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Com sustentabilidade e legado, sempre teremos Paris

Paris 2024 marca 100 anos desde a última vez que sediou os Jogos Olímpicos, e muita coisa mudou desde então

Paris: sede dos Jogos Olímpicos de 2024. (Olympics/Divulgação)

Paris: sede dos Jogos Olímpicos de 2024. (Olympics/Divulgação)

Taiza Krueder
Taiza Krueder

CEO do Grupo Clara Resorts

Publicado em 20 de julho de 2024 às 07h01.

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Uma candidatura às Olimpíadas envolve planejamento, infraestrutura e compromisso com o legado dos jogos. O Comitê Olímpico Internacional (COI) escolhe a sede com base em critérios como capacidade de organização, instalações esportivas, transporte e sustentabilidade.

Tóquio 2000 foi exemplar. Por causa da pandemia, os Jogos Olímpicos foram adiados em um ano e ocorreram de 23 de julho e 8 de agosto de 2021 e em tão curto período a capital japonesa não somente conseguiu adaptar a infraestrutura para garantir a segurança sanitária de todos os participantes, como implementou protocolos rígidos para atletas, juízes, voluntários e torcedores.

E ao contrário de Atenas 2004, com obras atrasadas às vésperas das Olimpíadas, rastro de dívidas e elefantes brancos que deixou à Grécia, em Tóquio antes mesmo de 2022 todas as infraestruturas permanentes foram concluídas a tempo, incluindo estádios e arenas com design arquitetônico inovador, sem contar no reaproveitamento de espaços legados pela outra edição dos jogos ocorrida na capital do Japão, em 1964.

Para outras cidades, os Jogos Olímpicos foram o momento decisivo no qual elas se reinventaram e mudaram suas histórias. Antes das Olimpíadas, Barcelona 1992 era frequentemente considerada uma cidade “de costas para o mar”. Um dos legados mais evidentes, os jogos proporcionaram a incorporação de mais 4 km à área litorânea, uma herança duradoura que refez a conexão da população e turistas com o mar. Mas também tiveram um efeito colateral: uma horda de turistas inunda desde os jogos a capital catalã, gerando insatisfação em parte da população – recentemente, em imagens que viralizaram mundialmente, munícipes “atiraram” jatos em turistas com pistolas de água nas ramblas.

Enquanto parte de Barcelona se revolta contra o turismo massivo, a capital francesa se abre para o mundo. Paris 2024 marca 100 anos desde a última vez que sediou os Jogos Olímpicos, e muita coisa mudou desde então. E esta edição do megaevento poliesportivo promete mais mudanças – e legados – aos parisienses e seus visitantes, pois foi projetada com um foco significativo na sustentabilidade.

Isso me empolgou ainda mais a estar na capital francesa, onde residi durante a Copa do Mundo 1998 e ralei muito em longas jornadas em restaurante, e mais que depressa garanti ingressos em uma série de modalidades. Além de torcer muito pelos atletas brasileiros – em especial as brasileiras, que já são a maioria da delegação de nosso país – e usufruir das benesses de Paris, queria conferir in loco as iniciativas em sustentabilidade, como a utilização de madeira certificada, cimento de baixa pegada de carbono e materiais recuperados que reduzem as emissões em 30% em comparação aos métodos tradicionais de construção.

Além disso, as instalações esportivas construídas serão posteriormente adaptadas para uso público após o evento, incluindo espaços verdes, ciclovias e áreas de lazer. E investimentos em transporte público, como expansão de linhas de metrô – e olha que Paris já é super-ramificado em linhas de trens – e melhorias nos sistemas de ônibus, tornando os modais mais eficientes e reduzindo a dependência de veículos particulares.

Os desafios para Paris 2024

Mas nem tudo são flores na Cidade Luz. A despoluição do Senna tem sido um dos maiores desafios para os Jogos Olímpicos. É incerto que o rio que serpenteia Paris estará 100% limpo para as provas de triatlo e maratona aquática, mas é mais que certo que a medida futuramente resultará em melhorias duradouras na qualidade da água e de vida da população. E não é somente o rio que será palco inusitado de provas esportivas. Outras modalidades ocorrerão em locais icônicos de Paris: a escalada esportiva, no prédio da Ópera Garnier; a esgrima, no Grand Palais, local de exposições e eventos; e o hipismo, no Domaine de Chantilly, um cenário elegante e histórico.

São todos esportes que nós, brasileiros nascidos no “país do futebol”, nada ou pouco valorizamos, infelizmente. Por isso, as Olimpíadas são também uma oportunidade única de conhecê-los e fazê-los conhecer a nossos filhos. Dar continuidade e notoriedade a modalidades esportivas é também uma prática sustentável. Promover a participação esportiva desde a infância é fundamental. Investir em programas esportivos nas escolas e comunidades ajuda a criar um legado duradouro.

Como se vê, quando se trata de Jogos Olímpicos e outros megaeventos esportivos como Copa do Mundo, “sustentabilidade e legado” é o lema que veio para ficar. O espetáculo promete já desde a cerimônia de abertura que, pela primeira vez, não acontecerá em um estádio. Ousada, original e única como Paris é, a festividade será realizada ao longo do Sena, com atletas desfilando em barcos, cruzando a cidade por 6 km, e gratuito para muitos espectadores.

Não tenho dúvidas que a abertura das Olímpiadas Paris 2024 ficará para sempre em nossas memórias – e também as competições e seus vencedores. Que venham as medalhas ao Time Brasil! E se não vierem como esperamos, façamos como Rick Blaine, de Humphrey Bogart, sussurrou para a Ilsa Lund, de Ingrid Bergman, na cena final de “Casablanca”: “Sempre teremos Paris…”.

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