Maria Bethânia: era 2009, a historiadora Heloisa Maria Murgel Starling teve a ideia de convidar Maria Bethânia para participar do projeto Sentimentos do Mundo (Reginaldo Teixeira/Contigo)
Da Redação
Publicado em 24 de dezembro de 2015 às 08h38.
São Paulo - O convite partiu da Universidade Federal de Minas Gerais, que buscava um programa que levasse expressões artísticas - notadamente a poesia - para a sala de aula.
Era 2009, a historiadora Heloisa Maria Murgel Starling teve a ideia de convidar Maria Bethânia para participar do projeto Sentimentos do Mundo.
A proposta agradou à cantora, que criou o espetáculo "Leituras de Textos", no qual se apresentou resgatando a arte de declamar poemas.
"Gosto de emprestar minha vida e minha voz às histórias, aos personagens que os autores nos revelam. Aceitei fazer essa leitura porque foi criada para casas de ensino. Acho a ideia de levar expressões artísticas para dentro de uma sala de aula preciosa e linda", diz Bethânia, em texto publicado no livro "Caderno de Poesias", versão física da apresentação feita pela cantora em diversos palcos e salas, editada pela mesma Universidade Federal de Minas Gerais.
Trata-se de uma delicada obra criada pelo diretor de arte Gringo Cardia que, encantado com o projeto, promoveu o diálogo entre a poesia escolhida por Bethânia e as artes plásticas.
Assim, da mesma forma que os versos declamados pela cantora, as ilustrações também refletem sobre o Brasil com a reprodução de trabalhos de artistas consagrados, como Portinari e Tarsila do Amaral, além de pintores diletantes como Dorival Caymmi.
Para completar o pacote (e torná-lo ainda mais atraente), o livro vem acompanhado de um DVD com imagens da apresentação de Bethânia - o disco também será vendido separadamente.
Em um alentado prefácio, a historiadora Heloisa detalha a forma com que Bethânia elaborou uma forma própria de escrita, que serve como instrumento para construir um olhar sobre os dilemas, os limites e a formação social brasileira.
"Nesse livro, Maria Bethânia reafirma a equivalência entre a chamada 'alta literatura' e as canções populares, entre o culto à soberania da abordagem literária em sua inesgotabilidade de sentido e de permanência, e o nosso hábito meio distraído de fazer da canção o complemento natural da atividade cotidiana de viver", observa a escritora.
Em entrevista à reportagem na manhã da quarta, 23, Bethânia conta ter o hábito de unir poemas com letras de canção, algo que faz por diversão.
"Às vezes, ouço uma canção da Marisa Monte e penso que o poema de outro autor se encaixa bem na melodia", diz ela que, por causa disso, se sentiu inicialmente inibida com o projeto da leitura.
"No fundo, é algo muito íntimo, muito caseiro, mas, como a finalidade é levar poesia para as escolas, acabei aceitando."
Na conversa, Bethânia lembra da importância do encenador Fauzi Arap (1938-2013) na descoberta da força de sua prosódia.
"Foi ele quem me mostrou, pela primeira vez, como dizer os versos com intenção, e como alinhar diferentes fragmentos."