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A realidade se entedia com a ficção

No cinema, o rótulo 'baseado em fatos reais' pode ser atrativo porque provoca polêmica

Benedict Cumberbatch  (Foto cedida pela DreamWorks)

Benedict Cumberbatch (Foto cedida pela DreamWorks)

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Da Redação

Publicado em 28 de dezembro de 2013 às 09h50.

"Acho que é uma boa pessoa, mas não acho que este seja um bom filme. Deveria reconsiderar sua participação nesta iniciativa". O fundador do Wikileaks, Julian Assange, respondeu assim ao pedido do ator Benedict Cumberbatch, que tinha pedido uma reunião para ajudar a construir o perfil do seu personagem em "O Quinto Poder", filme que conta a história do escândalo Wikileaks.

O "não" foi categórico. O pedido ao ator britânico para que abandonasse o filme foi direto, incisivo e inclusive, até um pouco desesperado. O que faz com que o homem que empalideceu o governo mais poderoso do mundo se mostre tão vulnerável diante dos efeitos que pode ter um filme de duas horas?

A influência do cinema, como bem se sabe, é imensa. E se vem acompanhado do rótulo "baseado em fatos reais", é seguro que muitos dos espectadores que vão às salas de cinema interiorizem o que veem na tela como algo verdadeiro, sem sentir a necessidade de ir a diferentes fontes para saber a verdade história por trás da narrativa.

Por isso, a polêmica se apresenta como companheira inseparável dos filmes que, teoricamente, contam histórias reais. Os exemplos de personalidades insatisfeitas que discordam de como foram refletidos na ficção são muitos.

Muitas vezes, as queixas só conseguem fazer aumentar a popularidade do longa, mesmo que não tenha sido este o caso de "O Quinto Poder". As tentativas de boicote por parte de Assange e do Wikileaks em geral deram resultado: o filme foi mal na bilheteria no fim de semana de sua estreia, obtendo o pior dado de 2013 em produções lançadas em mais de 1.500 cinemas.

O desastre foi precedido do vazamento do precedido da vazamento do roteiro pelo Wikileaks e as críticas da organização, que insistiu que o filme era "irresponsável e daninho", um "ataque em massa de propaganda" e que só se baseava em livros de pessoas que têm "disputas pessoais e legais" com o Wikileaks.

UMA QUESTÃO DE ESTADO

A acusação de que as películas só mostram um dos lados da história é uma das queixas mais recorrentes. Vencedor do Oscar de melhor filme, "Argo", que narra a missão de resgate de seis americanos durante a Revolução iraniana de 1979, recebeu críticas do Irã, que segundo o governo o que foi retratado na tela "promovia sentimentos contra a República Islâmica".

Mas as queixas não se ficaram em palavras: o filme foi proibido no país, e em janeiro se anunciou que se estava trabalhando em outro filme, intitulado "Setad Moshtarak" (sem título em português), para contar a história do ponto de vista iraniano.

"A Hora Mais Escura" é outra amostra de como um filme pode pôr alerta todo um país. Dirigido por Kathryn Bigelow, o relato sobre a busca e captura de Osama bin Laden chegou a despertar os receios do diretor da CIA, Michael Morell, que levantou a voz para denunciar que as torturas não tiveram um papel tão importante para encontrar Bin Laden como mostra o filme, e que os criadores tinham tomado muitas "liberdades na hora de retratar os agentes da CIA envolvidos", especialmente "daqueles que morreram" na ação.

As cenas das torturas se transformaram na arma usada com mais frequência pelos críticos de "A Hora Mais Escura", entre os que se encontram, além de Morell, altos líderes políticos.

[quebra]

Este é o caso de três senadores americanos, que escreveram uma carta à Sony Pictures criticando a má imagem que se dava a Agência de Inteligência e dizendo que a parte do longa em que apareciam as torturas não era "baseada em fatos ", mas parte da ficção da fita.

"BIOPICS" NO ALVO

Os filmes biográficos constituem outro nicho em que a polêmica aparece facilmente. Centradas em um só personagem, são frequentemente atacados pelo protagonista em questão ou, se morto, por seus parentes. Além disso, neste tipo de longa costuma haver costuma haver um espaço reservado para mostrar a vida privada do personagem, momentos nos quais os roteiristas, inevitavelmente, têm que lançar mão da imaginação.

Daí por exemplo vieram as primeiras críticas à "Diana", em que Naomi Watts dá vida a Diana de Gales. O filme se centra nos últimos anos da vida da princesa e especialmente, em sua história de amor secreta com o cirurgião Hasnat Khan.

Evidentemente, aconteceu o inevitável: Khan mostrou seu desacordo com a trama. "Só meus amigos mais próximos e eu sabemos o que passou em nossa relação", desabafou ao jornal britânico "The Sun", e ressaltou que "Diana" dá uma visão errônea da atitude que sua família diante de sua relação com a princesa.

Outro filme biográfico relacionado à realeza que não está se saindo bem é "Grace of Monaco" (ainda sem título em português). Aos problemas técnicos – os atrasos na data de estreia e os conflitos entre o diretor, Olivier Dahan, com o produtor Harvey Weinstein – se soma o descontentamento da família Grimaldi.

Os filhos da musa de Hitchcock, o príncipe Albert de Mônaco e as princesas Carolina e Stephanie, emitiram um comunicado oficial no qual se queixavamdo filme, dizendo que a vida de sua mãe aparece "glamourizada", e que há "inexatidões históricas", com cenas cujo conteúdo pode ser qualificado de "pura ficção".

Diante das críticas da família real do principado, o diretor se defendeu argumentando que, "certamente, há inexatidões", mas que elas servem para favorecer o desenvolvimento da história. "Não sou jornalista nem historiador. Sou um cineasta", disse Dahan em entrevista concedida ao "Journal du Dimanche".

ACIMA DA POLÊMICA

Mas nem todo mundo entra no jogo de reprovação criado ao redor destes filmes. E se não, que o diga a Mark Zuckerberg, que reagiu suavemente diante de "A Rede Social", apesar de o filme, que conta o processo de criação do Facebook, mostrá-lo como um jovem vaidoso, carente e inábil nas relações sociais. O fundador da rede social mais popular do mundo se manteve em um discreto segundo plano quando o longa chegou às telas, e se limitou a fazer críticas de sob tom.

"A base sob a qual se constrói todo o filme é que estou com uma menina que não existe na vida real... e que me deixa. O que se passou muitas vezes na minha vida real", brincou em uma conversa na Universidade de Stanford, na Califórnia.

Meses depois, fez uma aparição com Jesse Eisenberg, seu alterego na ficção, no programa de televisão americano "Saturday Night Live". Talvez, neste caso, Zuckerberg esteja certo e o melhor seja levar com um pouco de humor.

Por Isabel Reviejo García

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