A escritora canadense Alice Munro: apesar do sucesso e de vários prêmios literários nos últimos 40 anos, a autora sempre manteve a discrição (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2013 às 11h42.
Montreal - A escritora canadense Alice Munro, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, ficou famosa ao escrever relatos curtos sobre mulheres e baseados na vida rural em Ontário, o que a levou a ser comparada a Chekhov.
Apesar do sucesso e de vários prêmios literários nos últimos 40 anos, a autora de "Felicidade Demais", "Fugitiva" e "O Amor de uma Boa Mulher", entre outros, sempre manteve a discrição, assim como seus personagens, essencialmente mulheres. Nos textos, ela nunca destaca a beleza física, provavelmente um reflexo das influências puritanas que marcaram sua infância.
"Não é uma escritora mundana, raramente é vista em público, não comparece aos lançamentos de livros", comentou David Homel, escritor, tradutor e crítico literário americano que mora em Montreal.
Munro, portanto, é completamente distinta de Margaret Atwood, a outra grande dama da literatura anglófona canadense.
Nascida em 10 de julho de 1931 em Wingham, oeste da província de Ontário, conheceu de perto a sociedade rural. Seu pai, Robert Eric Laidlaw, era um criador de raposas e aves de curral e sua mãe foi professora.
Na adolescência, decidiu que seria escritora, um caminho do qual não desviou ao longo da vida.
"Não tenho nenhum outro talento, não sou uma intelectual e tenho um desempenho ruim como dona de casa. Nada poderia vir a perturbar o que eu faço", disse Munro há alguns anos.
Seu primeiro livro, "The Dimensions of Shadow", foi publicado em 1950, quando era estudante da Universidade Western Ontario.
No período como estudante universitária conheceu James Munro, com quem casou em 1951 e se mudou para Vancouver (oeste do Canadá). O casal teve quatro filhos. Em 1963, a família se mudou para Victoria e abriu a livraria 'Munro's Books', um local que ganhou fama no Canadá e Estados Unidos.
Alice Munro recebeu o prêmio 'Governor General' por sua primeira coleção de contos, "Dance of the Happy Shades", editada em 1968. Recebeu outros prêmios e láureas no exterior, enquanto seus contos curtos, geralmente baseados na vida simples do condado de Huron, em Ontário, foram publicados em revistas de prestígio como The New Yorker e The Atlantic Monthly.
"Ela escreve sobre mulheres e para mulheres, mas não amaldiçoa os homens", afirma David Homel.
Seus temas e seu estilo, marcado pela presença de um narrador que explica o sentido dos acontecimentos, a levaram a ser chamada de "nosso Chekhov" pela escritora americana de origem russa Cynthia Ozick.
Após o divórcio em 1972 se instalou como "escritora residente" na Universidade de Western Ontario. Em 1976 casou com Gerald Fremlin, um geógrafo falecido em abril de 2013 e com quem viveu em sua província de origem.
Uma de suas histórias, "Away from Her", foi adaptada para o cinema pela atriz e diretora Sarah Polley em 2007 e teve como protagonista Julie Christie. "Longe Dela" (no Brasil) recebeu duas indicações ao Oscar: atriz e roteiro adaptado.
Em 2009 recebeu o prestigioso Man Brooker Internacional Prize antes de revelar que havia derrotado um câncer, doença que afetou uma de suas heroínas em um relato publicado em fevereiro de 2008 na revista New Yorker.
"Alice Munro é conhecida sobretudo como uma autora do relato curto, mas ela apresentou tanta profundidade, sabedoria e precisão em cada história como o fazem a maior parte dos romancistas em toda sua obra", justificou o júri do Nobel.
"Ao ler Alice Munro cada vez se aprende alguma coisa que você não havia pensado antes", completou o comitês.
Com grande lucidez, aos 82 anos, Munro publicou em 2012 "Dear Life", que pode ser a 14ª e última compilação de contos, disse ela, após explicar que desejava seguir o exemplo do americano Philip Roth.