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Documentário "Chão" leva luta do MST ao Festival de Berlim

Em entrevista, a cineastra brasileira Camila Freitas falou sobre os desafios enfrentados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MST: de acordo coma diretora, cerca de 80% da produção agrícola de consumo nacional provém de pequenos proprietários de terra e da agricultura familiar (Twitter/Reprodução)

MST: de acordo coma diretora, cerca de 80% da produção agrícola de consumo nacional provém de pequenos proprietários de terra e da agricultura familiar (Twitter/Reprodução)

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EFE

Publicado em 11 de fevereiro de 2019 às 11h18.

Berlim — O documentário "Chão", da cineasta brasileira Camila Freitas, se transformou neste domingo em um alto-falante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na sua estreia no Festival de Berlim, dentro da seção Forum, dedicada ao cinema de vanguarda e experimental.

Em entrevista à Agência Efe, a diretora se mostrou muito contente com a projeção de seu filme na Berlinale, "um festival muito importante e muito político" e, portanto, "o lugar ideal" para estrear seu documentário sobre o MST no momento em que o Brasil vive "um momento tão delicado e triste".

A situação para os sem terra nunca foi fácil e nestes 35 anos de existência, segundo Freitas, tiveram que enfrentar preconceitos, ameaças, assassinatos e uma exclusão sistemática.

Nos últimos 15 anos, com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff no poder, embora também não tenha havido uma verdadeira reforma agrária, existia a possibilidade de diálogo, de acordo com a cineasta.

"Agora as coisas realmente pioraram muito. Os fazendeiros estão no poder e farão todo o possível por pôr fim a todo tipo de ativismo a favor de uma reforma agrária", afirmou Freitas.

Segundo a cineasta, cerca de 1% dos fazendeiros possui quase metade de toda a terra cultivável no Brasil, que poderia ser muito mais produtiva ou que está reservada à agroindústria, que produz principalmente para a exportação.

Trata-se de um fato muito controverso, porque cerca de 80% da produção agrícola de consumo nacional provém de pequenos proprietários de terra e da agricultura familiar, frisou Freitas.

"Por isso acho que o que realmente temem é que este sistema mude, porque o que os sem terra propõem não se refere só à redistribuição da terra, mas também a uma mudança nas formas de produção. Também defendem práticas agroecológicas e uma organização diferente do trabalho", detalhou.

Nesse sentido, Freitas teme que, após tantos anos de luta, no contexto atual, o MTS acabe por desaparecer.

Em 2014, quando começou seu filme, o movimento vivia um momento bom com Dilma como presidente, "com muitas coisas pelas quais lutar e a possibilidade de um diálogo".

"Passaram os anos e tivemos um golpe de Estado, chegaram as forças conservadoras e ganharam mais e mais espaço, diante do que o movimento também se debilitou", lamentou.

Apesar de o movimento continuar sendo muito forte e estar presente em todo o país, Freitas relatou que "vimos gente que o deixou por medo".

O filme de Freitas, indicado ao prêmio de melhor documentário, mostra esta luta através dos olhos de uma comunidade de trabalhadores sem terra de Goiás, que em 2015 ocuparam parte do terreno de uma fábrica de cana-de-açúcar e exigem uma redistribuição da terra.

O filme documenta o dia a dia destes sem terra e lhes acompanha no seu trabalho no campo, seu ativismo político e nas suas conversas sobre um futuro melhor que passa por sonhar e desenhar sobre um quadro negro a estrutura do seu próprio pedaço de terra.

Freitas estabeleceu laços mais estreitos com alguns deles, em particular com uma mulher que a surpreendeu "pela sua força e sua determinação de mudar coisas e conseguir um pedaço de terra onde levar uma vida digna".

"A sua existência, a sua força e, ao mesmo tempo, sua finitude são parte deste processo interminável", destacou.

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