Casual

Curadores fazem escolhas difíceis no museu do 11 de Setembro

Memorial construído nas fundações do World Trade Center tem de dosar homenagem e tristeza com artefatos e fotos do ataque

A polêmica cruz é feita com o material das duas torres (AFP/Getty Images/Mario Tama)

A polêmica cruz é feita com o material das duas torres (AFP/Getty Images/Mario Tama)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2011 às 23h52.

Nova York - Os curadores do museu que lembrará os atentados de 11 de setembro de 2001, a ser inaugurado no lugar onde existiam as torres gêmeas do World Trade Center, precisam fazer escolhas difíceis para conseguir transmitir o horror daquele dia sem entrar no terreno da morbidez.

"Não estamos aqui para traumatizar nossos visitantes", disse Alice Greenwald, diretora do Museu Memorial Nacional do 11 de Setembro, a ser inaugurado no subsolo do "Marco Zero" no 11o aniversário do atentado, daqui a um ano.

"Artefatos monumentais são uma coisa, mas também temos uma história humana para contar", disse Greenwald.

Alguns dos itens mais perturbadores do acervo estão sendo reservados para serem expostos separadamente do espaço principal, em alcovas especiais que o visitante terá a opção de ver ou não.

É lá que os curadores do museu colocarão materiais como as imagens das pessoas se jogando dos arranha-céus em chamas, depois que os edifícios foram atingidos por aviões sequestrados por militantes da Al Qaeda, ou a gravação da controlada voz de uma comissária de bordo em um dos aviões, momentos antes da sua morte.

Decidir-se por expor exemplos dos dolorosos momentos finais de algumas das vítimas, mas sem causar mais tristeza para quem está vivo, foi um dos dilemas mais duros que os curadores encontraram para montar o tributo aos quase 3.000 mortos.


Para quem se dedica a evocar a memória de guerras e atrocidades, é um problema familiar.

"Não somos apenas um museu de história, somos também uma instituição memorial, então a tensão que acontece entre rememoração e documentação é um ponto contencioso", disse Greenwald numa entrevista no escritório do museu, com vista para as obras das futuras instalações, que ocuparão sete andares por baixo do terreno do World Trade Center.

Greenwald está acostumada a esses debates. Durante quase duas décadas, ela ajudou a criar exposições no Museu Nacional do Holocausto, em Washington, lembrando a morte de milhões de pessoas nas mãos dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

"A história do 11/9"

Greenwald e seus colegas sabem que há incontáveis objetos que poderiam sufocar o visitante.

Haverá fotos dos 19 sequestradores da Al Qaeda, mas a curadora disse que eles serão apresentados como "criminosos".

Outra questão difícil para os curadores era a de incluir ou não as perturbadoras fotos das vítimas que saltaram ou caíram das torres. Excluir totalmente tais imagens seria uma omissão séria, disse Greenwald. As fotos ficarão numa alcova claramente identificada com um alerta, e nenhuma das pessoas retratadas será identificável, acrescentou ela.

"Esse é um dos aspectos da história do 11/9 que, se você não incluir, não está contando a história."

Ao escolher as gravações de áudio das últimas palavras ditas por algumas das vítimas, o museu evitou alguns dos apelos mais assustadores ao serviço de emergência do telefone 911.

"Essa é uma forma de restos humanos", disse Greenwald. "Não vamos incluir nada que pareça um momento em que não deveríamos estar lá."


Em vez disso, os curadores escolheram gravações, com autorização das famílias das vítimas, que mostram o que Greenwald chamou de "natureza excepcional" de muitos dos mortos nos atentados. 

Isso inclui a voz notavelmente calma de Betty Ong, comissária de bordo do voo 11 da American Airlines, que narra detalhes do sangrento sequestro a colegas em terra, minutos antes da colisão do avião com a Torre Norte do WTC.

O museu já adquiriu centenas de itens pertencentes às vítimas, a sobreviventes e a socorristas.

O significado de um capacete de bombeiro terrivelmente esmagado é óbvio. Outros itens podem ser mais sutis na sua importância: sapatos empoeirados, uma carteira amassada, roupas, um tricô inacabado, uma boneca enegrecida -- itens banais, que assumiram o ar de relíquias.

O museu está sendo esculpido a partir da vastidão das fundações do World Trade Center, e incorpora parte de um muro de arrimo originalmente construído para conter as águas do rio Hudson, e que sobreviveu ao desabamento das torres.

Haverá uma exposição em homenagem aos 2.982 mortos no 11 de Setembro, e também no atentado a bomba de 1993 no World Trade Center que foi um prelúdio ao ataque posterior. A saída do museu foi projetada para que os visitantes se vejam no coração do Memorial do 11/9 -- cascatas instaladas no meio das "pegadas" deixadas pelas torres gêmeas, cercadas por painéis de bronze com os nomes dos mortos.

"Para cada história de cortar o coração há dez histórias sobre a bondade dos seres humanos", disse Greenwald. Os futuros visitantes do museu, acrescentou ela, "vão sair com muita coisa para pensar."

Acompanhe tudo sobre:11-de-SetembroAl QaedaAtaques terroristasEstados Unidos (EUA)IslamismoPaíses ricosTerrorismo

Mais de Casual

8 restaurantes brasileiros estão na lista estendida dos melhores da América Latina; veja ranking

Novos cardápios, cartas de drinques e restaurantes para aproveitar o feriado em São Paulo

A Burberry tem um plano para reverter queda de vendas de 20%. Entenda

Bernard Arnault transfere o filho Alexandre para a divisão de vinhos e destilados do grupo LVMH