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"Bullying" toca numa ferida aberta em escolas dos EUA

Inquietante documentário do diretor norte-americano Lee Hirsch estreia em São Paulo e Rio de Janeiro


	Documentarista escolhe cinco casos emblemáticos de bullying, em quatro Estados norte-americanos, acompanhando-os ao longo de um ano
 (Jamie McCarthy/Getty Images)

Documentarista escolhe cinco casos emblemáticos de bullying, em quatro Estados norte-americanos, acompanhando-os ao longo de um ano (Jamie McCarthy/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2012 às 10h56.

São Paulo - "Bullying", inquietante documentário do diretor norte-americano Lee Hirsch, é cortante como faca e extremamente oportuno. Trata de um dos temas mais complexos do mundo atual, o bullying nas escolas, que pode até não ser novidade, mas cuja violência está assumindo uma proporção inimaginável, produzindo inclusive vítimas fatais. O filme estreia em São Paulo e Rio de Janeiro.

É com precisão cirúrgica que o documentarista escolhe seus cinco casos emblemáticos, em quatro Estados norte-americanos, acompanhando-os ao longo de um ano.

O primeiro é também um dos mais chocantes: Tyler Long, um adolescente bonito e inteligente, de 17 anos, amado pelos pais, bem-sucedido nos estudos e no esporte, se suicidou por conta da pressão insuportável do assédio de colegas.

Assédio que se traduz em ofensas, pancadas e humilhações numa escalada que parece incontrolável, especialmente porque tem prosseguimento fora dos muros das escolas.

Outro caso mostra o cerco a Kelby Johnson, uma garota de 16 anos que se assumiu homossexual em uma cidade do Oklahoma, o que a levou a ser vítima de uma perseguição implacável por parte dos colegas e que, finalmente, esteve por trás da interrupção de uma possível carreira no basquete.

Tudo indica que sua escola impediu sua inclusão numa lista de candidatos a bolsas a partir do talento esportivo. Depois de muito resistir à ideia, inclusive por insistência de Kelby, seu pai finalmente decidiu que a família vai mudar-se da cidade onde viveu toda a sua vida, porque a discriminação pela orientação sexual de Kelby finalmente atingiu a todos.


É de outra cidade de Oklahoma mais um caso de suicídio provocado por bullying, cuja vítima é ainda mais jovem: Ty Smalley, 11 anos. Neste segmento do filme, um depoimento comovente é dado por seu melhor amigo, um garoto da mesma idade que comenta ter sido ele mesmo violento com outros colegas no passado.

Em Yazoo County, no Mississippi, uma garota de 14 anos, Ja'Meya Jackson, está detida numa prisão juvenil. Espera o julgamento por ter mostrado um revólver dentro do ônibus escolar cheio, em que vários passageiros eram os colegas que há vários meses a atormentavam de todo jeito.

Ainda que imprópria e arriscada, a reação de Ja'Meya --até ali, uma boa aluna de conduta irrepreensível-- teve um enquadramento um tanto radical: o xerife local indiciou-a em 45 tentativas de assassinato, o número de alunos a bordo do ônibus, e ela depende de uma decisão do juiz, que pode aceitar ou não esse entendimento.

Sua mãe credita o excesso de rigor do xerife ao fato de a menina ser negra, num Estado com um histórico complicado em termos de relações raciais.

Em Sioux City, Iowa, Alex, um garoto de 14 anos, é diariamente submetido a constrangimentos de tal impiedade no trajeto do ônibus escolar, que levam o documentarista a compartilhar as imagens filmadas com seus pais e com a diretora da escola.

O caso de Alex é emblemático também no sentido de que o menino, bastante solitário, sente que, apesar das brincadeiras abusivas, os colegas que as praticam são os "únicos amigos" que ele têm.

"Bullying" não se limita a expor os casos, focalizando também o intenso debate sobre o tema nos quatro cantos dos EUA, envolvendo pais, alunos, educadores e policiais.

Acompanha, assim, um movimento de resistência a esses impulsos violentos e desumanizadores cujas raízes estão certamente fincadas na sociedade, e que transformam a vida escolar num pesadelo ao qual alguns não sobrevivem.

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