Pedro Almodóvar: cineasta espanhol acredita que sua mais recente produção poderá faturar uma estatueta na premiação mais importante do cinema (Jerod Harris/Getty Images)
EFE
Publicado em 28 de setembro de 2019 às 15h08.
Nova York – Pedro Almodóvar diz que não gosta de teorizar nem fazer futurologia, mas em entrevista à Agência Efe antes da apresentação do filme "Dor e Glória" no Festival de Cinema de Nova York, opina que o seu último filme tem muita chance de conquistar uma estatueta do Oscar.
"Acredito que estamos muito bem cotados", afirmou o diretor em um central e colorido hotel de Manhattan a um dia da estreia da obra nos Estados Unidos, a cujos cinemas chegará na próxima sexta-feira.
O cineasta deixa muito claro que não quer se antecipar, porque, segundo ele, depois a realidade pode trazer um desgosto, mas destacou que o que a imprensa vem dizendo soa bastante promissor.
"A partir de agora, já começa o que eles (a imprensa) chamam de 'Oscar Race', a corrida pelo Oscar, e todos têm as suas apostas e as suas previsões", explicou Almodóvar, que já tem duas estatuetas.
O filme foi selecionado para representar a Espanha na categoria de melhor filme estrangeiro. No páreo, três títulos soam com força e, em sua visão, "com grande diferença em relação ao restante": "Parasitas", do sul-coreano Bong Joon-ho, "Les Misérables", do francês Ladj Ly, e "Dor e Glória".
"É o que há na mídia, mas às vezes eles também se equivocam. Não é a bíblia, não é uma ciência exata, mas acho que estamos muito bem cotados", repetiu.
Além disso, acredita que o protagonista de sua obra, Antonio Banderas, também desponta nas apostas: "O que posso dizer é que em todas as apostas de todos os veículos de imprensa Antonio está entre os cinco 'frontrunners', os favoritos. Não vi uma lista na qual Antonio não aparece", enalteceu.
Mas Banderas, com quem não trabalhava fazia nove anos e cujo papel foi descrito pelo New York Times como "sublime", não é o único candidato para levar um Oscar. O papel de Almodóvar, tanto de diretor quanto de roteirista, também aparece entre os prediletos da crítica.
"Em muitas delas, tal qual li, eu como diretor e como roteirista não estou entre os cinco, estou no número sete ou oito em várias delas. Isso é o que leio, então dá esperança", admitiu.
Embora os americanos conheçam bem o seu cinema, como testemunham o Oscar que levou por "Tudo sobre Minha Mãe" (1999) e "Fale com ela" (2002), Almodóvar acredita que voltou a surpreender a crítica e o público de forma positiva com o seu último filme.
"Pensava que seria ao contrário, que por ser um filme tão íntimo e tão pessoal despertaria menos interesse de uma forma geral, na Espanha e no resto do mundo. Mas justamente o fato de que a minha intimidade se reflita de um modo tão claro no filme fez com que as pessoas a vejam mais próxima", analisou.
A particularidade, o caráter pessoal, foi a que fez Almodóvar hesitar quando estava escrevendo o roteiro e sentir o que chamou de vertigem.
"Não sabia se deveria continuar, porque sou uma pessoa com muito pudor, e significava buscar muito dentro de mim os grandes elementos que fazem com que a história seja a história que conto", confessou.
"Há determinadas sequências que refletem momentos claros da minha vida, mas quando já se está com metade do roteiro escrito há uma distância suficiente, como se não estivesse mais falando de mim", completou.
Após o projeto pessoal, e depois de ter completado 70 anos na última quarta-feira, Almodóvar vê ainda distância uma possível aposentadoria. "Os anos mais maduros de um cineasta vêm a partir dos 60", justificou.
"Não há a mesma noção de aposentadoria que em outras profissões. No meu caso, não me cansei desta profissão. Ao contrário, continuo sentindo quase mais paixão que no início. Continuo escrevendo, pensando em futuros projetos. Por enquanto, enquanto o público não se retirar, até que ninguém vá mais ver algum dos meus filmes, eu continuarei aqui", prometeu. EFE