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Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2012 às 10h46.
São Paulo - Ainda que alguns resultados possam ser observados durante ou no final de um programa de educação alimentar, as melhoras significativas e efetivas são a médio e longo prazo, revela pesquisa na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), da USP. Licenciada em ciências, a pesquisadora Vanilde de Castro analisou em seu doutorado mudanças de comportamento em adultos com excesso de peso, após participarem de um Programa de Educação Alimentar (PRAUSP) coordenado pela EERP, e os fatores que facilitaram a manutenção dos hábitos adquiridos após a participação. As mudanças investigadas foram quanto aos hábitos de vida — consumo de álcool, cigarro e prática de atividade física, à alimentação e as alterações de peso, cintura e quadril.
A pesquisadora dividiu os participantes do programa em dois grupos. Um com pessoas que finalizaram o programa, chamados de Grupo Intervenção, que tiveram frequência mínima de 70%. Os resultados mostraram que esses realizaram mais mudanças comportamentais do que aqueles do chamado de Grupo Abandono, que tiveram frequência igual ou inferior a 30%. “Mas as alterações nem sempre foram mantidas no período posterior. O programa mostrou-se eficaz em promover modificações comportamentais, mas é preciso considerar o perfil dos participantes no planejamento das atividades”, enfatiza a pesquisadora.
A boa notícia, diz a pesquisadora, é que os participantes dos dois grupos aumentaram o consumo de verduras, legumes e frutas e reduziram frituras e embutidos, sendo estas mudanças as mais realizadas e mantidas também após o programa. E, ainda, a participação integral no programa, do Grupo Intervenção, levou a mudanças significativas, como ao aumento da mastigação e fracionamento da alimentação, bem como a redução da compulsão alimentar, do Índice de Massa Corporal (IMC), e da circunferência da cintura. “Isso leva, a longo prazo, à diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares”, lembra a pesquisadora.
Entre os resultados da pesquisa, constatou-se o aumento do consumo de álcool entre os participantes do Grupo Intervenção. Este fato, diz Vanilde, merece mais investigação para confirmar se este comportamento reflete a realidade atual vivenciada pela maioria da população ou se constitui em uma forma de compensação encontrada pelos participantes. “Deve-se considerar também, que as informações relativas ao consumo de álcool foram obtidas por questionários diferentes, o que poderia ter contribuído para a diferença encontrada”, explica.
Todos os adultos com excesso de peso que participaram do programa entre 2005 e 2009 foram selecionados para a pesquisa, sendo analisados os dados obtidos em três momentos distintos: antes e após o PRAUSP, e no momento da entrevista, que foi realizada de novembro de 2010 a maio de 2011. Foram entrevistadas 94 pessoas nos dois grupos — Grupo Intervenção, composto por 64 pessoas, e Grupo Abandono, formado por outras 30.
As mulheres casadas foram maioria dos participantes nos dois grupos e a idade média foi de 43 anos, todas com elevado nível de escolaridade. O doutorado intitulado Mudanças comportamentais e fatores associados à sua manutenção em adultos com excesso de peso após intervenção foi defendido pela pesquisadora em 28 de junho último e orientado pela professora Rosane Pilot Pessa Ribeiro, da EERP.
PRAUSP
O Programa de Educação Alimentar da USP em Ribeirão Preto (PRAUSP), foco da pesquisa, foi criado em 1998 pela EERP, sob coordenação da professora Rosane Pilot Pessa Ribeiro, sendo implantado em várias unidades de saúde do distrito oeste da cidade por enfermeiros que tiveram essa experiência enquanto atividade prática de ensino. A partir de 2005, passou a ser desenvolvido também no Campus da USP Ribeirão, no Centro Multidisciplinar de Promoção à Saúde e Prevenção de Doenças da Prefeitura do Campus.
Nos últimos anos, estabeleceu-se parceria com a professora Carmem Beatriz Neufeld, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, responsável pela parte psicológica do programa. O programa é uma abordagem terapêutica para a obesidade e tem como objetivo fornecer orientação alimentar, apoio psicológico e estímulo à prática de atividade física para pessoas com obesidade visando mudanças comportamentais que promovam a perda de peso saudável e melhoria na qualidade de vida.
Ele é desenvolvido por uma equipe composta por profissionais e estudantes das áreas de Nutrição, Psicologia e Enfermagem, sendo realizado em 12 encontros semanais, com duração de 1 hora e 30 minutos. Podem participar pessoas com excesso de peso da comunidade da USP e as inscrições são realizadas de forma contínua, divulgadas pelos veículos de comunicação da Universidade, com formação semestral dos grupos. Mais informações sobre o PRAUSP pelo telefone (16) 3602-4654, com Maria Helena.
Prêmio Henri Nestlé
O artigo científico resultante do doutorado: “Eficácia de uma intervenção educativa a longo prazo no comportamento alimentar de adultos com excesso de peso”, recebeu o 1º lugar na 3ª edição do Prêmio Henri Nestlé, na categoria II, área de Nutrição em Saúde Pública. Vanilde recebeu como prêmio viagem à Suíça para visita ao Nestlé Research Center, em Lausanne (que será realizada em novembro), troféu e certificado. Já a professora Rosane recebeu um notebook e certificado. “Contribuir para a produção científica do país está entre meus principais objetivos e ser reconhecida por esse trabalho é muito gratificante”, comentou Vanilde.
O Prêmio Henri Nestlé foi lançado em 2007, com o intuito de valorizar a produção científica brasileira nas áreas de Alimentos, Nutrição, Saúde e Bem-Estar, premiando profissionais e estudantes de graduação e pós-graduação de diferentes regiões do País para que contribuam com benefícios para a saúde e o bem-estar da população. Foram três fases classificatórias: o envio do resumo, o artigo completo e a apresentação oral, sendo esta última realizada em São Paulo, no último dia 30 de agosto. Informações sobre o prêmio, no site da Nestle.