Semana de Moda: desfila de marcas de alta-costura em Paris mostra que as grifes estão cada vez mais distantes de peças com peles, mesmo sintéticas (Olga NEDBAEVA/AFP Photo)
AFP
Publicado em 5 de julho de 2019 às 12h53.
Depois de ter praticamente enterrado o uso de peles de animais, a alta-costura também está descartando a alternativa sintética, composta de materiais poluidores como o petróleo.
Após anunciar, em novembro, que estava abandonando as peles animais, o estilista francês Jean Paul Gaultier decidiu imitar este material de luxo com plumas, estampas e jogos ópticos em seu desfile na quarta-feira em Paris, durante da Semana de Moda da Alta-Costura.
Os gigantescos ushankas (chapéus russos com proteção para as orelhas) são de plumas rosa e turquesa, o relevo dos plumíferos evoca a pele de raposa e as manchas da pantera são reproduzidas sobre uma jaqueta acolchoada de cetim. "É uma coleção completamente sem peles", declarou à AFP o estilista, após ter trabalhado durante 30 anos com este material.
Plumas e pelo de camelo
O holandês Ronald Van Der Kemp reforça a tendência: "Não utilizo peles, ou apenas as que foram descartadas", explicou à AFP. Assim, o estilista criou um bolero e um casaco a partir de retalhos de colcha costurados para sua última coleção. "As peles falsas são as piores, ficam para sempre".
Também foi dito que no desfile de domingo da Aelis , uma túnica branca e uma jaqueta teriam sido feitas com peles, mas na realidade foram "tecidas com seda, cashmere, pelo de camelo e algodão", segundo Sofia Crociani, estilista da marca. "Proibimos os visons e as peles sintéticas, os plásticos são inaceitáveis para mim, mesmo os reciclados", acrescenta esta italiana que trabalha apenas com tecidos naturais.
A britânica Clare Waight Keller, diretora artística da Givenchy, descartou voltar a utilizar peles falsas após tê-las utilizado em uma coleção em 2018. O material mais usado agora são as plumas, seja para chapéus punk ou para scarpins.
As peles falsas são "uma boa alternativa às peles animais (...) mas não é a melhor solução do ponto de vista do meio ambiente. Prefiro esperar que se encontre um material melhor", explicou recentemente à revista especializada WWD.
"Sem sentido"
"É absurdo utilizar peles feitas com petróleo", ressalta o italiano Maurizio Galante. Em um conjunto "pantera" que evoca um antigo deus asteca, a pele do animal é imitada a partir de bordados e tecidos sobrepostos, com fios que rodeiam as manchas negras.
"As peles não têm lugar na vida diária. É um pouco como os chapéus que meu avô usava. Os usava como um gesto (para cumprimentar) e hoje em dia isso já não tem sentido". "O mundo muda", afirma este italiano, citando a preocupação pelo clima e o respeito aos animais.
O estilista francês Julien Fournié abandonou as peles há cinco anos. Embora ele adore sua estética, as clientes não. "As clientes não compram peles, de modo que não vou perder tempo", declara à AFP o estilista, que utiliza no lugar plumas e fios de pesca.
Acrescenta também que "as peles de verdade são mais ecológicas que as sintéticas, dado que se necessitam quase 6.000 anos para destruir as sintéticas e só 600 para naturais".
Apesar da ausência de peles nas passarelas, o porta-voz da Federação Francesa de Ofícios das Peles, Pierre-Philippe Frieh, afirma que o mercado se mantém. "O motivo pelo qual não se veem peles nos desfiles é porque os estilistas querem evitar a violência e o assédio dos ativistas antipeles", declara. "As pessoas não se atrevem a usá-las na rua porque há um clima de terror". Afirma que o "mercado se mantém" e comemora que os jovens estilistas do prêt-à-porter masculino, como Virgil Abloh para Louis Vuitton e Kim Jones para Dior, trabalhem com peles.