O cineasta espanhol Pedro Almodóvar: ele sofreu tentativas de abuso na infância (Jerod Harris/Getty Images/AFP/Getty Images)
EFE
Publicado em 10 de maio de 2019 às 07h00.
Última atualização em 10 de maio de 2019 às 07h00.
O cineasta espanhol Pedro Almodóvar confessou que foi vítima de diversas tentativas de abuso no colégio de padres em que estudou quando era criança durante uma entrevista divulgada pela edição italiana da revista "Vanity Fair" nesta quarta-feira.
"No colégio ocorriam muitos abusos, sobretudo com os meninos menores. Eu tinha dez anos e passava ali as 24 horas do dia. No quarto, de noite, contávamos nossas experiências", reconheceu o cineasta.
"Lembro de pelo menos 20 meninos que viviam no colégio e tinham sido abusados. Tentaram também comigo, mas sempre consegui escapar. Havia um padre no pátio que sempre me dava a mão para que a beijasse. Nunca o fiz. Fugia. Tínhamos muito medo", contou o aclamado diretor.
Almodóvar falou sobre essas lembranças na entrevista para promover seu último filme, "Dor e Glória", com o qual concorrerá no Festival de Cinema de Cannes.
O cineasta também criticou a gestão da Igreja nesses casos. "Os rumores de abusos ultrapassaram os muros do colégio e como os casos eram tão concretos e muitos, a direção dos salesianos teve que intervir", relembrou Almodóvar.
"E daí, o que fizeram? Enviaram os responsáveis pelos abusos a um internato para adolescentes. Sem punição", denunciou o diretor, que tratou sobre o tema em filmes como "Má Educação" (2004).
Além disso, Almodóvar se referiu à responsabilidade do Vaticano. "Não sei se o papa está fazendo uma revolução ou se não está fazendo nada. O que sei é que não está fazendo o suficiente, não só contra os abusos, mas sobre a sexualidade dos padres", opinou o diretor espanhol.
"Tenho certeza que se aceitasse o fim do celibato, 90% dos abusos desapareceriam", disse Almodóvar, depois de assegurar que "homens e mulheres têm desejos que não podem evitar".
Por fim, o cineasta reprovou o papel que a Igreja dá às mulheres. "Em um momento histórico no qual o feminismo levanta a cabeça, a Igreja segue considerando as freiras como seres inferiores, sem qualquer direito".