Do cultivo à classificação: a tecnologia já é usada em maquinários e por degustadores profissionais, e tem otimizado operações e elevado os padrões de qualidade (Alexandre Rezende/NITRO/Divulgação)
Colunista
Publicado em 8 de fevereiro de 2025 às 08h12.
Não é novidade que a inteligência artificial tem impactado os mais diversos segmentos do mercado, inclusive, o do café. Do cultivo à classificação, a tecnologia já é usada em maquinários e por degustadores profissionais, e tem otimizado operações e elevado os padrões de qualidade.
O projeto CoffeeClass, liderado por Ednaldo Ferreira, cientista de dados da Embrapa Instrumentação, aprovado e fomentado pelo Consórcio Pesquisa Café e, posteriormente, apoiado pela ABIC, é um exemplo positivo da integração do café com a inteligência artificial. A inovação nada mais é do que um sistema de imagens multiespectrais capaz de fazer uma análise da qualidade global do café. A partir de luzes específicas incidentes em uma amostra de café torrado e moído, um modelo de IA é ensinado a identificar características que só se revelam sob diferentes iluminações e faz uma correlação com classes de qualidade.
“Em palavras mais simples, o CoffeeClass ‘enxerga’ no pó de café características que desqualificam o item e produzem uma bebida de baixa qualidade, como excesso de grãos pretos, verdes, ardidos, cascas, brocados, velhos, entre outras não vistos a olho nu. Quanto maior a presença delas, menor a qualidade global do café. E o contrário também é verdadeiro: quanto menor o conjunto de características desqualificadoras, maior a qualidade global. Esse paralelo permite obter boas predições para a qualidade global do café, que, pelo método tradicional, demandaria o preparo da prova da xícara”, explica Ednaldo.
Benefícios da inteligência artificial para o setor cafeeiro
A IA é facilmente adaptável a todas as áreas, incluindo o agro. E isso não é diferente na cafeicultura. Além da aplicação direta, focada na análise da qualidade na etapa final da cadeia cafeeira, como a tecnologia do CoffeeClass, ela também pode contribuir em outras etapas, como:
É importante lembrar que o especialista humano jamais será substituído. As soluções integradas à inteligência artificial têm o objetivo de auxiliar os profissionais a fim de ampliar a escala operacional.
“O CoffeeClass nasceu com o intuito de possibilitar uma triagem mais próxima ao consumidor, mas, a palavra final será sempre a do especialista. No caso da cafeicultura de precisão (no campo), as tecnologias baseadas em IA pretendem também alcançar os pequenos produtores que não têm acesso a um universo tecnológico que, muitas vezes, apresenta elevado custo. Não pensamos na substituição do homem, mas, na inserção de tecnologias inteligentes em contextos em que o próprio homem não pode estar sempre presente”, finaliza Ednaldo.
Por aqui, também apostamos no uso da inteligência artificial. Aperfeiçoamos o Protocolo Brasileiro de Avaliação Sensorial de Cafés Torrados por intermédio da IA, com um algoritmo criado para que as avaliações de cada atributo e descritor sejam consideradas e, ao final, informe o estilo/perfil sensorial da bebida.
Aline Garcia, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/Apta/SAA) e uma das participantes da concepção do Protocolo da ABIC, compartilha que a inovação demandou o aprendizado supervisionado por meio de métodos estatísticos visando obter uma equação capaz de interpretar os dados das sensações de odor e sabor percebidos com a intenção de responder em qual estilo se enquadra determinado café.
“A grande vantagem é realizar o enquadramento do café em um determinado estilo a partir destas sensações, ou seja, as intensidades das características e o levantamento das notas descritivas, e não mais se preocupar em pontuar o café após perceber estas sensações, o que evita alguns possíveis vieses. Os especialistas poderão avaliar o café com uso do aplicativo, que contém a ficha com todos os atributos e uma lista de notas descritivas para melhor caracterizar o café. Mas é importante lembrar que os avaliadores devem usar as escalas da mesma forma entre si; por isso, precisam ser pessoas experientes ou treinadas, conforme as normativas da ABNT”, explica Aline.
Apesar dessa facilitação proveniente da inteligência artificial, é essencial que a qualidade do café ou suas características se mantenham na embalagem a fim de transmitir ao consumidor as sensações preconizadas do estilo que se enquadra.
Por fim, entendemos que a incorporação da IA no setor cafeeiro está apenas no início. Com o avanço contínuo da tecnologia, é esperado que novas aplicações surjam, desde a melhoria genética de plantas até a personalização de blends para consumidores. A tendência é que a inteligência artificial se torne uma grande aliada na busca por eficiência e excelência na produção de café.
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