Chocolate Marou, do Vietnã: artesãos estão ganhando seguidores locais e prêmios gourmet de Londres a Paris (Marou/Facebook/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 1 de abril de 2019 às 05h00.
Última atualização em 1 de abril de 2019 às 05h00.
Molho de soja e sopas de macarrão não são a melhor combinação para o chocolate, mas uma crescente safra de fabricantes de chocolate artesanal está se atrevendo a tentar — e está conseguindo — no mais improvável dos lugares.
Na Cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã, barras de chocolate de classe mundial recebem dos artesãos um toque de especiarias para um confeito “pho”. Nas Filipinas, fabricantes de chocolate estão misturando molho de soja com seus doces, enquanto na Indonésia chocolatiers adicionam aroma de tabaco ao cacau.
Quase todos esses chocolatiers se identificam como “bean to bar”, ou confeitarias com um único fornecedor, que compram localmente de pequenos produtores de cacau e depois torram e fermentam os grãos até a perfeição. Embora criem seus sabores regionais, esses fabricantes de chocolate têm muito em comum: são pioneiros que arriscam.
“Toda o cenário do chocolate no Sudeste Asiático é muito novo”, diz Vincent Mourou, que desistiu de uma carreira como publicitário em San Francisco há nove anos para fazer chocolate no Vietnã. “Fomos rejeitados por muita gente. O Vietnã não fabricava chocolate.”
De fato, o trabalho desses fabricantes é dificultado em climas tropicais, onde o chocolate derrete tão rápido quanto o gelo em dias quentes e úmidos. Mas talvez o desafio mais difícil seja atrair consumidores domésticos, que não têm fama de gostar muito de chocolate. Os asiáticos consomem muito menos chocolate do que americanos e europeus, que devoram mais da metade do chocolate mundial todos os anos — 5,4 milhões de toneladas, em comparação com as meras 867 mil toneladas da Ásia-Pacífico, segundo a Euromonitor International.
A crescente safra de artesãos está ganhando seguidores locais e prêmios gourmet de Londres a Paris e, lentamente, conquistando amantes de chocolate em todo o mundo.
Krakakoa, Indonésia
Sabrina Mustopo, diretora-presidente da Krakakoa e ex-analista da McKinsey especializada em mudança climática e agronegócio, diz que fundou sua empresa há seis anos para ajudar produtores indonésios a conquistar uma fatia maior do mercado doméstico para seus grãos de cacau. "Observamos as tendências macroeconômicas e há uma correlação muito forte entre [o produto interno bruto] e o consumo per capita de chocolate". A crescente classe média da Indonésia e a economia em expansão proporcionam aos agricultores um mercado novo e lucrativo.
A Krakakoa trabalha com pequenos agricultores na província de Lampung, cerca de 250 quilômetros ao nordeste de Jacarta, oferecendo treinamento para a plantação e colheita de grãos de forma sustentável, que depois são vendidos para a Krakakoa a um preço acima do mercado, de US$ 3.000 por tonelada, o que garante uma boa renda aos agricultores. Os típicos grãos fermentados custam até US$ 4.200 por tonelada.