Cervejas e vinhos: híbridos muitas vezes começam com uma saison farmhouse ou sour ale como receita básica (Sunlight Photography/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 11h20.
“É preciso muita cerveja para fazer um grande vinho.”
Pelo menos é o que diz uma velha anedota da produção de vinhos. Atualmente, o inverso vai se tornando realidade e o vinho está fazendo incursões nas receitas de cerveja.
“O perfil da cerveja normalmente é personalizado para que combine as qualidades das [variedades de uva] envolvidas”, diz Brian Strumke, que fundou a Stillwater Artisanal Ales em 2010 com a missão de fabricar uma cerveja exclusiva para competir com o vinho na mesa do jantar. “A proporção de grãos misturados, os tipos de levedura, o envelhecimento em carvalho ou dry-hop [processo de adição do lúpulo] -- tudo depende do que estamos combinando.”
Para a Stillwater, uma cerveja pinot noir era a candidata perfeita para o envelhecimento em carvalho e as cervejas com uvas riesling e sauvignon blanc acabaram passando por dry-hop. (Sabe de que vinho o Strumke gosta? “Qualquer coisa espumante, quase sempre algo com contato com a casca, e quanto menos filtrado melhor.”)
Esses híbridos de cerveja e vinho muitas vezes começam com uma saison farmhouse ou sour ale como receita básica -- algo que já tem um pouco de peso diante das uvas. Às vezes a cerveja é fermentada juntamente com elas no início; outras vezes, é incorporada à fruta para uma fermentação e um envelhecimento prolongados. Os resultados são extremamente únicos, às vezes estranhos e, no geral, uma deliciosa confusão de limites.
Procure as seguintes garrafas para a próxima reunião com tábua de queijos.
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Híbrido particularmente bem-sucedido da Stillwater, o Oude Bae é uma sour amber ale envelhecida em carvalho francês com uvas pinot noir. O primeiro gole, agradavelmente azedo e bastante vinoso, revela uma falha atraente e riqueza sobre um corpo cítrico e fácil de tomar. Atualmente é vendido em latas, o que faz dele a opção perfeita para seu próximo piquenique.
A Brasserie Cantillon produz aquela que provavelmente é a cerveja lambic tradicional belga mais procurada, mas o Saint Lamvinus tem seus próprios seguidores. (Os nerds da cerveja costumam insistir que a capacidade de envelhecimento de uma grande lambic é parecida com a de um bom vinho, de modo que a infusão com uvas é basicamente lógica). Aqui, um blend de lambics é envelhecido em barril por mais de um ano com uvas merlot. Tem um brilhante matiz de vinho da Borgonha, o que rende um frutado intenso no nariz e carvalho no paladar.
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É provável que este seja o híbrido de vinho e cerveja mais acessível no momento: uma nova IPA produzida com suco de uva riesling da potência global dinamarquesa da fabricação artesanal Mikkeller (que em breve inaugurará seu primeiro pub com fabricação no local em Nova York no estádio Citi Field -- seu 32º estabelecimento no mundo). Esta cerveja lupulada começa com um sabor de frutas tropicais e termina com uma doce lufada de uva.
A Holy Mountain, de Seattle, nos EUA, produz algumas das farmhouse brews mais confiáveis e interessantes do país. Com a Sacrament, iniciou uma incursão no envelhecimento de cerveja em carvalho com uvas de vinho. O primeiro lote é uma ale baseada em trigo envelhecida e fermentada com uvas e cascas Carménère de Walla Walla Valley. O resultado é um vinho frutado no nariz equilibrado por uma adstringência azeda e tânica quando se começa a degustar.