Pessoas seguram cartazes com imagens de capa do jornal Charlie Hebdo: renda da exposição será revertida às famílias de vítimas dos 17 mortos dos atentados (Ozan Kose/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de janeiro de 2015 às 08h57.
Paris - Um brasileiro, o artista plástico Rudi Sgarbi, está entre os 40 artistas convidados a participar de uma homenagem aos mortos do jornal satírico Charlie Hebdo em Paris.
A exposição, denominada Charlie Hexpo, será realizada entre esta quinta-feira, 15, e 21 de janeiro, com renda revertida às famílias de vítimas dos 17 mortos dos atentados realizados na capital e na cidade de Montrouge, na região metropolitana.
O vernissage da mostra está marcado para esta quinta, na galeria 28 bis, em Paris, com o apoio do coletivo Artlabz. Diante do tempo exíguo para organizar a mostra, a internet e as redes sociais têm sido um meio importante na divulgação do evento.
Em uma página de Facebook, Charlie Hexpo foi criada para explicar o intuito da exposição e ao mesmo tempo atrair o público.
"Os artistas defendem a liberdade de expressão e lutam contra o ódio, organizando uma exposição de apoio às famílias de vítimas do massacre de Charlie Hebdo", afirmam os curadores.
O brasileiro Sgarbi foi convidado a participar durante o vernissage de uma exposição que realizou em Paris, Solo Show, iniciada um dia após o atentado e que se encerra hoje.
"O trabalho dele trata de dois temas: o conflito e o deslocamento. Como seu trabalho acontece nesses termos, ele foi convidado para a participação", explica sua curadora, a franco-brasileira Nina Sales, fundadora e comissária da ArtMaZone, uma organização que estabelece o contato entre artistas brasileiros com galerias e exposições na Europa.
Rudi não participará do evento em Paris porque já está em Nova York, por compromissos profissionais. Sua obra escolhida questiona pourquoi? - por quê? - e faz referência à execução do policial Ahmed Merabet, morto a tiros por um dos irmãos Kouachi, autores do atentado, em frente à câmera de um cinegrafista amador.
Ainda na França, um dos mais importantes festivais de quadrinhos, o Angoulême, terá início no dia 29 e criou um prêmio em homenagem ao atentado, chamado Charlie da Liberdade de Expressão, cuja proposta é premiar artistas que tenham sido impedidos de exercer a profissão.
No Brasil
O choque provocado pelo assassinato dos cartunistas Georges Wolinski, Charb, Cabu, Tignous e Honoré, e das outras vítimas da investida de radicais islâmicos contra a revista de humor Charlie Hebdo, levou muitos brasileiros a repetir o slogan "Je Suis Charlie".
Mas o trabalho desses desenhistas é desconhecido por aqui. Impactado pela brutalidade da invasão à redação da revista, o presidente da Biblioteca Nacional, Renato Lessa, montou rapidamente uma singela homenagem a Wolinski, decano do cartum francês (tinha 80 anos) e um dos grandes nomes mundiais do gênero.
Na entrada do prédio, no centro do Rio, junto a um cartaz com a inscrição em francês em solidariedade à Charlie Hebdo, foram instaladas duas vitrines com reproduções de quadrinhos publicados na revista Grilo, que circulou no Brasil entre 1971 e 1973 e apresentou ao País o trabalho de Wolinski e de outros ilustradores do underground, como os norte-americanos Robert Crumb e Jules Feiffer e o italiano Guido Crepax.
O criador do Snoopy, Charles Schulz, que já era conhecido aqui, também teve desenhos impressos na revista.
O material é do acervo da biblioteca. A principal reprodução é de uma HQ da personagem Paulette. Foi sua criação mais famosa, com alta carga irônica e erótica.
Não por acaso, a história exibida fala de (des)crença religiosa e manipulação das massas e satiriza a figura divina - o fundamentalismo religioso, seja qual fosse a religião, o incomodou e pautou a atuação de Wolinski na imprensa.
"É uma mostra pequena, simbólica. Fui leitor da Grilo e não me preocupei em expor a coleção inteira. Wolinski merecia algo maior, mas precisaríamos de mais tempo", conta Lessa.
"Rir é uma virtude cognitiva: o humor surpreende, desloca significados cristalizados, alarga a sensibilidade. É, portanto, inimigo mortal do dogmatismo, do fanatismo e dos portadores de certezas inegociáveis", diz o texto de Lessa que introduz a mostra.