BookMongers, livraria em Londres: reabertura para leitores ansiosos (Tom Jamieson/The New York Times)
Guilherme Dearo
Publicado em 7 de julho de 2020 às 08h00.
Última atualização em 7 de julho de 2020 às 17h34.
Londres – Pouco depois das dez da manhã de uma segunda-feira recente, Cathy Slater, dona da Dulwich Books, esperava receber seus primeiros clientes na loja em meses.
As livrarias da Inglaterra foram autorizadas a abrir suas instalações pela primeira vez desde que o país iniciou seu confinamento em março. Slater disse que estava muito feliz por voltar e que tinha se preparado especialmente para isso: havia um vaso de flores em uma mesa perto da entrada e uma enorme garrafa de álcool gel para as mãos no balcão.
O primeiro cliente não era o que ela esperava. Cerca de 20 minutos após a abertura, um homem abriu a porta da frente e gritou: "Você vende post-it?"
Mas, às dez e meia, Helen Boome chegou e foi direto para a seção infantil. "Posso tocar?", perguntou. Depois da permissão, ela pegou um livro sobre mitos gregos para seu filho.
Em poucos minutos, Olivia Holmes entrou, usando máscara facial. Ela estava procurando por "The Redeemed", de Tim Pears, a parte final de uma trilogia ambientada durante a Primeira Guerra Mundial. Então outro cliente chegou e um quarto ficou esperando à porta: uma placa na janela dizia: "Máximo de três pessoas na loja."
A atmosfera era vibrante, mesmo que um pouco limitada. Era uma sensação que ecoava em outras livrarias da capital.
Patrick Kelly, dono da loja de livros usados Bookmongers of Brixton, se sentou atrás de uma tela de plástico transparente, olhando para as prateleiras da loja. Afirmou que estava preocupado com o futuro, porque o bairro havia se gentrificado muito na última década, e ele se tornara dependente de "turistas e visitantes" para se sustentar. "Podemos estar reabrindo hoje, porém ninguém sabe quando veremos um turista novamente", afirmou.
Mas, logo, uma onda de clientes começou a comprar. Paulo Sousa, de 40 anos, comprou um livro médico, mas disse que não queria ler; ele ia cortar um buraco nas páginas e lá esconder um presente para seu irmão.
Nos fundos da loja, Matthew Nsubuga, de 28 anos, olhava atentamente para uma prateleira de livros de ficção científica da coleção S.F. Masterworks, com lombadas de um amarelo vívido. "Eu estava esperando a loja reabrir, porque sabia que eles tinham muita coisa", disse ele.
Nsubuga contou que estava lendo ficção científica durante o confinamento – incluindo "Duna", de Frank Herbert – e que os livros "me ajudaram a sobreviver".
"A leitura manteve minha mente longe de todas as outras questões do mundo", acrescentou. Ele saiu da loja com seis livros que custaram um total de 27 libras.
Kelly sorriu. "É fantástico", comemorou, parecendo surpreso com as vendas rápidas. "A desgraça e a escuridão estão desaparecendo um pouco."
Em maio, a Waterstones, maior rede de livrarias da Grã-Bretanha, com mais de 280 lojas, anunciou uma nova medida de segurança para a reabertura. Qualquer livro que um cliente tocasse, mas não comprasse, ficaria reservado por 72 horas para reduzir o risco de infecção.
Ao meio-dia, os funcionários da bela e espaçosa filial de Kensington na High Street estavam colocando essas medidas em prática, tendo posto cerca de 30 livros – incluindo vários de Jean-Paul Sartre, autor de "A Náusea" – em um carrinho que seria levado para o isolamento.
Muitos funcionários usavam escudo facial de plástico, mas nenhum dos cerca de seis clientes parecia se importar. "Sinto falta de livrarias mais do que qualquer outra coisa", disse Jeremy Smith, de 54 anos, administrador de uma instituição de caridade, que segurava um caderno contendo os títulos de dezenas de livros que queria comprar. Ele já tinha encontrado um: "Dominicana", de Angie Cruz, sobre uma criança de 11 anos forçada a se casar.
Que livro ele recomendaria para celebrar a saída do confinamento? "Só recomendo que as pessoas continuem lendo", disse ele.
A Word on the Water, uma livraria em um barco ancorado em um canal perto da estação ferroviária King's Cross, abriu antecipadamente em primeiro de junho. Com as portas fechadas e vendendo apenas os itens de prateleiras no exterior do barco, ela conseguira se classificar como um mercado ao ar livre, um tipo de negócio que pode abrir antes.
James Bentley, de 56 anos, o livreiro, informou que as vendas de primeiro de junho tinham sido fenomenais, pois os clientes regulares apareceram. Mas agora o negócio dependia de transeuntes.
Várias pessoas recentemente pararam para comprar livros, em grande parte romances, incluindo um do escritor português José Saramago, ganhador do Nobel.
Lauren Gibbs, de 34 anos, disse que estava passando de bicicleta e parou para fazer um vídeo com seu celular para capturar a música de Edith Piaf que tocava no barco. Então, decidiu que deveria comprar algo. Ela escolheu "Jazz Poems", uma antologia com obras de Langston Hughes e Gwendolyn Brooks.
Jo Heygate, gerente da Pages of Hackney, estava atrás do balcão, olhando para o chão da loja vazia, e contou que tinha decidido manter a loja física fechada por enquanto. Segundo ela, isso em parte se deve ao fato de a loja ser pequena: para cumprir as regras de distanciamento social da Grã-Bretanha, que exigem que as pessoas fiquem cerca de dois metros distantes umas das outras, ela só poderia admitir um cliente de cada vez.
Mas foi também porque sua loja, de alguma forma, tinha feito sucesso durante o bloqueio, acrescentou ela. No início, os funcionários entraram em pânico, pensando que não venderiam nada. Cerca de um mês depois, no entanto, a Pages of Hackney começou uma loja on-line – algo que Heygate reconheceu que deveria ter feito anos antes. "Vendi dois livros sobre a resistência a transgêneros em meia hora de abertura da loja. Normalmente, levaria um mês para que fossem vendidos."
Ela atribuiu o sucesso à fiel base de clientes locais da loja, bem como ao grande interesse por livros sobre questões de raça no momento, um assunto que a loja sempre ofereceu. "Me and White Supremacy", de Layla F. Saad, era um dos sucessos de venda, disse Heygate; assim como "Black, Listed", de Jeffrey Boakye.