Criada há quatro anos, a grife da cantora Luísa Sonza apresentou sua última coleção em julho (Divulgação/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 2 de setembro de 2020 às 15h30.
Última atualização em 3 de setembro de 2020 às 11h55.
É um fenômeno de fácil compreensão. Habituadas a lucrar com a promoção de marcas de terceiros, celebridades interessadas em montar suas próprias grifes já começam com larga vantagem — basta assumir o papel de garoto ou garota-propaganda. Com o advento das redes sociais, é coisa de uns poucos cliques.
Que o diga a Marina Ruy Barbosa, que soma 37 milhões de seguidores no Instagram. No final de julho, a atriz global deu vazão a um velho sonho e apresentou sua grife de roupas, a Ginger, em sociedade com Vanessa Ribeiro. Inspirada em seus cabelos ruivos, a marca diz defender a sustentabilidade e privilegiar matéria-prima e produtores brasileiros.
“Acredito em uma moda com olhar para o futuro, com mais atenção ao meio ambiente e preocupada com o impacto”, disse ela em um post no Instagram. “Até um produto chegar ao consumidor final, centenas de pessoas fazem parte daquele processo”
O lucro da primeira coleção-cápsula foi 100% revertido para a organização social Gerando Falcões, capitaneada por Edu Lyra, que conta com o apoio de empresários como Jorge Paulo Lemann, Abilio Diniz e Guilherme Benchimol, um dos fundadores da XP Investimentos.
A Ginger vende shorts a 367 reais, calças a 417 reais e blusas a 527 reais. Todas as peças são de algodão, têm tons pastéis e cortes que remetem aos anos 1990. As vantagens de ter uma celebridade no comando da grife: toda a primeira leva esgotou em um dia e a marca já soma quase 100 mil seguidores no Instagram.
Conhecida a ponto de emplacar 775 milhões de visualizações no YouTube com quatro singles, a cantora Luísa Sonza é uma das donas da marca de biquínis La Sirène. Criada há quatro anos, a grife apresentou sua última coleção em julho. É composta por quatro modelos batizados com nomes de músicas ligadas à artista — “Flores”, “Não vai embora”, “Tudo de Bom” e “Braba”.
O biquíni mais em conta custa 215 reais; o mais caro, 240 reais. Em prol da diversidade, a grade de tamanhos vai do P ao GG. “Não queria que minha marca não vestisse todo mundo. A ideia é levar roupas acessíveis para todos os corpos e fazer peças versáteis, que podem ser incorporadas no dia a dia”, diz ela. “Sempre elogiavam os biquínis que eu criava por conta própria. Quanto eu postava, muita gente perguntava de onde era”.
A cantora diz desenhar as peças ela mesma, o que inclui a coleção que presta tributo ao artista Romero Britto. “Adoro explorar esse meu lado mais empreendedor”, diz Luísa. Com 20,3 milhões de seguidores no Instagram, ela também se incumbe de divulgar os biquínis na rede social, na qual a grife já é acompanhada por 384 mil pessoas. “Vejo muito o que minhas seguidoras falam das peças, sempre leio as sugestões, porque quero que minha marca atenda às expectativas e não seja só mais uma no mercado”.
As redes sociais permitem que grifes de celebridades virem sucessos instantâneos. Em junho, o rapper Kanye West, ou Yeezy, como ele também é conhecido, anunciou por meio de um tweet o lançamento da YZY. Trata-se de uma collab com a Gap, que deve estar sorrindo à toa até agora. Depois do anúncio, as ações da varejista subiram mais de 31% e seu valor de mercado ganhou um acréscimo de 1,4 bilhão de dólares, totalizando 5 bilhões de dólares.
A YZY será voltada a homens, mulheres e crianças e, nas palavras da GAP, mira “conceitos básicos modernos e elevados” e “preços acessíveis”. O lançamento está previsto para 2021 e as peças serão vendidas nas lojas e no site da marca. A concepção está a cargo de West, que na adolescência trabalhou numa loja da rede. Divulgou-se que o rapper receberá royalties pelas vendas dos produtos e até uma porcentagem das ações, dependendo do resultado da parceria.
Na própria família do rapper há exemplos de outras celebridades que viraram empresárias de moda e beleza. A começar pela mulher dele, Kim Kardashian, dona da marca de cosméticos KKW Beauty. Em junho, por sinal, ela anunciou a venda de 20% da grife para a multinacional Coty por 200 milhões de dólares.
A trajetória de Kylie Jenner, uma das cunhadas de Yeezy, também não poderia passar sem registro. Foi graças à marca dela, a Kylie Cosmetics, conhecida pelos kits de batons e afins a 29 dólares, que a jovem foi apontada pela “Forbes” como a mais jovem bilionária. A irmã de Kim vendeu 51% de sua companhia também para Coty por supostos 600 milhões de dólares.
Depois, é verdade, a “Forbes” alegou que a celebridade tinha inflado as cifras que a cercam. Mas isso não apaga o estrondoso sucesso da Kylie Cosmetics, que soma 24,6 milhões de seguidores no Instagram.
Alçada a ícone das gerações mais novas graças ao seriado “Stranger Things”, do qual é a protagonista, a britânica Millie Bobby Brown, de 16 anos, criou no ano passado a Florence by Mills. Trata-se de uma marca de cosméticos criada sob medida para a Geração Z. Vende desde sabonetes faciais com antioxidante até adesivos de gel para melhorar o aspecto da região próxima dos olhos.
Adolescentes precisam disso? Talvez sim, talvez não. Mas quem vai discordar do que sustenta uma atriz com 35 milhões de seguidores no Instagram, muitos dos quais com a mesma idade que ela?