Cachaça: o setor movimenta cerca de 10 bilhões de reais por ano. (David Silverman/Getty Images)
Matheus Doliveira
Publicado em 13 de setembro de 2020 às 07h07.
Última atualização em 14 de setembro de 2020 às 15h12.
O Brasil comemora neste domingo, 13 de setembro, o dia nacional da bebida mais brasileira que existe: a cachaça. Estabelecida por decreto de lei como bebida nacional em 2018, o líquido derivado da cana-de-açúcar é ganha-pão de pelo menos 30.000 produtores, 98% deles, médios e pequenos, segundo dados do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça (CBRC) de 2019.
Seja como hobby ou negócio, um dos maiores atrativos para começar produzir a bebida é o baixo investimento. Com apenas 2.000 reais, é possível produzir sua própria cachaça.
Criada pelos senhores de engenhos para compensar o baixo preço do açúcar, a cachaça passou a exercer grande influência na economia brasileira e a incomodar a Corte Real Portuguesa, que detinha o monopólio comercial de vinhos e aguardente no Brasil. Com isso, a Coroa barrou a produção e venda da cachaça através de uma Carta Real. Revoltados por terem que pagar impostos e serem perseguidos por comercializarem a bebida, no dia 13 de setembro de 1661, os produtores se rebelaram na chamada Revolta da Cachaça. Por conta desse episódio, desde 2010, o dia 13 de setembro ficou conhecido como o “Dia Nacional da Cachaça”.
Hoje, 1,4 bilhão de litros de cachaça são produzidos todos os anos no Brasil, um mercado que movimenta cerca de 10 bilhões de reais todos os anos, segundo o Ministério da Agricultura. Apesar dos pequenos e médios produtores representarem 98% dos que fabricam cachaça, 70% do volume da bebida produzida é industrializada, e 30% feita em alambiques de cobre.
Segundo Leandro Dias, produtor de cachaça e criador de dois cursos que ensinam a produzir e comercializar a bebida, além do conhecimento técnico, fabricar sua própria cachaça em casa requer apenas dois equipamentos: um fermentador e um alambique/destilador. O baixo investimento, que inclui as ferramentas e capacitação técnica, gira entre 2.000 e 3.000 reais.
A cachada produzida em casa, no entanto, não pode ser comercializada. Caso o interesse do produtor seja esse, é necessário terceirizar a produção para indústrias que atendam aos critérios sanitários, um investimento que pode variar entre 3.000 e 10.000 reais para montar um primeiro estoque, de acordo com Leandro. "Na pandemia, muitas pessoas me procuraram querendo aprender a produzir cachaça. Abrimos o curso em maio já temos mais de 400 alunos", explica.
André Scampini era aluno de um curso que ensinava a produziconr cerveja artesanal. Na época, ele trabalhava com informática e decidiu fazer o curso apenas como um hobby. Depois de um tempo, decidiu parar com as produções caseiras, até que encontrou em uma rede social a propaganda do curso que ensina a fazer o próprio destilado. “Entrei no site e achei interessante a possibilidade de aprender, em casa, como produzir diversas bebidas”, afirma o empresário que terceirizou a produção e hoje exporta sua marca para os Estados Unidos e Alemanha.
De acordo com a publicação "A Cachaça no Brasil: Dados de Registro de Cachaças e Aguardentes", houve aumento de 9,73% na quantidade de marcas de produtos classificados como cachaça, que pulou de 3.648, no ano de 2018, para 4.003, no ano passado.
Ainda assim, nem tudo é tão doce quanto a matéria-prima da cachaçada, e a pandemia está aí para comprovar isso. Uma pesquisa do Euromonitor International relevou que a crise do coronavírus reduzirá em pelo menos 21,7% as vendas no setor da cachaça brasileiro, incluindo supermercados, bares e restaurantes. Antes da pandemia, a previsão era crescer 1,5% no ano de 2020.