Sósia de Elvis: mortas, as celebridades não podem fazer as diabruras que atormentaram seus assessores no passado (Peter Macdiarmid/Staff)
Da Redação
Publicado em 18 de novembro de 2014 às 14h03.
Portland e Nova York - Elvis Presley ostenta 12,4 milhões de “curtidas” no Facebook e 187.000 seguidores no Twitter e recentemente lançou um dueto com Barbra Streisand. Não tem importância que ele tenha morrido em 1977.
E este é apenas o começo para o Rei do Rock ’n’ Roll e outras celebridades mortas há bastante tempo, informará a revista Bloomberg Pursuits em sua edição Holiday 2014.
Ressuscitar um cadáver de um profundo congelamento criogênico ainda é coisa de ficção científica -- e até a Madonna dificilmente seja sepultada da mesma forma que Lenin quando morrer --, mas todas as outras possibilidades promocionais estão sobre a mesa.
Jamie Salter, o guru de marcas dono da maior parte do espólio de Elvis, está planejando um show “ao vivo” em Las Vegas no qual Presley apareceria como um holograma, de forma muito semelhante a como Michael Jackson apareceu em um show na Cidade do Pecado neste ano.
Bettie Page, a rainha do pin-up, gerenciada pelo superagente de celebridades mortas Mark Roesler, também deverá ter uma representação burlesca holográfica de si mesma.
Atualmente, ícones falecidos do apogeu da cultura pop estão desfrutando de um sucesso sem precedentes, ganhando até mais do que eles mesmos quando em carne e osso, diz Salter.
Ele faz parte da nova safra de gerentes que usa a tecnologia para conseguir muito dinheiro com as superestrelas que, se não fosse por isso, estariam simplesmente descansando em paz (ou pelo menos é assim que esperamos).
Essas celebridades mortas são lucrativas em parte porque primeiramente cativaram fãs em uma era pré-internet, com uma mídia que era realmente de massa, e dominaram o imaginário popular de uma forma que poucos contemporâneos são capazes de igualar, diz Salter.
‘Reputações intactas’
Ainda melhor, eles não podem fazer as diabruras que atormentaram seus assessores no passado, potencialmente danificando sua marca no negócio.
Eles já não podem cair em um coma induzido em quartos de hotéis (Elvis), atacar namoradas com garrafas de vodca (Jimi Hendrix) ou tocar fogo em si mesmos usando cocaína freebase (Richard Pryor).
“Eles não podem ser parados na estrada por dirigirem bêbados”, diz Donna Rockwell, uma psicóloga clínica que tem celebridades como clientes. “Suas reputações estão intactas”.
A modelo Kate Moss, em contrapartida, ainda pode envergonhar sua patrocinadora Burberry Group Plc ao aparecer cheirando cocaína na capa de um tabloide britânico. As apostas nos mortos ultimamente têm compensado.
Salter comprou o espólio de Elvis, incluindo Graceland e os direitos da imagem e das músicas do cantor, da Core Media Group Inc. em novembro de 2013.
A Authentic Brands Group LLC de Salter, que tem sede em Nova York, espera que os lucros aumentem 25 por cento neste ano graças a roupões de banho, calendários, potes de biscoito, abotoaduras, malas de viagem e enfeites para árvores de Natal, tudo com a temática Elvis. E, é claro, música.
“Nós compramos o Elvis na hora certa”, diz Salter. “Nenhuma das crianças escuta as músicas dele, mas veja como elas estão vestidas e seus cortes de cabelo com topete”. (Para encontrar uma página arrancada do manual do topete de Presley, basta procurar no Google o último corte de cabelo de Justin Bieber).
Especialistas em ressurreição como Salter estão ganhando dinheiro com ícones ainda mais antigos. A Visa Inc. usou a voz de Amelia Earhart em um anúncio durante os Jogos Olímpicos de Inverno deste ano celebrando o salto de esqui das mulheres.
O antes sonolento espólio de Earhart, gerenciado por Roesler na CMG Worldwide Inc., empresa com sede em Indianápolis, desde então tem recebido ofertas para emprestar o nome da piloto pioneira a uma loja de varejo e a uma rede de restaurantes.
O negócio bizarro funciona porque aqueles que são realmente famosos tendem a seguir famosos, mesmo mortos, diz Nathanael Fast, professor da Faculdade de Negócios Marshall da Universidade do Sul da Califórnia que realiza pesquisas sobre a psicologia da fama.
As pessoas gostam de conversar sobre coisas que têm em comum, diz Fast, e as celebridades estão entre as características topográficas mais acentuadas do nosso terreno cultural comum.
Em uma entrevista, Salter aponta para um acordo com uma grande marca atlética.
“A linha da história tem que continuar”, diz ele. “É preciso permanecer na mensagem. É uma maratona e não um sprint”.
Nos dias atuais, com lançamentos póstumos recordes disputando lugar com vídeos virais de gatos, os mortos precisam parecer mais vivos do que nunca para competir efetivamente pela atenção dos consumidores.
Depois que Muhammad Ali morrer, ou provavelmente até mesmo antes disso, podemos esperar vê-lo entrando novamente no ringue, provavelmente em Las Vegas, possivelmente como um holograma -- e, definitivamente, no seu auge.