Mein Kampf: a versão comentada chegou a liderar a lista semanal da revista "Der Spiegel" com os livros de não ficção mais vendidos na Alemanha (Frederic J.Brown/AFP)
EFE
Publicado em 3 de janeiro de 2017 às 14h55.
Berlim - O Instituto de História Contemporânea de Munique (IfZ) informou nesta terça-feira que em um ano foram vendidos 85 mil exemplares da edição crítica de "Mein Kampf" ("Minha luta"), o ideário político de Adolf Hitler cuja publicação foi proibida durante 70 anos na Alemanha.
No final de janeiro chegará às livrarias a sexta edição da obra, dois volumes de 1.948 páginas que reúnem o texto original e Hitler, com seus pensamentos antissemitas e nacionalistas, e comentários que questionam e contextualizam suas afirmações.
Esta versão crítica começou a ser vendida na Alemanha em janeiro do ano passado após a liberação dos direitos de propriedade intelectual, que tinham ficado sob a custódia do Estado da Baviera depois da morte de Hitler, em 30 de abril de 1945.
As autoridades bávaras vetaram durante 70 anos a reedição do livro com o temor de que se transformasse em objeto de culto dos neonazistas e que fosse instrumentalizado pela extrema-direita, embora nunca tenha desaparecido completamente.
A obra, que teve impressa 12 milhões de exemplares até a capitulação do Terceiro Reich, era acessível tanto em edições estrangeiras como em sebos, já que sua venda nunca esteve estritamente proibida.
Com a liberação dos direitos de propriedade intelectual, a primeira versão colocada à venda foi a do IfZ, que rapidamente esgotou os primeiros quatro mil exemplares impressos.
Em comunicado, o diretor do IfZ, Andreas Wirsching, mostrou nesta terça-feira sua satisfação por conseguir um "equilíbrio" entre o trabalho científico básico e a contextualização histórico-política da obra e por fechar a lacuna existente nas pesquisas sobre o nazismo.
O objetivo da equipe editorial do Instituto, dirigida por Christian Hartmann, foi oferecer uma edição científica comentada e sólida da obra antes que alguém a colocasse à venda com interesses "propagantistas" e dar ferramentas para enfrentar de forma crítica a "demagogia" de Hitler.
O IfZ, afirmou Wirsching, era consciente que, além de um desafio científico, havia implicações sociais e políticas, por isso escolheu a própria editora do Instituto e fixou um preço justo (59 euros) para deixar claro que o objetivo não era ganhar dinheiro.
A versão comentada chegou a liderar a lista semanal da revista "Der Spiegel" com os livros de não ficção mais vendidos na Alemanha.
O Instituto, fundado em 1949 com o propósito inicial de investigar os fatores que possibilitaram o auge do nacional-socialismo, destacou os vários pedidos de instituições e universidades interessadas em organizar apresentações e debates em torno de sua obra.
Segundo o IfZ, a preocupação inicial perante a possibilidade de a obra ser instrumentalizada e impulsionar o ideário neonazista era infundada.
A edição comentada, destacou Wirsching, permite conhecer precisamente "as raízes sinistras e as consequências das ideologias totalitárias".