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Café vulcânico: descubra o terroir na fronteira entre Minas Gerais e São Paulo

Uma caldeira de um vulcão extinto há mais de 60 milhões de anos serviu para definir uma área de solo vulcânico entre o sul de Minas Gerais e o nordeste de São Paulo

Carolina Gehlen
Carolina Gehlen

Head of Design

Publicado em 10 de dezembro de 2023 às 09h17.

Última atualização em 14 de dezembro de 2023 às 11h54.

O termo "vulcão" pode soar como uma raridade nas conversas cotidianas dos brasileiros, mas, surpreendentemente, revela-se uma expressão presente em 12 municípios na divisa entre os estados de Minas Gerais e São Paulo. Essas terras são o epicentro da Associação dos Produtores de Café da Região Vulcânica.

Uma caldeira de um vulcão extinto há mais de 60 milhões de anos serviu para definir uma área de solo vulcânico entre o sul de Minas Gerais e o nordeste de São Paulo, que pelas suas características de clima e relevo delimita um terroir singular.

A marca Cafés da Região Vulcânica é regulamentada, controlada e protegida pela Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica — uma organização sem fins lucrativos, criada em 2012, hoje com mais de 800 produtores associados, sendo 95% de agricultura familiar, e que tem como principal produto a produção de cafés especiais.

Ulisses Ferreira de Oliveira, diretor executivo da Associação dos Produtores do Café da Região Vulcânica, conta que a ideia de formar uma associação surgiu há 12 anos através de um curso do Instituto Federal do Sul de Minas, em Minas Gerais, com intuito de valorizar e instruir os produtores da região.

Com mais de 12.000 produtores cultivando o grão, o território é composto pelos municípios mineiros de Andradas, Ibitiúra de Minas, Caldas, Poços de Caldas, Bandeira do Sul, Campestre, Botelhos e Cabo Verde, e os municípios paulistas de Águas da Prata, São Sebastião da Grama, Divinolândia e Caconde.

Alexandre Marchetti, Q-Grader e agrônomo responsável pela Fazenda Rainha, da Orfeu Cafés Especiais, explica que “é um solo com muito pedregulho, com características únicas, e esse terroir nos oferece cafés exóticos e com muita doçura”. Os cafés cultivados em solo vulcânico apresentam sabor e aroma característicos de frutas amarelas, caramelo e chocolate, corpo alto, com textura sedosa e acidez cítrica. Marchetti afirma que variedades arábicas se dão muito bem no solo vulcânico, com destaque para os cafés do tipo Geisha e Arara.

Na região vulcânica a vegetação predominante é formada por florestas tropicais do tipo Mata Atlântica. As altitudes das lavouras variam entre 700 e 1.300 metros, com uma média de 1.075 metros. A temperatura anual média está entre 17 °C e 20 °C, e a pluviosidade média é de 1.686 mm na região, proporcionando condições excepcionais para uma cafeicultura de alta qualidade.

Movimentando a caldeira

A aproximação com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 2016 gerou um suporte importante para consolidar e fortalecer a Associação. Ulisses conta que primeiro aconteceu uma grande estruturação interna, e só em 2020, através de um trabalho de branding, efetivamente lançaram a marca.

Em 2022, a região vulcânica foi adicionada como marca coletiva, pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) ao mapa de origens produtoras de café do Brasil, que hoje conta com 34 regiões. Para o produtor ter direito a usar a denominação de marca coletiva, além de ser associado, é necessário que o café produzido seja do tipo especial.

Roberta Bazilli: a riqueza do solo vulcânico proporciona um terroir com características únicas aos grãos. (Divulgação/Divulgação)

Para Roberta Bazilli, técnica em cafeicultura e Q-Grader, produtora da região vulcânica da quinta geração de cafeicultores da família, a frente da marca de cafés especiais Bazilli, estar nessa região é um privilégio, “uma região com paisagens exuberantes onde tenho um estilo de vida peculiar e especial. A riqueza do solo vulcânico proporciona um terroir com características únicas aos grãos, resultando em cafés excepcionais. Sou muito feliz de fazer parte desde o início da Associação de Produtores de Cafés Especiais da Região Vulcânica, pois ela só fortalece os laços entre produtores e eleva a qualidade, proporcionando uma jornada sensorial única aos amantes de cafés especiais”.

Toda essa riqueza do solo vulcânico vem sendo reconhecida em diversos concursos. Recentemente os cafés da região foram premiados na Semana Internacional do Café (SIC) e pela Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), no principal concurso de qualidade de cafés nacionais para o mundo. Um café da região vulcânica, produzido pela Orfeu Cafés especiais, conquistou o primeiro lugar na categoria Via Seca e o Prêmio Presidencial no Concurso Cup of Excellence Brazil 2023.

Orfeu Cafés: primeiro lugar na categoria Via Seca e o Prêmio Presidencial no Concurso Cup of Excellence Brazil 2023. (Carolina Gehlen/Exame)

Orfeu também faz parte dos produtores do café da região vulcânica, a expectativa da marca ao participar da Associação é contribuir para o desenvolvimento da área e apresentar a região para todo o mundo, afirma Marchetti.

A Associação tem diversos planos para o futuro. Além de buscar a indicação geográfica e certificações de sustentabilidade para os produtores, eles têm a intenção de promover a região não apenas como um local de produção de café mas também como um terroir que abrange outros produtos, como vinhos e azeites, afirma Ulisses.

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