uma das poucas mulheres entre os grandes apostadores - ganhou uma reputação peculiar por descartar casacos de pele ("Estou cansada deles!") e por arranjar brigas no salão de jogos quando está com pouca sorte. Outro de seus passatempos preferidos: pedir que os mordomos vistam um pijama, deitem na cama ao lado dela e leiam histórias para ela dormir.
Incidentes desse tipo dificilmente levarão um hóspede a ser expulso - embora a equipe intervenha periodicamente com advertências leves.
Mas tem um hábito que até mesmo os clientes mais travessos tendem a evitar: embriagar-se excessivamente. Afinal, quando valores astronômicos estão em jogo, é fundamental manter a sagacidade.
Quando um jogador de alto nível está disposto a apostar mais de US$ 2 milhões, Brian Benowitz, vice-presidente de operações do cassino da Cosmopolitan, libera o Reserve e arruma-o com os jogos preferidos do cliente e com uma equipe completa em 25 minutos.
Mas as despesas excessivas também acontecem fora das mesas de jogo. "Vimos bilionários comprarem todo o estoque de champanhe do Cosmopolitan - o equivalente a milhões de dólares em álcool - só porque podem", disse Benowitz. "Os grandes apostadores gostam de competir com seus amigos para ver quem pode gastar mais que o outro."
Entre os grandes apostadores, as superstições podem rapidamente passar de exigências ao absurdo. Alguns milionários dormem no sofá porque acham que uma cama com cabeceira dá azar. Outros empilham frutas cítricas - muitas vezes com buraquinhos para "liberar a sorte" – e espalham laranjas e limões furados pela suíte, deixando-os apodrecer durante estadias mais longas. Para os clientes do Extremo Oriente, também dá sorte encher de água as pias até a borda. Foi assim que um dos grandes apostadores encheu sua banheira... e inundou a suíte de baixo.