George Lucas: "a única coisa que me arrependo de ter feito "Star Wars" é de não ter podido assistir como um espectador qualquer" (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2015 às 21h55.
Nova York - Um dia depois de o mundo conhecer o trailer de "Star Wars: O Despertar da Força", George Lucas reconheceu nesta sexta-feira no Festival de Tribeca que, finalmente livre dos trabalhos criativos da saga, espera com ansiedade a o momento em que poderá se sentar e assistir como um espectador qualquer.
"A única coisa que me arrependo de ter feito "Star Wars" é de não ter podido assistir como um espectador qualquer, sentir essa emoção. Agora finalmente poderei ver este novo episódio sem saber o que acontecerá", disse para um público hipnotizado em Nova York.
Em uma das conversas programadas pelo festival, Lucas foi entrevistado pelo jornalista e comediante Stephen Colbert, e embora tenham anunciado que não falariam do "Episódio VII" da lendária saga de Han Solo, Luke Skywalker e princesa Leia, foi inevitável surgir alguma referência.
"Espero que vá bem, que sejam bons filmes e que a saga tome outra direção", disse sobre esta etapa da multimilionária franquia que agora é dirigida por J.J.Abrams e que voltou a ter no alguns dos atores originais: Harrison Ford, Mark Hamill e Carrie Fisher.
Lucas, que também produziu "Indiana Jones" e que tem uma das mais bem sucedidas empresas de efeitos especiais, a Light & Magic, foi debulhando lembranças sobre como passou de querer ser motorista de carros de corrida ao homem mais rentável de Hollywood.
"Eu não era como Steven Spielberg ou Martin Scorsese, que viam filmes desde que eram crianças. Eu queria ser piloto de corridas, mas tive um acidente aos 18 anos e decidi voltar a estudar", reconheceu.
Ele se matriculou na Universidade de Cinema, quando na realidade tinha pensado em fazer a de fotografia, mas após realizar um curta-metragem, "Look at Life", que ganhou vários prêmios, pensou: "parece que isto sei fazer".
Na faculdade se deu conta de que existia um cinema clássico que nunca tinha visto na televisão e se apaixonou pelo cinema experimental e pela ficção científica, além de se tornar amigo de Francis Ford Coppola.
"Então o cinema não dava muito trabalho, mas conforme estudávamos, os donos dos grandes estúdios, que já tinham 80 anos, os venderam e buscaram jovens talentos nas escolas de cinema", lembrou, e assim nasceu o chamado "novo cinema americano" do que Lucas encabeçou junto com Scorsese, Spielberg e Coppola.
Quando realizou seu primeira filme, "THX 1138", Coppola, que estava rodando "O Poderoso Chefão" por encomenda, disse: "Deixe de robôs e faça uma comédia". Foi então como, quase como uma aposta, fez "Loucura de Verão", que tinha US$ 700 mil de orçamento e arrecadou mais de US$ 100 milhões.
Então chegou "Star Wars", mas também não foi fácil. Sua mitologia não recebeu a aprovação de ninguém do estúdio, nem de seus amigos. Brian De Palma, por exemplo, disse: "Que diabos é isto de força?".
Por isso, quando o filme estreou decidiu ir para o Havaí para virar a página e "vegetar". Depois de uma semana o chamaram do estúdio e disseram: "Liga a televisão".
"Foi então que soube do fenômeno em que tinha se transformado", lembrou e então mudou a política para os filmes seguintes.
"Não se ganha dinheiro fazendo filmes. Os produtores se consideram responsáveis de que o cinema aconteça, porque são eles que dão sinal verde aos projetos, mas na realidade não há nada de criativo nisso. Portanto, com o dinheiro que ganhei, contratei a mim mesmo como produtor e despedi o resto. Foi então que comecei a ficar rico", disse entre risos.
A fórmula do sucesso das aventuras da Millenium Falcon, para ele, se baseou em uma concepção do cinema "mudo, por assim dizer".
"Os filmes de "Star Wars" podem ser vistos por uma criança de dois anos que não entende as palavras, mas entende o filme. Para mim, o som é 50% dos filmes, mas não os diálogos. Os diálogos são só uma parte da trilha sonora", disse em tom provocador.
Lucas, o homem que nos anos 70 foi o mais visionário dos cineastas, hoje fez uma importante afirmação que desafia as novas tecnologias: "Meus filmes sempre serão feitos para serem vistos na tela grande de um cinema. Se alguém quer vê-los na televisão ou no telefone não me oponho, mas nunca adaptarei minha linguagem para estes formatos".
Finalmente, questionado sobre seus futuros projetos, disse: "Sempre quis voltar ao cinema experimental, mas sempre tinha que fazer um filme de "Star Wars", agora finalmente posso e é o que estou fazendo", disse.
"Só há duas maneiras de fazer cinema experimental: não tendo dinheiro e pedindo a todosos seus amigos ou tendo muitíssimo dinheiro e pagando pelo filme que você quer, como você quer e que provavelmente não chegará a estrear ", concluiu.