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A marca que mais vende carros elétricos no mundo aposta no Brasil. E não é a Tesla

A BYD quer ser tão conhecida por aqui quanto a Apple e a Amazon e mudar o mercado automotivo brasileiro, diz Stella Li, presidente da montadora para a America

Modelo HAN EV da BYD: foco no segmento premium (BYD/Divulgação)

Modelo HAN EV da BYD: foco no segmento premium (BYD/Divulgação)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 3 de maio de 2023 às 06h30.

Tesla chinesa pode parecer um apelido pretensioso, mas tem o seu porquê. A BYD foi a marca que mais vendeu carros elétricos do mundo em 2022. Foram 1,8 milhão de unidades, metade híbridos, metade 100% elétricos, um crescimento de 150% em relação ao ano anterior.

Com números tão superlativos, entende-se que a expectativa para a operação brasileira seja alta. A meta para cá, não confirmada oficialmente pela marca, é de produzir 30.000 veículos por ano, entre SUVs, picape e um modelo de porte médio com versões híbridas e elétricas.

Para isso, estima-se que a empresa terá de investir 3 bilhões de reais na instalação de fábricas no Brasil. A aposta mais certeira é a antiga instalação da Ford, em Camaçari, na Bahia, sem atividade desde janeiro de 2021. Outra possibilidade seria a construção do zero de uma planta também na Bahia.

Stella Li, presidente da BYD Americas e vice-presidente executiva da BYD Mundial, conta a seguir os planos para o Brasil.

Stella Li, presidente da BYD Americas e vice-presidente executiva da BYD Mundial

Stella Li, presidente da BYD Americas e vice-presidente executiva da BYD Mundial: confiança no mercado brasileiro (BYD)

A BYD já possui cerca de 1000 carros vendidos e 22 concessionárias no Brasil. Quais as metas para este ano e para os próximos?

A meta é tornar a BYD uma marca presente no dia a dia do Brasil, o mercado mais importante da América Latina. Fazer da pronúncia destas três letras algo tão corriqueiro como falar Apple, Amazon ou McDonalds. Apresentar a BYD não apenas como uma montadora, mas sim uma referência de tecnologia, de inovação, de cuidado com o planeta, de um futuro já presente. Em paralelo, vamos expandir nossa rede para fechar o ano com 100 lojas e pavimentar um caminho em busca da liderança do setor nos próximos anos, não só de eletrificados, mas de automóveis como um todo.

A BYD prevê três lançamentos por trimestre. Que modelos estão disponíveis e quais virão?

Temos já disponíveis os modelos da nossa linha Dinastia, a SUV Tan, de 7 lugares, e o sedã Han como nossos modelos flagship. O Song Plus DM-i é nossa SUV média, um carro híbrido que tem recebido uma resposta excelente. O Yuan, também uma SUV média, é 100% elétrico. Chegam nos próximos meses ao mercado os modelos da nossa linha Ocean: o Dolphin, um hatch moderno e ousado, o Seal, sedã esportivo com design arrojado, e o Seagull, que na China custa o equivalente a 57 mil reais e deve desembarcar aqui também num preço competitivo, com potencial enorme para ser o primeiro carro elétrico de muitos brasileiros.

A rede deve dobrar de tamanho e ter um crescimento de vendas de três dígitos. Isso em quanto tempo?

A ideia é alcançar estes números nos próximos dois ou três anos. A instalação de uma fábrica no Brasil e a sinalização do presidente da República, em recente viagem à China, de investir fortemente em condições que favoreçam o mercado de veículos eletrificados – infraestrutura de recarga, incentivos fiscais, negociação de frotas, tendo como contrapartida a geração de empregos – nos indicam que nossa meta é viável.

 Acredita que a BYD vai alterar o mercado automotivo brasileiro?

Estamos certos disso. E animados. Toda vez que alguém pensar no Brasil em carro com alta tecnologia, conforto, design e que respeita o planeta, vai pensar em BYD. E vai se dar conta de que é uma proposta que vai além do veículo em si. Inclui uma solução completa de abastecimento com energia limpa, bateria segura e um modelo que pensa a mobilidade urbana como um todo – com ônibus elétrico e monotrilhos.

Orgulho da origem chinesa

Os carros da marca partem de 300.000 reais. O Brasil é um mercado promissor para carros premium?

O Brasil é um mercado promissor em todas as faixas, mas queremos nos estabelecer de fato como uma marca premium. O que o consumidor precisa saber é que em pouco tempo vai encontrar na linha BYD modelos que contemplem diversos tamanhos de orçamento pessoal. O que temos de melhor a oferecer estão nos nossos veículos premium, mas a bateria blade, o design, o piloto automático adaptativo, tudo isso está em todo o line up.

Como acredita que os consumidores brasileiros enxergam os carros chineses?

Nós não temos problema algum em assumir com orgulho nossa história e nossa origem chinesa, mas é importante salientar que a BYD é uma força global e uma empresa de inovação tecnológica, não simplesmente uma montadora. Um recorte que contemple apenas “fabricante de carros chineses” diminui substancialmente a abrangência do que a BYD oferece aos brasileiros e ao resto do mundo.

Qual será o público da BYD no Brasil?

O público apaixonado por tecnologia e, em última análise, pela preservação deste planeta, não é? A BYD é um grupo com 70.000 engenheiros nos seus quadros. Uma empresa que se tornou a maior fabricante de máscaras faciais em um mês numa resposta comovente à pandemia que assolou o mundo. Nós entendemos que essa aposta na inovação, no desenvolvimento tecnológico em diversas frentes, vai tornar o mundo dos nossos filhos e netos efetivamente melhor. Se você pensa assim, seu próximo carro certamente será BYD. Se você se locomove por transporte público, vai cobrar das autoridades ônibus elétrico ou vai embarcar num meio que não polua. Vai apostar no sol, especialmente no Brasil, como fonte de energia. Esse é nosso público.

A BYD terá no Brasil o mesmo status de marcas que vendem carros nessa faixa de preço?

Novamente devo enfatizar que não somos apenas uma marca de automóveis, mas uma empresa tech. Assim queremos construir nossa história no Brasil e estabelecer nossa marca. Neste sentido, penso que a BYD vai ter um status diferente das marcas que vendem carros.

A fábrica no Brasil

A BYD é chamada de Tesla chinesa. O Brasil já conta com infraestrutura suficiente para comportar um investimento de uma montadora em carros elétricos?

Recebemos firme sinalização do governo brasileiro de que haverá investimentos na infraestrutura que cerca a indústria de veículos eletrificados, seja na criação de uma extensa malha de carregadores num país continental como Brasil ou na redução, mesmo a isenção, de pagamento de IPVA etc. A utilização de energia limpa é um caminho inevitável e sem volta. A pergunta não é se, mas sim quando seremos um planeta assim. E a resposta é: logo.

Como estão os planos para aquisição de uma fábrica no Brasil?

Estamos confiantes na instalação de uma fábrica em breve no Brasil, com o começo da operação 18 meses depois do acordo fechado. É o mercado mais importante da América Latina e uma linha de produção que atenda os brasileiros faz todo o sentido. Não é só o apelo comercial, no entanto, o que nos motiva. A BYD acredita que pode fazer diferença no Brasil num sentido mais amplo. Gerar emprego, oferecer alternativas de consumo sustentável sem abrir mão de alta tecnologia, ajudar a estabelecer e a consolidar a ideia de que o país da Amazônia, do Pantanal, de uma das costas litorâneas mais lindas do mundo pensa, age e vive para preservar esta natureza toda.

O outro grande investimento de uma montadora no Brasil atualmente é de outra empresa chinesa, a GWM. Em que as empresas se diferenciam?

Posso falar pela BYD, que, como disse, não se posiciona simplesmente como uma fabricante de carros, mas como uma potência global de inovação tecnológica. Veículos movidos a energia limpa são uma parte do que oferecemos.

A BYD tem a missão de diminuir a temperatura do planeta em um grau. Como?

Com todo esse catálogo de produtos, abordagens e profissionais sobre os quais conversamos nesta entrevista. Carros elétricos, energia limpa, sol, baterias seguras e de altíssima performance, o equivalente a um Maracanã inteiro, lotado de engenheiros, pensando hoje em como vai ser o amanhã daqui a dez anos.

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