Carla Moraes: viagens a Itaúnas para dançar. (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Casual
Publicado em 19 de outubro de 2024 às 07h18.
Saia longa, cabelos soltos e postura relaxada. Assim são os momentos de Carla Moraes, vice-presidente de vendas de serviços financeiros na Oracle, quando está dançando forró. A relação da executiva com a música começou ainda na infância. Ela ingressou em aulas de piano clássico aos 10 anos, por incentivo da mãe. Em casa, as tias costumavam dar festas com cantorias e o pai adorava frequentar bailes e rodas de samba. Ainda que tenha se formado em piano clássico, Moraes seguiu a carreira corporativa. Mas, com o passar dos anos, reencontrou o interesse pela música com o forró.
Em 2018, a convite de uma amiga em comum, Moraes foi à casa de shows Canto da Ema, em São Paulo. Antes da apresentação, fez uma aula rápida de dança e já estava pronta para aproveitar a noite. “Entendi que ali havia uma relação mais lúdica e leve de dançar”, diz. Em outra noite no mesmo lugar, encontrou um grupo se divertindo e descobriu que era uma formatura de escola de dança. “Eles dançavam lindamente. Pedi o contato e no dia seguinte estava matriculada nas aulas da escola Pé Descalço. Foram dois anos de prática até o início da pandemia, quando fiquei dois anos sem dançar.”
Moraes também encontra no espaço da dança uma libertação dos padrões. “Não tem uma imposição de corpos com estética perfeita, ou uma competição para ver quem dança melhor. Gosto muito dessa comunidade, às vezes ia dançar no Centro Cultural São Paulo para ensaiar os passos perto da prova. Deixava minha roupa de executiva no carro, pois é preciso ir com um estilo mais desconstruído, sempre tomo cuidado para não destoar do grupo”, diz.
Assim como alguns esportes de luta, a escola de Mo-raes também possui graduações por nível: transparente, branco, azul, azul avançado, preto, preto avançado, vermelho. “Eu estou no nível azul avançado”, diz a executiva, que já sente ter atingido um grau razoável de aprendizado. “Os níveis preto e vermelho significam que a pessoa já tem um estilo próprio de dançar.”
Durante as visitas semanais às apresentações, a executiva tem lembranças da educação musical. “Às vezes eu me vejo no forró separando o triângulo, o violino, a zabumba, o acordeão nas músicas, é uma superterapia. Enxergo a música na partitura, não sei se eu gosto mais de dançar ou de ouvir a música. Mas tenho esse exercício de parar para ver a vida em retrospectiva. Quando comecei o piano, mal tinha 10 anos de idade, e hoje estou com 52 anos, muita coisa aconteceu de lá para cá”, diz.
Os roteiros das férias da executiva também têm envolvimento com o gênero musical. Geralmente cidades da Região Nordeste entram com prioridade na lista. “Fui para Itaúnas, no Espírito Santo, pois o estilo pé de serra é famoso por lá, mas não conseguia dançar de tão difícil que achei. O Brasil é gigante. Dependendo de onde você vai, há um estilo muito específico de dançar. Em uma viagem à Paraíba dancei com os indígenas, e é uma forma de dançar diferente, que usa mais as pernas, com pouco uso da parte superior e sem rodados. Mas também gostei desse estilo.” Caraíva, Fernando de Noronha e Porto de Galinhas também são destinos já visitados por Moraes para dançar forró.
“O forró é uma continuação mais lúdica da música. A vida às vezes é estressante, em que você fica representando um papel por muito tempo, não apenas profissional. A atividade física e a dança dão uma sensação de juventude e te -fazem mover o corpo sem limitação de movimentos”, diz a executiva, que desde 2022 comanda a área de serviços financeiros na Oracle. A empresa de tecnologia em nuvem fundada há 46 anos fornece infraestrutura de computação e software para ajudar companhias a inovar, desbloquear eficiências e se tornar mais eficazes por meio do gerenciamento de bancos de dados e servidores. Com mais de 135.000 funcionários, a Oracle comercializa seus produtos em 145 países e atende 400.000 empresas e organizações. “Nas minhas apresentações de liderança, sempre colocava uma foto minha dançando forró. Também avisava que costumo frequentar o Canto da Ema, para ninguém ser pego de surpresa se fosse lá. Comecei a falar mais sobre o forró para desconstruir a ideia de que um líder só pensa em trabalho. Não sou só a tecnologia, não sou só piano. As pessoas tentam encaixar tudo em apenas uma caixinha. Eu deixo o convite para as pessoas virem ao forró dançar e conhecer como é esse estilo de vida.”