Carregamento: infraestrutura ainda é baixa (Getty Images/Getty Images)
Repórter de Lifestyle
Publicado em 5 de setembro de 2024 às 17h54.
Última atualização em 5 de setembro de 2024 às 18h04.
Ao andar pelas ruas de Pequim, na China, é possível identificar rapidamente carros elétricos e híbridos pela cor das placas — verde. Pela onda chinesa de carros no Brasil, seria de esperar que eles representassem a maioria dos veículos em circulação, mas não é o que se vê. Claro que esses modelos apresentam volume significativo, mas a revolução anunciada há alguns anos, sobre a transição de automóveis a combustão para elétricos, parece estar mais distante do que o esperado.
A cena é a mesma na Califórnia, nos Estados Unidos, em Montreal, no Canadá, e em capitais europeias. Mesmo que as vendas globais de carros elétricos e híbridos tenham sido recordes — 1,35 milhão de unidades no primeiro semestre de 2024 — o ritmo de crescimento diminuiu em comparação ao ano passado. Em 2023, o salto foi de 35%, enquanto nos primeiros seis meses deste ano foi de 22%.
Diversos fatores são apontados por especialistas para explicar essa desaceleração, mas dois são considerados principais: o preço dos carros, que ainda é mais alto do que o dos veículos a combustão, e a falta de infraestrutura de carregamento. A Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis avalia que a União Europeia precisa instalar quase oito vezes mais pontos de recarga do que o que foi instalado em 2023 para atender à demanda.
Há alguns anos, havia um sentimento de que a transição da mobilidade seria direta para o elétrico, mas os híbridos estão ganhando cada vez mais espaço.
"A Europa continua a ver as entregas de elétricos estagnarem após o crescimento excepcional de 2020 e 2021. Enquanto o mercado geral de novos veículos leves continua a se recuperar, crescendo 5,2% no primeiro semestre, as vendas de elétricos aumentaram apenas 1%. Isso ocorre após muitos países europeus reduzirem ou removerem subsídios de compra", explica Roland Irle, fundador da EV-volumes, que analisa o mercado de carros elétricos e híbridos.
O especialista ainda detalha que os mercados mais significativos em termos de volumes e crescimento foram Brasil, Índia, Tailândia, Turquia, México, Indonésia, Taiwan e Malásia. No entanto, dois dos maiores mercados deste grupo, Japão e Coreia do Sul, parecem estar indo para o reverso, como reflexo dessa mudança de ânimo dos compradores pelo elétrico.
Na última quarta-feira, 7, a Volvo anunciou que abandonou a meta ambiciosa de vender apenas carros elétricos até 2030. Jim Rowan, presidente executivo da Volvo, culpou as mudanças nas condições de mercado e as preocupações dos consumidores com a falta de infraestrutura de carregamento pela meta revisada.
"Estaremos prontos para nos tornarmos totalmente elétricos nesta década, mas, se o mercado, a infraestrutura e a aceitação dos clientes não estiverem prontos, podemos permitir que isso leve mais alguns anos", disse.
Esse movimento não é isolado. Há algumas semanas, a Ford cancelou o projeto para desenvolver SUVs elétricos devido à baixa demanda. “Esses veículos precisam ser lucrativos e, se não forem lucrativos com base em onde o cliente e o mercado estão, nós iremos tomar essas decisões difíceis”, disse o diretor financeiro John Lawler.
Aqui no Brasil, algumas montadoras chinesas tinham a intenção, em um primeiro momento, de produzir veículos 100% elétricos, mas já avaliam novos rumos. A GWM está finalizando a adaptação de uma planta na cidade de Iracemápolis, no interior de São Paulo, para começar a produzir o Haval H6, seu híbrido de maior sucesso. Nesse segmento, a montadora chinesa ocupa a terceira colocação entre as que mais vendem no país.
Até o fim do ano, a BMW deve começar a produzir na planta de Santa Catarina o primeiro híbrido plug-in da marca em território nacional. Havia uma expectativa de que a montadora alemã começasse a fabricar carros puramente elétricos no Brasil, seguindo sua meta global, mas isso não ocorreu.
O gigante da indústria automobilística Stellantis (dona de marcas como Fiat, Peugeot, Ram, Citroën e Jeep) vai investir um total de R$ 30 bilhões na América do Sul entre 2025 e 2030 para modernizar e atualizar suas fábricas na região, focando principalmente em híbridos.
A companhia está correndo para ser a primeira a produzir no Brasil um carro híbrido flex plug-in. "Não estamos vendo interesse dos consumidores [pelo puramente elétrico] no curto prazo", diz Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis América do Sul.
Pressionados para controlar as emissões de CO2, países têm estabelecido metas para incentivar o desenvolvimento de alternativas aos carros a combustão. Por outro lado, na Europa, a Alemanha suspendeu incentivos fiscais para a produção de carros elétricos, o que impactou as montadoras do país. Ao mesmo tempo, abriu-se espaço para uma maior presença de montadoras chinesas, que dominam a tecnologia de eletrificação. Isso levou a Volkswagen a considerar o fechamento de fábricas no país pela primeira vez em 87 anos.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que cria incentivos para a fabricação de veículos menos poluentes. O programa prevê R$ 19,3 bilhões em incentivos, ao longo de cinco anos, e redução de impostos para pesquisas e desenvolvimento de tecnologias e produção de veículos que emitam menos gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas.
Várias montadoras já aderiram ao programa e estão usufruindo dos incentivos, com foco maior em híbridos, e não em puramente elétricos. Há alguns anos, o mercado acreditava que os elétricos seriam o futuro imediato da mobilidade. No entanto, a realidade mostrou que o híbrido é um passo necessário antes dessa transição.