"Eggs in Bed", da ceramista brasileira Cecília Abeid, que ganhou uma exposição em Nova York (Reprodução/Divulgação)
GabrielJusto
Publicado em 23 de abril de 2021 às 16h45.
Última atualização em 23 de abril de 2021 às 16h53.
É difícil não ter um sorriso arrancado pelo trabalho da ceramista e ilustradora brasileira Cecília Abeid. Nas mãos dela, elementos e alimentos cotidianos como uma mesa de café da manhã ou um biscoito globo são retratados com cores pasteis e formas orgânicas, como se contassem uma história engraçada que acabou de acontecer - pelo menos no "mundinho deles", como ela gosta de chamar.
"Para mim, é como se cada uma das minhas peças sorrisse todos os dias quando eu olho para elas, e isso me traz uma felicidade muito grande. É esse sentimento de alegria que eu gosto de passar", explica Abeid, de Nova York, que neste final de semana recebe uma exposição pop-up "Food in Bed" em um espaço no Brooklyn.
Antes mesmo da abertura, metade das peças já foram vendidas, enquanto a outra espera por um sortudo comprador. Um pote de mel em formato de ursinho, por exemplo, pode ser levado para casa por US$ 2 mil. Mas há itens mais baratos, como o "Strawberry donut with Sprinkles", por US$400.
Entre as 13 obras em exibição, curadas pela também brasileira Gisela Gueiros, estão a "Eggs in Bed", um café da manhã feliz e cheio de detalhes desastrados e inusitados (como uma mordida anônima na salsicha, um copo de leite derramado e talheres entortados) e "Got Milk?", um conjunto de caixinhas de leite que flertam sobre a mesa. Há ainda um pacote aberto de Biscoito Globo e um pão francês com manteiga, marcando a nostalgia de Abeid pela vida no Rio, sua terra natal.
"O Brasil com certeza é uma saudade, e está sempre comigo. Passar os invernos longe daí é quase doloroso", explica Cecília, que deixou o país para fazer mestrado em ilustração nos EUA. Chegando lá, conheceu um ateliê de cerâmica e se apaixonou pelas possibilidades de expressar sua arte não mais em duas, mas em três dimensões. A comida, de pronto, foi sua maior inspiração. "Minha família é árabe, então a comida na mesa sempre foi um ato de muito carinho e amor."
Abeid conta que, entre o preparo dos materiais e a finalização de uma peça, seu processo é bastante fluído, que não necessariamente tem um ponto de chegada definido. Ele vai sendo definido aos poucos, pelos próprios desafios que o trabalho com a cerâmica traz.
"Eu nunca sei como as coisas vão terminar. Assim como vidro, quando você coloca no forno, é sempre um risco. Será que vai se sustentar? Onde é o centro de gravidade?", explica Cecília, que continua trabalhando como ilustradora e não esqueceu a paixão pelas gravuras em metal - mas vislumbra um caminho feliz como ceramista. "É como se eu estivesse resolvendo problemas através da criatividade. E isso é o que eu mais gosto!"
Ficou curioso pelos trabalhos da Cecília? Confira esses e muitos outros no site oficial da artista.