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Christopher Nolan leva astrofísica às telas com ‘Interestelar’

Tratando de conceitos como gravidade, buracos negros e quinta dimensão, diretor de 'Batman' e 'A Origem' brilha com mais uma obra densa e cerebral

interestelar (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 5 de novembro de 2014 às 16h20.

O inglês Christopher Nolan foi ainda mais elogiado pelo trabalho feito na trilogia Batman, mas também é conhecido por ser um autor de obras cerebrais – em especial após “A Origem”, ou “Inception” (2010). No longa-metragem protagonizado por Leonardo Di Caprio, o diretor viaja pelos limites da consciência humana, colocando os sonhos no centro do enredo. Mas em sua nova produção, “Interestelar”, o também roteirista adentra em um campo ainda mais denso – e mais exato –, cientificamente falando: o da astrofísica.

A história não dá muitas pistas disso e foca na vida do fazendeiro Coop (Matthew McConaughey, muito bem encaixado no papel), que vive em uma cidade do interior, em um lugar não especificado dos EUA. A casa é dividida com sua filha Murph (a ótima Mackenzie Fox quando pequena, seguida pela também ótima Jessica Chastain quando adulta), seu filho Tom (Timothée Chalamet e depois Casey Affleck) e seu sogro Donald (John Lithgow), enquanto a vizinhança é formada por outras famílias, não apresentadas, exercendo a mesma função de agricultor.

O período é um futuro apocalíptico não muito distante, enquanto o cenário maior é uma Terra com os recursos quase esgotados. Depois de avançarem enormemente no campo tecnológico, os seres humanos se veem forçados a retroceder quando a produção de alimentos começa a não dar conta de sustentar a todos. Uma praga misteriosa também começa a limitar a variedade de itens que podem ser cultivados, ao ponto de sobrar apenas o milho, enquanto frequentes tempestades de areia minam aos poucos a saúde dos habitantes do planeta.

Para evitar maiores gastos, programas de pesquisa financiados com dinheiro dos governos em vários países são cancelados, e mesmo universidades passam a formar menos engenheiros, por exemplo, por “falta de necessidade” de mão de obra especializada. A crença na ciência desaparece, mas nem tudo é deixado de lado, como é mostrado posteriormente, depois de um início de filme mais lento e dramático. A NASA segue ativa, escondida, e planeja salvar a raça humana com planos ambiciosos para colonizar outros planetas bem distantes. E é aqui que a viagem científica de Nolan começa de fato.

A aula de física do professor Nolan – O personagem de McConaughey, Coop, é um astronauta que nunca teve muitas chances, e graças a um estranho fenômeno que acontece em sua casa acaba envolvido na missão proposta pelo Professor Brand (Michael Caine). A ideia é aproveitar um wormhole (ou buraco de minhoca) que se abriu próximo a Saturno para viajar a uma nova galáxia, distante vários anos-luz da Terra e já visitada por outros astronautas incentivados pelo “heroico” Dr. Mann (Matt Damon).

O trajeto, no papel, levará anos, conforme alertou o velho pesquisador e físico, e os exploradores passarão uma boa parte dormindo. A comunicação com o planeta natal poderá ser feita apenas ocasionalmente, e por vezes sem permitir o envio de mensagem – o que provoca as cenas mais comoventes do filme. Mas não teríamos uma história se Coop não aceitasse encarar a jornada, acompanhado de Amelia Brand (Anne Hathaway), Doyle (Wes Bentley) e Romilly (David Gyasi).

Além das menções ao buraco de minhoca, os elementos da física começam a aparecer e ser explicados com cada vez mais frequência. Depois da passagem entre galáxias, os viajantes – e os espectadores – logo são apresentados a distorções no espaço-tempo, a uma quinta dimensão e a um enorme e assombroso buraco negro, espetacularmente bem criado, em volta do qual circulam alguns dos planetas que podem ser visitados.

No entanto, corpos mais próximos da falha espacial, chamada Gargantua, veem o tempo passando mais rápido, como alerta um dos tripulantes – uma hora em um deles renderia sete anos longe deles. E apesar do conceito “cabeludo”, a relatividade – ideia de que o tempo passa mais lentamente em um corpo em movimento acelerado – exerce um papel importante aqui. Relacionada à força gravitacional do buraco negro, que faz o planeta girar mais rapidamente, ela provoca a sensação de urgência (e até frustração). E esse sentimento enche a segunda metade do filme, que como um todo é cheio de momentos que podem fazer lágrimas escorrerem.

Criado com a ajuda do físico Kip Thorne, o buraco negro Gargantua é uma "simulação de precisão nunca antes vista", segundo reportagem da Wired (Reprodução / Wired)

Para colaborar com a tensão, os viajantes também descobrem que são poucos os lugares em que conseguirão entrar – mas todos eles são assustadoramente bem representados na obra. O mesmo vale para as viagens espaciais a bordo da Endurance e das manobras ousadas feitas por Coop, que assustam até a dupla de robôs da tripulação, CASE e TARS – duas máquinas cheias de personalidade e de nomes até humanos, mas longe de parecerem com uma pessoa.

São as manobras de roteiro de Nolan, porém, que assustam de verdade, e graças à forte relação da história com os conceitos apresentados no decorrer do longa-metragem. Talvez fique óbvio dependendo de quem assiste, mas a reviravolta que envolve o desfecho da viagem é dos mais surpreendentes, especialmente por explorar (e talvez até brincar com) as ideias de buraco negro e de modificações na hipotética quinta dimensão, o tempo. Pode confundir, sim, mas relacionar os conceitos físicos com o enredo é algo que o diretor consegue fazer com maestria – embora mesmo ele não seja o primeiro a conseguir.

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