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Ele criou o relógio mais fino de todos os tempos

Fabrizio Buonamassa, diretor de produto da Bulgari, conta como é criar um relógio mecânico com 1,8 milímetros de espessura - e com um NFT vinculado

Fabrizio Buonamassa, diretor de produto da Bulgari: entre a peça clássica e o mundo virtual (Bulgari/Divulgação)

Fabrizio Buonamassa, diretor de produto da Bulgari: entre a peça clássica e o mundo virtual (Bulgari/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 1 de abril de 2022 às 06h30.

Fabrizio Buonamassa nunca foi ao Brasil, mas cresceu em Nápoles ouvindo Tom Jobim e João Gilberto. “Meu pai não tinha nenhuma relação com o Brasil, mas adorava bossa nova”, conta. O diretor executivo de criação de produto da Bulgari virou ele também um artista, em outra área: ele cria relógios.

Mas não qualquer relógio. Buonamassa cria, por exemplo, os relógios mais finos do mundo. É de sua autoria a coleção Octo Finissimo, baseado no Octo criado pel lendário Gérald Genta. Em apenas oito anos de existência, o Octo Finissimo já bateu oito recordes de menor espessura, em diversas complicações, de repetidor de minutos a calendário perpétuo.

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No fim de março a marca de origem romana apresentou sua última versão da coleção, o Octo Finissimo Ultra, com apenas 1,8 milímetros de espessura – só não é mais fino do que é uma folha de papel, como diz a marca.

Descrito como "um relógio exclusivamente mecânico ligado a uma nova dimensão", o Relógio Octo Finissimo inclui um código QR visível no mostrador, que conecta os proprietários à história da peça, entrevistas e exibição virtual em 3D do movimento. Além disso, há um NFT vinculado ao relógio como um ativo digital exclusivo.

Na semana passada, durante o salão de alta relojoaria Watches & Wonders, em Genebra, Buonamassa falou à EXAME Casual.

Como foi o processo de desenvolvimento de um relógio quase tão fino quanto uma folha de papel?

Começamos a trabalhar nesse relógio dois anos atrás, quando começamos a imaginar o layout, mas a primeira vez que tivemos o relógio na mão foi inacreditável, mesmo para nós. Você vê as dimensões reais, em três dimensões. O Finissimo é um produto bidimensional, comparado com outros relógios no mercado.

Qual é o maior desafio no processo de criação do Octo Finissimo Ultra?

O processo de desenvolvimento foi feito passo a passo. O primeiro layout era um formato redondo e todos os elementos concentrados de uma forma tradicional. Eu comecei a desafiar os relojoeiros para fazer algo diferente. E isso quebra as regras para nós, porque o Octo Finissimo é um relógio mais quadrado, então temos mais espaço nos quatro cantos. O Octo Finissimo vem de um formato combinado entre um círculo e um quadrado. Isso foi o começo.

E depois disso?

A pulseira e o fecho foram desafios grandes. Quando já tínhamos resolvido a distribuição dos componentes começamos a pensar em uma pulseira de couro, porque seria impossível ter uma pulseira de metal da espessura do relógio. Mas nosso parceiro para a pulseira de metal disse que tentaria. O problema era o fecho. O relógio tem 1,8 milímetros, o fecho teria 2,05 milímetros. Por isso criamos um sistema novo de abertura. Por fim, tínhamos o QR Code, que ocuparia o maior espaço no mostrador. Se você for até uma butique da Bulgari, vai encontrar uma ponte para o nosso universo. Agora, com o QR Code, com todo esse conteúdo, os vídeos, outras pessoas podem acessar esse mundo.

Octo Finissimo Ultra: relógio só não é mais fino que uma folha de papel, segundo a marca (Bulgari/Divulgação)

Como é para um designer de uma peça clássica como um relógio mecânico ter de lidar com todo esse mundo virtual?

É um mundo muito interessante. No fim, sob o ponto de vista de um designer, o risco é se tornar um designer de interface. Um smartwatch é lindo, mas a tela é feita de gráficos, aplicativos. É diferente. Estamos falando de objetos físicos, um Octo, um Serpenti. Mas isso abre um mundo de oportunidades, de mudar algo. Temos de estar sempre prontos para lidar com as novidades, nos próximos cinco, dez anos.

Estamos em um momento de virada nesse mercado?

Não sei se um ponto de virada, mas é um passo importante, porque é algo que você não pode tocar. É um momento como a crise do quartzo, quando todo o mercado ficou preocupado, agora é outra crise, mas no fim é um mercado diferente. E os mercados são grandes. Pessoas que amam objetos eletrônicos não ligam para movimentos mecânicos. Eles são jovens, mas quando crescem passam a apreciar um relógio mecânico, ou herdam um do pai, e começam a ter uma ligação com esse mundo. Não dá para falar de objetos eletrônicos no mercado de luxo. Porque eles envelhecem em seis meses e o luxo é para sempre. Então movimento mecânico você passa para outra geração, mas você não passa um smartphone adiante. Vamos ver. O mundo do NFT é muito interessante.

A família do Octo Finissimo tem oito anos. Dá para considerá-lo um relógio icônico?

Todos falam dos relógios mais icônicos nos últimos 30, 40 ou 50 anos. O mercado vai dizer. Os colecionadores mais importantes do mundo começam a colecionar o Octo Finissimo e isso é ótimo sinal. Vemos clientes importantes perguntando cada vez mais dos nossos modelos. Estamos muito felizes com os resultados, o design é único. Antes do Octo os relógios de luxo eram feitos para usar com smoking, ou para ocasiões formais. O Octo mudou o contexto, trouxe uma visão contemporânea. Você pode usá-lo todos os dias. Minha maior surpresa é ver como o Octo ficou versátil. Toda vez que mudávamos a cara do mostrador era um relógio completamente novo. É a mesma coisa, mesmo design, mesmo formato, mas completamente diferente.

Qual é a sua criação favorita?

Difícil dizer. Para mim é sempre o próximo. O Ultra é fantástico, mas já é passado. Estamos trabalhando no próximo Finissimo, com diferentes execuções, será muito interesting.

O que muda no processo de criação de relógios masculinos e femininos?

É completamente diferente. Homens são mais ligados a performance, reserva de marcha, aspectos técnicos, como um carro, em que você fala de motor, suspensão, chassis. Para as mulheres falamos de emoções, é mais fácil. Desafios diferentes.

O quanto é importante para uma marca italiana como Bulgari ter um diretor de produto italiano?

Bulgari é uma marca muito internacional. Sou um dos últimos diretores italianos. Meu time tem designers italianos, mas também da Coreia e outros países. O grupo proprietário é francês. No fim o importante é entender o DNA. E a Bulgari tem raízes em Roma.

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