Neymar Jr e Mauro Icardi, de máscaras, chegam para treinar antes da final da Liga dos Campeões 2020, em Lisboa (Paris Saint-Germain Football/PSG/Getty Images)
Guilherme Dearo
Publicado em 21 de agosto de 2020 às 09h00.
De clube médio no cenário internacional e com dificuldades para conquistar títulos mesmo dentro da França, para uma das potências europeias e com domínio absoluto dentro do país. Este foi o salto que o Paris Saint-Germain deu no futebol em nove anos, em um projeto que começou em 2011 e segue forte com o investimento bilionário do Catar. Os reforços contratados a cada temporada fizeram a equipe mudar de patamar, ganhar respeito e qualidade dentro de campo. Agora, o clube francês está a apenas um jogo de realizar o sonho estipulado desde o início da parceria: conquistar a Liga dos Campeões da Europa.
Para isso, o PSG de Neymar, Mbappé e companhia vai disputar a final da competição pela primeira vez em sua história e precisa vencer o gigante Bayern de Munique, neste domingo às 16h (horário de Brasília), no estádio da Luz, em Lisboa. Com cinco títulos conquistados, o time alemão é um daqueles adversário tradicionais que tem a força no mundo que o Paris almeja alcançar.
Na busca por este objetivo, o dinheiro catari tem sido fundamental. O projeto começou em junho de 2011, quando o clube foi comprado por um fundo de investimento do Catar, o QSI (Qatar Sports Investments), empresa ligada ao QIA (Qatar Investment Authority), que é um órgão do Governo especializado em fazer investimentos para diversificar a economia e fazer com que este país árabe ganhe projeção internacional. O PSG, assim como a candidatura que valeu o direito de ser sede da Copa do Mundo de 2022, são as formas através do esporte que o Catar encontrou para se sobressair na rivalidade política com outros países do Oriente Médio, como Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, todos bastante ricos graças à exploração de petróleo e gás natural.
Oficialmente, o dono do QSI e consequentemente também do Paris Saint-Germain é o emir do Catar, o xeque Tamim bin Hamad al-Thani. É ele o homem da grana e quem manda. Mas na prática o responsável por gerenciar este projeto é Nasser Al-Khelaifi, CEO do fundo de investimentos do Catar e presidente do PSG , um ex-tenista profissional e amigo pessoal do emir.
Desde junho de 2019, Leonardo voltou ao clube como diretor esportivo, cargo que ele já tinha ocupado entre 2011 e 2013. O ex-jogador brasileiro tem papel importante nesta mudança de patamar do PSG e na evolução do clube no cenário nacional e internacional. Quando começou o trabalho em sua primeira passagem pelo Parque dos Príncipes nove anos atrás, em seu discurso de apresentação, ele demonstrou clareza ao falar sobre os objetivos ambiciosos da equipe.
“Acho que Paris é a única grande capital europeia, com um grande estádio e uma grande torcida que não tenha uma equipe competitiva na Europa. Em 41 anos, o Paris Saint-Germain ganhou duas vezes o Campeonato Francês. Alguma coisa acontece. O mais importante é mudar a mentalidade do clube e, para isso, temos que correr riscos. Queremos construir uma estrutura duradoura, que seja capaz de gerar lucros. Os proprietários do Catar me deram palavras de ordem a longo prazo”, disse na época Leonardo, que ainda afirmou que vencer a Champions League seria um “sonho”, mas “não é impossível”.
“Todas as equipes que ganharam a Liga dos Campeões tinham duas estrelas e o restante dos jogadores com a mentalidade de ganhar. Não se pode ter 11 Pelés, mas é preciso ter a mentalidade da conquista. Isso é o que queremos construir”.
Desde 2011, já foram gastos 1,2 bilhão de euros em 54 jogadores contratados. Nesses nove anos, apenas Barcelona e Manchester City, com 1,3 bilhão de euros cada, gastaram mais no mundo inteiro. O atleta mais caro, Neymar, é justamente o símbolo do PSG atual e principal responsável pela equipe ter chegado à inédita final da Champions League. O atacante brasileiro, que estava no Barcelona, chegou em agosto de 2017 depois que o clube parisiense desembolsou 222 milhões de euros, na maior transferência já realizada no futebol. O outro grande destaque do time desembarcou no Parque dos Príncipes um mês depois, o jovem atacante francês Kylian Mbappé, contratado junto ao Mônaco por 145 milhões de euros.
Mas antes de o Paris Saint-Germain investir nessas duas estrelas que estão entre os melhores do mundo, a diretoria trouxe dezenas de outros reforços. Na temporada 2011/2012, a primeira da era Catar, a principal contratação foi o argentino Javier Pastore, ex-Palermo, por 42 milhões de euros. Também chegaram nomes como Matuidi e os brasileiros Maxwell, Alex e Thiago Motta. Nos anos seguintes, o PSG trouxe vários jogadores renomados e também jovens que cresceram ao longo do tempo, como Ibrahimovic, David Beckham, Thiago Silva, Lucas Moura, Marquinhos, Verratti, Cavani, Daniel Alves, Buffon, entre outros.
Além de contratar bastante, o Paris dificilmente perde jogadores antes do fim do contrato. Com dinheiro de sobra no Catar e ótima saúde financeira, vender os craques do time para fazer caixa não é uma necessidade. Muito pelo contrário. Alguns atletas, como o zagueiro Marquinhos e mais recentemente Neymar, tiveram proposta do Barcelona e negociaram para sair, mas os dirigentes fizeram jogo duro e não aceitaram os milhões que foram oferecidos.
Neste período de nove anos, o PSG conquistou sete dos nove títulos do Campeonato Francês que tem em sua história. Antes disso, o clube que foi fundado em 1970 só tinha sido campeão em 1986 e 1994. Desde 2011, também foram conquistadas cinco taças da Copa da França e seis da Copa da Liga Francesa. Dos 43 títulos de sua história, 25 foram conquistados depois da compra pelo Catar, o que representa 58% do total. Dentro do país, atualmente o time da capital não tem adversários à altura e nos últimos anos ganhou com certa facilidade a maioria dos confrontos mesmo contra rivais como Olympique de Marselha e Lyon.
O grande objetivo, porém, sempre foi o título da Liga dos Campeões da Europa, o que está próximo de acontecer nesta temporada depois de algumas frustrações anteriores. Os dois traumas mais recentes aconteceram nas oitavas-de-final de 2018 e 2019, quando o time não contou com Neymar, que tinha lesionado o quinto metatarso do pé direito, e foi eliminado por Real Madrid e Manchester United. Em 2017, também nas oitavas, o PSG caiu ao tomar uma virada histórica do Barcelona por 6 a 1, depois de ter vencido por 4 a 0 no duelo de ida.
Depois da vitória na semifinal da última terça-feira, sobre o Leipzig por 3 a 0, na capital portuguesa, o presidente Nasser Nasser Al-Khelaifi se mostrou animado com a oportunidade inédita do time francês disputar a decisão.
“Isso é um sonho e eu espero que esse sonho continue. Para mim, para o clube, nós estamos muito felizes em dar essa alegria aos torcedores. Eles estão à espera desta vitória há muito tempo. Desde 2011 com a nossa chegada, o nosso sonho tem sido a Liga dos Campeões e estamos perto do nosso sonho. Não queremos parar aqui, nós merecemos este troféu”, afirmou o dirigente.
Se vencer o Bayern neste domingo, o Paris Saint-Germain se tornará o segundo time da França a ser campeão da Liga dos Campeões da Europa, repetindo o feito do rival Olympique de Marselha em 1993. Com craques em campo e dinheiro no bolso garantidos desde o começo da era Catar, o troféu da Champions League é o que falta para o PSG mostrar esportivamente o mesmo poder que já tem financeiramente e entrar de vez na galeria dos grandes clubes do mundo.