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Como vai ficar o mercado de relógios de luxo em 2025?

Depois de uma explosão de vendas e preços após a pandemia, a demanda diminuiu e os preços dos usados caíram. Esse ponto de equilíbrio é ótima notícia para o consumidor

Relógios: mercado em equilíbrio (Leandro Fonseca/Exame)

Relógios: mercado em equilíbrio (Leandro Fonseca/Exame)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 06h30.

Última atualização em 27 de dezembro de 2024 às 17h31.

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Depois de três anos seguidos de aumento de vendas de relógios de luxo, 2024 deve registrar uma queda. Pequena, mas ainda assim uma queda. Da mesma forma, o preço das peças no mercado de segunda mão vem caindo, depois de altas consecutivas.

Significa que esse mercado está em baixa, que o apetite por relógios pelo consumidor diminuiu?

Não. Isso quer dizer apenas que, ao que tudo parece, estamos entrando em um ponto de equilíbrio, mais saudável para o mercado e para o consumidor. E isso provavelmente deve se manter em 2025. Entenda a seguir o cenário.

Explosão de vendas no pós-pandemia

Relógios mecânicos, essas peças no pulso que marcam a hora igualzinho a um celular, explodiram de vender logo após pandemia, mesmo a preços altos, tanto no varejo como no mercado secundário. Como se o tempo tivesse parado e tivéssemos de repente voltado à era analógica.

Em 2020, por razões óbvias, as vendas caíram. As viagens estiveram congeladas e as manufaturas sofreram com a falta de componentes. Em 2021, o mercado mostrou uma surpreendente recuperação, com um total de 22,3 bilhões de francos suíços em exportações. Isso significou um aumento de 2,7% em relação a 2019, o ano pré-pandemia. E um surpreendente incremento de 31,2% na comparação com 2020, segundo dados da Fédération de l’Industrie Horlogére Suisse.

E o crescimento continuou. Em 2022 foram registrados 24,8 bilhões de francos suíços em exportações de relógios, um aumento de 11,4% em relação ao ano anterior. E 2023 foi ainda melhor, com 26,7 bilhões de francos suíços. Parecia que o teto do mercado de relógios não teria fim.

Mas eis que chegamos ao fim de 2024 com uma ligeira desaceleração. Até novembro, foram registrados 23,9 bilhões de francos suíços em exportações, o que aponta uma queda de 2,7% em relação ao ano anterior. Um indicativo de um momento mais saudável do mercado, sem tanta especulação, um cenário que deve marcar 2025.

O que explica o crescimento do mercado

Em primeiro lugar, é preciso entender por que o mercado disparou na pandemia. Segundo consultorias como Morgan Stanley e Deloitte, os preços no varejo de relógios de luxo subiram, em média, cerca de 7% a 12% entre 2020 e 2022, variando por marca e modelo.

No mercado secundário essa variação foi ainda maior. O Índice Bloomberg Subdial Watch, que monitora os preços de 50 dos modelos mais populares no mercado secundário, apontou que os preços subiram cerca de 100% entre o início da pandemia, em 2020, e o pico registrado em 2022.

Alguns motivos explicam o crescimento tanto de vendas como de preço dos relógios.

Liquidez: Com a restrição de viagens e restaurantes fechados, parte da renda voltada para entretenimento passou a ser destinada a bens de consumo.

Alta demanda: Novos compradores entraram no mercado, buscando relógios como investimento.

Escassez de oferta: Com a interrupção na produção e logística global, a oferta de novos modelos foi limitada. O que fortaleceu o mercado de segunda mão.

Especulação: Modelos icônicos, como o Patek Philippe Nautilus e o Rolex Daytona, viraram ativos altamente desejados.

Ligeira queda nas vendas em 2024

Neste ano o mercado ainda se manteve aquecido, apesar do pequeno decréscimo. Modelos de relógios mais desejados, como o Daytona, ainda tem fila de espera nas lojas. Os preços dos novos seguem subindo. Espera-se uma correção na Rolex já em janeiro.

Mas aquele frisson arrefeceu. Nem todos os fabricantes e varejistas sofreram, é verdade. O grupo Seiko e a varejista Watches of Switzerland reportaram crescimento nas vendas em seus últimos trimestres. Já os conglomerados maiores, como a divisão de relógios da LVMH, o Richemont e o Swatch, têm registrado ligeira queda nas vendas em seus últimos balanços.

Essa perda de força aconteceu pelo excesso de oferta das fabricantes suíças com um cenário de desaceleração econômica global, especialmente na China e em Hong Kong, dois dos maiores mercados de luxo.

Já no mercado secundário a correção de rota foi maior. Entre 2021 e 2022, muitos relógios custavam mais no mercado secundário do que na loja. O mesmo modelo. Claro, devido a todos os faores que já comentamos, a emanda era maior do que a oferta.

Nos últimos dois anos, o Índice Bloomberg Subdial Watch apresentou uma queda de aproximadamente 40% no preço dos relógios de segunda mão desde o pico de valorização registrado em 2022. Alguns relógios continuam em alta, como alguns modelos da Rolex e da Cartier. Mas essa não é a regra.

O mundo dos relogios é dos aficionados

Charles Tian, fundador da WatchCharts, disse ao site Business of Fashion que o momento é de “um mercado do comprador”, no qual os relógios demoram mais a serem vendidos e os consumidores estão mais pacientes.

Segundo um alto executivo de uma das maiores marcas de relógio no Brasil, esse ajuste nas vendas diretas e no mercado secundário está afugentando consumidores que entraram nesse mercado nos últimos anos apenas para especular, que compraram relógios de alto valor apostando nessa valorização.

Segundo ele, também não é esse o cliente que interessa às manufaturas, já que isso só alimenta o mercado de segunda mão. O especulador compra, espera o preço subir e vende. “O mundo dos relógios pertence aos aficionados, a quem realmente dá valor para as peças icônicas, e não para quem quer comprar e vender para ganhar dinheiro. São esses consumidores que vão ficar daqui por diante”, afirma.

Relógios mais sofisticados e femininos

E quais as tendências nesse mercado? Nesses últimos anos, marcas como Rolex, Tudor, IWC, Panerai, Montblanc e mesmo a TAG Heuer, ligado historicamente ao universo automotivo, estão lançando peças mais caras, com complicações, pedras preciosas e modelos em ouro e platina, que custam a partir de 10 mil dólares.

As manufaturas parecem considerar que vale mais a pena vender menos peças a preços mais altos do que investir em volume. Em 2024, até novembro, foram exportados 1,4 milhões de relógios, quase 10% a menos do que em 2023.

Por outro lado, a aposta das manufaruras em modelos mais sofisticados e mais caros favorece marcas independentes, que conseguem oferecer relógios de qualidade a preços de entrada. A marca brasileira Statera é um exemplo.

Modelos femininos estão em alta também, e essa pode ser uma oportunidade para os próximos anos, especialmente para marcas como Cartier e Bvlgari, que têm no design seu maior atrativo.

Por fim, o dólar alto no Brasil deve levar a um reajuste no preço das peças nos próximos meses, o que pode frear momentaneamente as vendas diretas e levar a um novo aquecimento no mercado secundário. O tempo, de preferência marcado por um relógio mecânico, dirá.

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