Casa Villarino, tradicional restaurante do Rio de Janeiro: mesmo com reabertura e plano durante a pandemia, faltam clientes (Facebook/Reprodução)
Guilherme Dearo
Publicado em 15 de julho de 2020 às 14h33.
Última atualização em 15 de julho de 2020 às 14h39.
Fundada em 1953, a Casa Villarino é um dos pontos mais tradicionais do centro do Rio do Janeiro. O salão do restaurante de 74 lugares, com seu piso de pastilhas, mesas de tampo de mármore e cadeiras estofadas com couro vermelho, guarda um dos momentos mais emblemáticos da cultura brasileira. Foi ali que, em 1956, Tom Jobim e Vinicius de Moraes se conheceram. Depois, viraram frequentadores assíduos. A parceria dispensa comentários: foi fundamental para a formação e sucesso da música brasileira e no restaurante, entre uma cerveja e outra, que foi criado o termo "bossa nova".
Em uma das mesas do restaurante que nasceu, também, a peça "Orfeu da Conceição", escrita por Vinicius e musicada por Jobim, quando Lúcio Rangel apresentou um ao outro. A peça transpõe o mito grego de Orfeu e Eurídice para o Carnaval do Rio de Janeiro e para o morro carioca. Em 1956, estreou no Teatro Municipal do Rio com cenário de Oscar Niemeyer. Em 1959, o diretor francês Marcel Camus adaptou a peça para o cinema, conquistando o Globo de Ouro, o Oscar e a Palma de Ouro em Cannes.
Mas tanta história pode não resistir à pandemia do novo coronavírus. Nessa semana, a casa postou em sua página no Facebook que está passando por dificuldades e que, sem clientes, pode ter destino semelhante a outros comércios que fecharam as portas. Após quatro meses fechada por causa da quarentena, a casa reabriu, dentro do plano de reabertura no estado do Rio. Mas os clientes ainda não voltaram. A queda de movimento foi de 90% nas duas primeiras semanas de reabertura. Na últim sexta-feira, apareceu somente um cliente.
"Diversos estabelecimentos já estão fechando suas portas e especialmente na nossa região, por conta da falta de prazo de retorno ao 'normal', a tendência não é animadora. Então pedimos encarecidamente que apesar dos receios, que nos dêem uma chance, nos prestigiem com sua presença ou que retirem pedidos", escreveu o restaurante em sua página no Facebook.
O restaurante, para tentar atrair os velhos consumidores, reforçou que os garçons estão protegidos e usando máscaras e que as mesas estão sendo periodicamente higienizadas e guardando a distância segura entre clientes. A casa também recebe pedidos para entrega.
A crise dos estabelecimentos do centro do Rio, contudo, vem de antes da pandemia. Os comerciantes locais reclamam da falta de segurança, da saída de empresas grandes da região, como a Vale, das ruas escuras e esburacadas e da proliferação de camelôs e vendedores de "quentinhas". Fica difícil os restaurantes competirem durante a semana e no horário de almoço com as marmitas vendidas a dez reais em suas portas. Das seis unidades que a Casa Villarino tinha, apenas uma, a matriz, permanece aberta.
Em São Paulo, uma das vítimas da quarentena foi o tradicional Octávio Café, ponto onde empresários e endinheirados da região de Faria Lima e Itaim se reuniam para fechar negócio e tomar expressos a dez reais.