A agremiação se pronunciou, nesta segunda-feira, após a fala de Fontenelle, que causou um profundo mal-estar (Bruno Spada/Câmara dos Deputados/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 3 de janeiro de 2023 às 16h22.
Última atualização em 3 de janeiro de 2023 às 16h33.
A youtuber Antonia Fontenelle criticou a roupa usada pela primeira-dama Janja Silva na posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último domingo. Numa postagem em suas redes sociais, ela disse que a escolha, um terninho — conjunto de pantalona, colete e blazer — parecia roupa da velha-guarda da Imperatriz Leopoldinense, não poupando críticas à escola de samba também.
"Escola apática, nem fede nem cheira. É a Imperatriz Leopoldinense. Nem é a velha guarda da Mangueira, da Mocidade ou da Grande Rio", disse.
A agremiação se pronunciou, nesta segunda-feira, após a fala de Fontenelle, que causou um profundo mal-estar.
Ao tomar conhecimento da comparação, a presidente da Imperatriz Leopoldinense, Cátia Drumond, enviou ofício para a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) pedindo que Fontenelle não seja credenciada para qualquer finalidade ou função nas apresentações do Rio e convidou a primeira-dama para desfilar no Carnaval.
Este ano a escola tem como enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”, do carnavalesco Leandro Vieira, que tem inspiração na figura de Lampião a partir de fábulas da literatura de cordel.
"Após os ataques à primeira-dama do Brasil e à nossa agremiação, convidamos publicamente a querida @janjalula para desfilar como madrinha de nossa galeria da velha-guarda no Carnaval de 2023".
Em nota, a escola também repudiou a fala da youtuber e frisou que os "ataques infundados de quem desconhece a história do Carnaval atingem não somente à agremiação mas, sobretudo, nossa comunidade, torcedores, componentes e, consequentemente, todo o mundo do samba".
Na posse do presidente Lula, Janja usou um conjunto de pantalona, colete e blazer estruturado de seda, bordado com fibras naturais, look assinado pela estilista Helô Rocha. Segundo a pesquisadora e analista de moda Paula Acioli, a escolha "reafirma sua vontade de inovar e sua preferência por grifes e temas nacionais”.
Paula chama a atenção também para o fator inovação no modelo. "Ela inova vestindo conjunto de pantalona e blazer, em vez dos tradicionais vestidos formais de primeiras-damas em posses presidenciais. Reafirma a vontade de, através da moda, valorizar o artesanato e a cultura nacional. Os simbolismos do traje parecem estar presentes em muitos elementos: desde a cor escolhida, que remete ao solo de muitas regiões do Nordeste brasileiro, ao contraste dos bordados de palha em tecido nobre como a seda. Uma sugestão de aceno à diversidade e à harmonia."
Para a stylist e consultora de moda Manu Carvalho, Janja entregou o que vem prometendo: a valorização da moda nacional e ser uma primeira-dama ativa.
"Chama a atenção o fato de ela não estar de vestido, como é comum para as primeiras-damas, e sim um terno — calça, colete e paletó —, o que a coloca lado a lado com Lula. Ela mesma já afirmou que seria uma primeira dama ativa", ressalta. "Também achei bacana o terno ser de seda, um material nobre e feminino — e tão ancestral quanto atual, tingido naturalmente."
A beleza da primeira-dama também recebeu elogios de Manu. "O rabo de cavalo no penteado também passa essa ideia de ação e trabalho, mais do que cabelos soltos", comenta. "A maquiagem também está elegante. Todas as suas escolhas foram muito corretas."
Após a polêmica, outras agremiações prestaram apoio à Imperatriz Leopoldinense. No Instagram da Unidos da Tijuca emitiu um comunicado oficial. "Detentora de oito títulos do carnaval carioca, a Imperatriz Leopoldinense é um dos pilares do movimento cultural que move o Rio de Janeiro e todo o mundo. Queríamos deixar nosso apoio e afirmar que estamos juntas na luta por respeito pelo nosso movimento. Contem com a nossa agremiação."
A Unidos de Vila Isabel, pelo Twitter, também prestou apoio. "Toda a solidariedade do Povo do Samba à irmã @oficialgresil"
O carnavalesco Leandro Vieira também se pronunciou em seu perfil pessoal, chamou Janja a participar do desfile e afirmou querer próximo somente "quem sabe da grandeza e respeita" as tradições.
Já a a Estação Primeira de Mangueira pediu respeito ao carnaval.
Também por meio de nota a Portela disse se solidarizar "à escola coirmã e à primeira-dama na certeza de que o preconceito, o racismo e a intolerância não têm lugar no carnaval, bem como em toda sociedade" e classificou os comentários de Fontenelle como "infelizes".
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