Ary Fontoura: ator tem feito sucesso nas redes ao mesmo tempo em que está no ar em reprise da novela Êta Mundo Bom! (Estevam Avellar/Globo/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de julho de 2020 às 10h51.
No ar na novela Êta Mundo Bom!, da Globo, Ary Fontoura tem feito sucesso inesperado no Instagram. Desde que iniciou seu isolamento, em março, o ator de 87 anos começou a compartilhar com o público cenas de seu dia a dia na quarentena. Fotos em que mostra praticando atividades físicas, limpando a casa, tomando sol, preparando alguma receita na cozinha, entre outros momentos triviais da vida doméstica.
Assim, com postagens simples, de incentivo, Fontoura atingiu recentemente a marca de 1 milhão de seguidores. E, sem essa pretensão, tornou-se influenciador digital. "O que mais há hoje em dia são pessoas descuidadas, andando sem máscara na rua, em aglomerações, vivendo como se não houvesse amanhã.
Como se a vida continuasse igual ao que era. Não é verdade, estamos em estado de alerta ainda. É uma das coisas que faço questão de manifestar por meio da minha página do Instagram", diz o ator, em entrevista ao Estadão, por telefone, de sua casa no Rio.
Ele conta que começou seu perfil na rede social para exibir fotos da carreira e de sua rotina. "De repente, passou a ser uma página elucidativa para muitas coisas: como estava sendo para mim, ao mesmo tempo que meu aprendizado acontecia, eu transferia para as pessoas."
São atividades que, segundo Fontoura, já faziam parte de seu cotidiano. "A gente que é ator, que tem uma longa carreira, fica sozinho em apart-hotel, tem de fazer as coisas para a sobrevivência. Então, eu sabia lavar uma roupa, fazer uma comida pelo menos uma omelete para poder ficar em pé. Isso é como escovar os dentes, é uma coisa que todo mundo tinha de aprender. Pegar uma vassoura e sair varrendo, só não faz quem não quer."
E por que ele acha que essas postagens andam tocando tanto as pessoas? "Elas acharam que eu estava fazendo um grande bem. Na verdade, estou ainda, transmitindo meu bom humor, paciência, falando que, enquanto há vida, há uma esperança muito grande.
E deu certo, as pessoas são muito carinhosas." Além disso, o ator diz que faz questão de responder aos comentários. "Mas não é tudo uma maravilha, não. Alerto todo mundo para que não se distraia, para que continue dessa maneira, porque, quando se anunciou o vírus no Brasil, a gente já sabia o que estava acontecendo lá fora. A todo momento, estou me informando e vendo notícias na televisão sobre o que está acontecendo nos Estados. Quando as pessoas saem à rua, parece que o mundo vai acabar, sai todo mundo de uma vez só. E se continuarem dessa maneira, se aglomerando, fazendo festas particulares, contrariando as determinações impostas, estão fazendo uma grande bobagem. Se usar mascara é uma necessidade, tem que colocar, sim. ‘Ah porque incomoda, porque é calor’. E daí? Incomoda muito mais ficar numa cama de hospital, sem ter como respirar."
Reprises. Ary Fontoura passou 95 dias sem sair de seu apartamento em São Paulo e, agora, está em sua casa no Rio, para onde viajou de carro e está confinado. E ali continua suas atividades diárias. Com trabalho suspenso na novela das 7 Salve-se Quem Puder, na Globo, por causa da pandemia, o ator tem também acompanhado a reprise de Êta Mundo Bom!, de Walcyr Carrasco - e exibida em 2016 -, em que faz parte do núcleo da fazenda, no papel de Quinzinho, marido de Cunegundes, interpretada por Elizabeth Savalla. Juntos, os dois protagonizam alguns dos momentos mais divertidos do folhetim. "Foi a última novela em que trabalhei com o Jorge Fernando", afirma, referindo-se ao diretor da Globo, que morreu em 2019.
Ele lembra que a ideia inicial era o núcleo da fazenda ocupar a cidade cenográfica, com ares de interior, mas que Jorge Fernando decidiu concentrar boa parte das cenas na sala da fazenda. O que foi uma solução acertada. "Isso tornou a sala da fazenda um detalhe muito rico dentro da novela. Não havia uma cena em que não tivesse, no mínimo, 10, 12 pessoas. Foi um dos grandes méritos do Jorge: abandonar aquela coisa de sair para a cidade e ficar dentro da casa. As pessoas que iam lá já chegavam com muita alegria para fazer tudo, porque a novela era cercada desse humor bem característico do Jorge e da gente", conta o ator, que contabiliza 72 anos de profissão e 54 de Globo.
Fontoura recorda-se também da companheira de cena. "Eu e a Savalla, que fazemos o casal, nos damos muito bem, estamos trabalhando juntos há muito tempo. Então, para fazer uma graça, ela me olha e eu olho para ela, e está tudo pronto. Ela é uma parceira fantástica, é muito criativa também. A novela deixa, pelo menos, as tardes das pessoas mais alegres." Também fazem parte do elenco Sergio Gizé, Eliane Giardini, Marco Nanini, Bianca Bin, entre outros.
Já no Globoplay, Fontoura está revendo outras de suas atuações marcantes: como o coronel Arthur da Tapitanga, prefeito de Santana do Agreste, em Tieta, de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzohn e Ricardo Linhares, com Betty Faria e Joana Fomm, que foi ao ar entre 1989 e 1990; e como o vilão Silveirinha, em A Favorita, de João Emanuel Carneiro, com Claudia Raia e Patricia Pillar, e exibida entre 2008 e 2009.
"Enquanto em Êta Mundo Bom! a gente relaxava para fazer tudo, e mais engraçado ficava, o contrário disso era a norma do trabalho nosso em A Favorita, tanto meu, quanto da Claudia e da Patricia. Sobretudo, nós três, que tínhamos uma tarefa maior dentro do trabalho. Então, se nós não tivéssemos nos concentrado devidamente, não teríamos conseguido fazer aquele trabalho."
Na trama, Silveirinha é o mordomo de Donatela, personagem de Claudia Raia, e comporta-se como um homem dócil. Mas é só aparência. No passado, ele foi empresário da dupla sertaneja Faísca e Espoleta, da qual Donatela fazia parte ao lado de Flora papel de Patricia Pillar. Com o fim da dupla, ele se vê obrigado a trabalhar para Donatela - e ela e Flora se tornam arqui-inimigas.
A reportagem comenta com Fontoura sobre uma dessas cenas intensas, em que Silveirinha cospe no rosto de Donatela. É o dia do rompimento entre os dois. "Estávamos tão armados para cena, que, na hora que começamos a ensaiar, fomos nos entusiasmando. Cuspi na cara dela, mas na minha cabeça a gente estava gravando. Isso estava previsto na cena, mas não no ensaio", relembra. "Quando caí em mim, pedi desculpas para a Claudia. E falamos: agora vamos fazer melhor. Aí gravamos e fizemos para valer. Depois que a novela terminou, bateu uma saudade das pessoas. Nós nos tornamos grandes amigos."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.