O diretor Feng Xiaogang, presidente do júri da premiação: gesto foi interpretado por muitos como uma crítica velada à censura (Alberto E. Rodriguez/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2014 às 14h46.
Pequim - A associação chinesa de diretores de cinema, que, todos os anos, tem sua premiação exibida pela TV, negou-se, nesta quarta-feira, a conceder os prêmios de melhor filme e diretor, um ato inédito, que muitos interpretaram como uma crítica velada à censura.
"Chegou o momento para nós de encontrarmos nossa razão de fazer filmes e de fazer com que a arte seja o coração de nosso cinema", disse o diretor Feng Xiaogang, presidente do júri da premiação.
Apesar de Feng não ter mencionado a censura, as palavras foram interpretadas por analistas independentes e por internautas como uma denúncia codificada da censura.
De acordo com eles, os diretores protestaram contra a impossibilidade de recompensar o colega Jia Zhangke, cujo filme "Tian zhu ding" (Um toque de pecado) está bloqueado pela poderosa Administração Estatal Chinesa de Cinema.
"É um ato político, um gesto bastante forte", disse à AFP um especialista ocidental do cinema chinês que pediu anonimato.
A fonte recordou que Feng já se posicionou publicamente contra a censura.
Chamado por muitos de "Spielberg chinês", Feng Xiaogang ganhou fama com várias comédias populares e também dirigiu superproduções como "1942", que mostra a terrível fome que afetou a região central da China.
Feng Xiaogang lamentou que na disputa com Hollywood os diretores chineses tenham sido empurrados para "uma corrente comercial" que provocou "uma queda do nível artístico e de seu espírito humanista".